O primeiro fuel do mundo 100% sustentável é português

PorExpresso das Ilhas,3 mar 2023 9:27

O primeiro combustível do mundo 100% sustentável é produzido em Portugal, mais precisamente no estuário do Sado, junto aos estaleiros navais. A Eco-Oil é a empresa produtora do Eco-Green Power que em Agosto de 2022 recebeu o certificado de garantia de redução de emissões de CO2 em 99,75%.

A proporção é simples: por cada tonelada de fuel “limpo” que vai para o mercado, é menos uma tonelada de combustível fóssil que se usa.

Em conversa com a Líder Magazine, Nuno Matos, Director geral da PME portuguesa, diz que a Eco-Oil nasceu em 2001, no escopo do tratamento de águas contaminadas, e pela mudança do estaleiro de reparação naval da Lisnave, de Lisboa para Setúbal.

“Somos uma pequena PME, com 21 trabalhadores. Por se tratarem de resíduos muito perigosos, o processo é totalmente automatizado, e a estrutura é, por isso, reduzida. Apostamos muito da automatização e na formação de quadros especializados”, disse.

Nas suas instalações, a Eco-Oil recebe e trata as águas com hidrocarbonetos, provenientes dos navios que vão reparar e que não podem ter no seu interior resíduos inflamáveis ou explosivos.

Dessa matéria, 85% é água e 15 % são hidrocarbonetos. Conforme explica ao Lider, a água, depois de tratada, é devolvida ao mar.

“A prova que a nossa actividade, altamente regulamentada, não perturba o meio ambiente é a comunidade de golfinhos do Sado que nos visita e aqui vem em busca do choco para se alimentarem”, assegurou.

Nuno Matos conta que em 2012, os hidrocarbonetos foram considerados um produto, e não um resíduo o que fez abrir um mercado em concorrência directa com o fuel que vem das refinarias.

“Percebemos esse potencial e a oportunidade de desenvolvimento tecnológico desse resíduo. Com um investimento grande, em colaboração com a Academia, aumentamos a qualidade do combustível, com novas aplicações, e daí criamos, em 2019, o Eco-Green Power”, contou.

Segundo explicou, trata-se de um combustível que substitui integralmente o que sai de uma refinaria, ou seja, por cada tonelada que a empresa introduz no mercado, evita uma tonelada de combustível fóssil.

Director geral da PME portuguesa avança que com esta marca, a empresa identificou oportunidades no âmbito da descarbonização e dos pressupostos da Economia Circular (EC), e percebeu a necessidade da certificação deste combustível como sustentável.

“E assim, em Agosto de 2022, fomos o primeiro a ter a designação de sustentável e a classificação do ISCC (International Sustainability and Carbon Certification)”, frisou.

Por ser feito a partir de um resíduo, esclarece que este fuel não tem pegada de carbono, uma vez que, por definição, os resíduos não têm incorporação de CO2.

O Eco-Green Power foi o primeiro combustível que teve a autorização e garantia de redução de emissões de CO2 em 99,75%, segundo Nuno Matos.

“Outros irão seguir o que estamos a fazer, mas a Eco-Oil foi a primeira empresa a identificar a oportunidade e a certificar o processo produtivo. Pertencemos à Euroshore, organização europeia de tratamento de resíduos navais, que congrega as principais empresas deste setor, e dentro deste conjunto, somos os únicos a ter marca própria de combustível. Nos outros países, as empresas estão mais preocupadas com a recolha destes resíduos, e esse trabalho continua a ser feito por nós, pois é isso que alimenta o processo”, acrescentou.

Ao Lider Magazine, Nuno Matos declarou que 2022 foi muito disruptivo na área da energia, tal como para todas as empresas, com os aumentos dos custos associados aos consumos.

No caso da Eco-Oil, teve um problema grave de acesso à matéria-prima, já que estes resíduos combustíveis desapareceram do centro da Europa e cerca de 90% do combustível que produz é a partir de matéria-prima importada.

“Para 2023 esperamos um período mais calmo, com novas oportunidades de importação de resíduos, e um crescimento de cerca de 30% ao nível da produção dos nossos combustíveis assentes na consciência ambiental e transição energética. Este produto abriu portas para novos mercado, com a capacidade de chegar a alguns setores, só é possível por sermos um combustível “limpo”. Somos hoje a solução para algumas indústrias, como o setor têxtil, que ao consumir esta energia está a descarbonizar e a não carregar, ainda mais, a pegada de carbono”, finalizou.

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Autoria:Expresso das Ilhas,3 mar 2023 9:27

Editado porAndre Amaral  em  3 mar 2023 9:47

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