"As operadoras de telecomunicações estão a transformar-se em supercomputadores. Precisamos de um mundo muito mais equilibrado. Este novo mundo precisa de colaboração. E para colaborar é preciso que todos contribuam com uma parte justa no esforço", afirmou o presidente da Associação Mundial de Operadores Móveis (GSMA, na sigla em inglês), José María Álvarez-Pallete, na abertura do World Mobile Congress (WMC).
O presidente da GSMA, que organiza a feira de telecomunicações que se reúne anualmente em Barcelona, defendeu que esta colaboração deve concretizar-se de forma rápida, perante um "tsunami de inovação" a que se assiste por todo o planeta.
As empresas de telecomunicações reclamam que as grandes tecnológicas, que geram uma enorme quantidade de dados que circulam pelas redes, contribuam para o financiamento dos investimentos destas infraestruturas.
Segundo Álvarez-Pallete, que é também presidente da espanhola Telefonica, as empresas de telecomunicações de todo o mundo "já investiram cerca de 3.600 milhões de dólares [valor semelhante em euros] nos seus serviços fixos e em redes móveis".
"Penso que estamos na porta de entrada para uma nova era" que "requer uma mudança radical" face aos desafios que o sector enfrenta, insistiu José María Álvarez-Pallete, que acrescentou estar, porém, optimista em relação à indústria das telecomunicações, marcada actualmente por um "tsunami de inovação".
Também presente no arranque da edição deste ano da WBC, o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, pediu um debate "sério" sobre os obstáculos à consolidação transfronteiriça na União Europeia (UE) das operadoras de telecomunicações e fornecedoras de serviços digitais em geral.
Breton considerou que estão em causa obstáculos que limitam o potencial da Europa, com um mercado interno de 440 milhões de pessoas, em relação a outros continentes.
O comissário referiu também a consulta lançada pela Comissão Europeia sobre a questão do financiamento dos custos das redes de telecomunicações (as infraestruturas) e negou que esse debate abra uma batalha entre gigantes tecnológicos e grandes empresas de telecomunicações.
"Há muito mais em jogo. Não se trata saber se um interesse deve prevalecer sobre outro. Trata-se de conseguir dar o grande salto de conectividade que temos pela frente", defendeu.
O comissário afirmou que aquilo que se procura é encontrar um modelo de financiamento para os investimentos necessários em infraestruturas de maneira a respeitar os valores fundamentais da Europa, que são a liberdade de escolha do utilizador final e de haver terrenos de jogo equitativos.
Além de ser uma feira de negócios, a Mobile World Congress é também um fórum de debate sobre a indústria e o seu futuro, com esta 18.ª edição a ter como lema a palavra "Velocity" ("velocidade") e a focar-se em temas como "a aceleração do 5G", os serviços financeiros tecnológicos ('fintech'), realidade virtual, redes abertas (OpenNet) e indústria 4.0 (também conhecida como quarta revolução industrial e relacionada com o aumento da interconectividade e a inteligência artificial).
Segundo dados da organização da MWC, estarão em Barcelona mais de 2.000 empresas de 200 países e territórios e são esperados 80 mil visitantes, mais 20 mil do que em 2022, fruto do regresso à feira dos mercados asiáticos, após o fim das restrições impostas por causa da covid-19.
Ainda assim, o número de visitantes deste ano da feira ficará aquém dos 109 mil que passaram pela MWC em 2019, a última edição antes da pandemia.
As autoridades espanholas estimam um impacto económico da World Mobile Congress na cidade de Barcelona e arredores de 350 milhões de euros, com o evento a criar 7.400 postos de trabalho temporários.