O mistério do “genoma obscuro” que compõe 98% do nosso ADN

PorExpresso das Ilhas,29 abr 2023 7:29

Em abril de 2003, o sequenciamento completo do “livro da vida” codificado no genoma humano foi declarado “encerrado”, após 13 anos de trabalho. O mundo estava repleto de expectativas.

Esperava-se que o Projeto Genoma Humano, depois de consumir cerca de três mil milhões de dólares, trouxesse tratamentos para doenças crónicas e esclarecesse todos os detalhes determinados geneticamente sobre as nossas vidas.

A convicção que prevalecia na época, conta o site zap.aeiou.pt, era que a ampla maioria do genoma humano consistiria de instruções para a produção de proteínas – os “tijolos” que constroem todos os organismos vivos e desempenham uma imensa variedade de papéis nas nossas células e entre elas.

E, com mais de 200 tipos diferentes de células no corpo humano, parecia fazer sentido que cada uma delas precisasse dos seus próprios genes para realizar as suas funções necessárias.

Acreditava-se que o surgimento de conjuntos exclusivos de proteínas fosse vital na evolução da nossa espécie e dos nossos poderes cognitivos. Mas o que descobrimos é que menos de 2% dos três mil milhões de letras do genoma humano são dedicados às proteínas. Apenas cerca de 20 mil genes codificadores de proteínas foram encontrados nas linhas de moléculas que compõem as nossas sequências de DNA.

Os geneticistas ficaram assombrados ao descobrir que os números de genes produtores de proteínas dos seres humanos são semelhantes a algumas das criaturas mais simples do planeta. As minhocas, por exemplo, têm cerca de 20 mil desses genes, enquanto as moscas-das-frutas têm cerca de 13 mil.

Foi assim que, do dia para a noite, o mundo científico passou a enfrentar uma verdade bastante incómoda: grande parte do nosso entendimento sobre o que nos torna seres humanos talvez estivesse errada.

O genoma obscuro

Os 98% restantes do nosso ADN ficaram conhecidos como matéria escura, ou o genoma obscuro – uma enorme e misteriosa quantidade de letras sem propósito ou significado óbvio. Inicialmente, alguns geneticistas sugeriram que o genoma obscuro fosse simplesmente ADN lixo, uma espécie de depósito de resíduos da evolução humana. Seriam os restos de genes partidos que deixaram de ser relevantes há muito tempo.

Passaram duas décadas e, agora, temos os primeiros indícios da função do genoma obscuro. Aparentemente, a sua função primária é regular o processo de decodificação, ou expressão, dos genes produtores de proteínas.

O genoma obscuro ajuda a controlar o comportamento dos nossos genes em resposta às pressões ambientais enfrentadas pelo nosso corpo ao longo da vida, que vão desde a alimentação até o stress, a poluição, os exercícios e a quantidade de sono. Este campo é conhecido como epigenética. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1117 de 26 de Abril de 2023.

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Autoria:Expresso das Ilhas,29 abr 2023 7:29

Editado porSara Almeida  em  29 abr 2023 7:29

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