A descoberta pode ajudar a explicar por que, por exemplo, as vacinas contra a covid-19 parecem ser menos eficazes em algumas pessoas.
Ao mesmo tempo, aponta para a possibilidade de identificar e recuperar anticorpos particularmente eficazes de indivíduos e usá-los para curar outros.
No dia a dia, o nosso corpo é confrontado e atacado por muitos germes que usam truques engenhosos para entrar no nosso corpo, com o objectivo de assumir o controlo. Felizmente, temos uma defesa poderosa: o nosso sistema imunitário.
Com um sistema imunitário a funcionar bem, podemos combater a maioria dos germes que se aproximam de nós de forma contínua e agressiva. Parte do nosso arsenal de armas para neutralizar os germes invasores são moléculas de proteínas chamadas anticorpos. Esses anticorpos são abundantes no sangue, fluindo por todo o nosso corpo, formando a primeira linha de defesa quando um novo germe desagradável aparece.
Cada germe diferente requer um arsenal diferente de armas (anticorpos) para combatê-los com mais eficiência. Felizmente, o nosso corpo forneceu-nos meios de fazer milhões ou até mil milhões de anticorpos diferentes, mas nem todos podem ser feitos ao mesmo tempo. Frequentemente, os anticorpos específicos são produzidos apenas em resposta a um germe específico.
Se formos infectados por bactérias, começamos a produzir anticorpos para atacar e matar essas bactérias. Se formos infectados pelo coronavírus, começamos a produzir anticorpos para neutralizar esse vírus. Quando infectados com o vírus da gripe, novamente produzimos outros.
Não se sabia quantos anticorpos diferentes são produzidos num determinado momento e, portanto, estão presentes no nosso sangue. Muitos cientistas estimam que seja mais de vários mil milhões e, portanto, quase imensurável.
De acordo com o site zap.aeiou.pt, usando algumas gotas de sangue e uma técnica chamada espectrometria de massa, uma equipa de investigadores foi capaz de capturar e medir o número de diferentes anticorpos no sangue e também avaliar a concentração exacta de cada um deles.
Duas surpresas
Embora teoricamente o nosso corpo tenha a capacidade de produzir biliões de anticorpos diferentes, uma primeira surpresa surgiu quando os cientistas notaram que, na corrente sanguínea de pessoas saudáveis e doentes, apenas algumas dezenas a centenas de anticorpos distintos estavam presentes em altas concentrações.
Monitorizando estes perfis a partir de apenas algumas gotas de sangue, os cientistas ficaram surpreendidos pela segunda vez quando notaram que a maneira como o sistema imunitário responde aos germes varia muito de pessoa para pessoa, com o perfil de anticorpos de cada pessoa sendo único.
E as concentrações desses anticorpos mudam de maneira única durante a doença ou após a vacinação. Os resultados podem explicar por que algumas pessoas são mais propensas a adoecer de gripe ou covid-19, ou por que recuperam mais rápido de algumas doenças do que de outras.
Este novo estudo, publicado na revista científica Cell Systems, cria oportunidades para criar vacinações e medicamentos ideais para o sistema imunitário de um determinado indivíduo.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1035 de 29 de Setembro de 2021.