Desde muito nova que ouço dizer que a liderança começa em casa e ao refletir sobre isto, percebo que realmente as minhas maiores referências sempre foram a minha avó e a minha mãe. Com o despertar de consciência, comecei a observar que as mulheres da minha vida sempre assumiram esse papel, mesmo sem se considerarem como tal, como se realmente fosse algo automático e intuitivo. Até na altura da minha bisavó, que ficava a cuidar da família e da casa enquanto o marido trabalhava fora, já existia essa responsabilidade, aquela que nos dias de hoje percebemos o quão árduo pode ser, principalmente por não existirem dias de folga para se descansar. Gerir uma casa e uma família é como gerir uma empresa: Pessoas diferentes a relacionaram-se, finanças para organizar, trabalho na prática para se fazer, etc. A mulher do dia de hoje, intitulada como a “mulher moderna” é um espelho dinâmico das mudanças existentes nas últimas décadas: sociais, culturais, económicas e tecnológicas. Desafia estereótipos de género, enfrenta múltiplos desafios, faz escolhas mediante as suas crenças e busca a inclusão. Trabalha muito para a sua independência, através da educação e da ação.
Ao iniciar o meu trabalho na área da Liderança Pessoal, estando em contacto com outras mulheres líderes, percebi o quão inspiradoras elas são e mesmo existindo diferenças entre elas, têm uma forma única de exercer a liderança, devido à sua autenticidade. Reuni também algumas características chave que a grande maioria tem:
Autoconhecimento:Saber os seus pontos fortes, o que tem a melhorar, fazer uma análise swot pessoal, construir objetivos e até ter algum profissional ao lado que consiga facilitar esse processo de autoconhecimento, é crucial para fortalecer a autoestima e melhoria das soft skills, para uma liderança de sucesso.
Sentido de Propósito: Ter em consciência a pergunta: “Porquê? “ para a concretização de objetivos. Quando não se tem propósito quando se faz algo, é desafiante manter a determinação. É preciso desejar, criar e lembrar, para se concretizar.
Empatia: A arte de saber ouvir e ter em consideração as necessidades do outro para agir em conformidade. Acredito ser desafiante nos colocarmos no lugar da outra pessoa quando não temos as mesmas experiências, pensamentos, emoções, vivências e relacionamentos, por este motivo, o que mais importa aqui é o estabelecimento de conexão.
Comunicação assertiva:
Uma líder investe nas suas habilidades de comunicação. Ela inspira, motiva e mobiliza as pessoas com a sua voz e aitude. Cria segurança e confiança pela sua forma autêntica e genuína de comunicar. Ouve para escutar e não para responder. Não precisa nascer com o dom da comunicação, mas sabe que consegue desenvolver competências na área para se tornar uma oradora de excelência para entender e ser entendida.
Resiliência: Uma líder feminina normalmente demonstra resiliência ao lidar com desafios, mantendo-se firme com os seus objetivos. Ser resiliente é uma característica que conseguimos reconhecer na mulher ao longo dos séculos.
Inovação: A criatividade, a inovação, a capacidade de pensar fora da caixa e abraçar a mudança, é crucial para liderar com sucesso. Fácilmente a mulher consegue encontrar soluções criativas para os desafios encontrados.
Inclusão: Esta característica é uma das mais importantes. Todas as vozes merecem ser ouvidas. As pessoas cada vez mais desejam atenção, querem ser vistas. A liderança feminina traz isso nos tempos atuais.
Sinto ser importante abordar este tema para se conseguir entender o que faz sentido melhorar, não só na liderança de equipas, mas na própria vida. Acredito que ninguém consegue liderar eficazmente com todas estas características, sem realmente trabalhar constantemente nelas. Só assim existirá uma liderança humanizada e autêntica.
Mas… E os desafios que a mulher enfrenta na liderança?
- As questões relacionadas com a desigualdade de género continuam a persistir em muitos setores, tornando mais difícil a evolução na carreira.
- Conciliar responsabilidades familiares, pessoais e profissionais é um desafio significativo para as mulheres que lideram. Tudo isto poderá levar fácilmente a um esgotamento emocional, o tão falado Burnout. É imperativo falar sobre estes temas relacionados com a saúde mental.
- Algumas organizações podem resistir à liderança feminina devido a estruturas tradicionais e culturas corporativas conservadoras, as quais poderão ativar o sentimento de injustiça.
- As mulheres são muitas vezes avaliadas de forma mais exigente do que os seus colegas do sexo masculino. Socialmente esta questão está bastante presente.
- Ao existir a falta de mulheres em posições de liderança pode ser um desafio tremendo para as jovens líderes encontrarem modelos a seguir.
Sempre fui a favor da Liderança humanizada, talvez por todas as referências mundiais mais conhecidas serem um exemplo do seu sucesso e, por esse motivo, talvez faça sentido também criar um novo olhar para as referências pessoais de mulheres líderes e começar um processo de modelagem (moldar à imagem) e melhoria contínua.
Deste modo, concluo que ao integrar padrões de liderança da minha mãe e da minha avó, me ajudou a perceber o quão crucial é começar a trabalhar em todas as características ditadas, para liderar com confiança, responsabilidade, empatia e pelo exemplo.
É importante a autenticidade e a crença na potencialidade da mulher que lidera. É imperativo unir forças para ser mais fácil vencer as adversidades e os desafios da desigualdade! E à medida que mais mulheres vão ocupando posições de liderança e inspiram gerações futuras, o potencial para um futuro mais igualitário e inclusivo torna-se cada vez mais credível. A mulher tem um papel central na formação do futuro. É uma luz ao fundo do túnel para um mundo mais equilibrado e em constante evolução!
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Ana Fernandes Apaixonada pela complexidade da Mulher CEO Krê Ser - Coaching & Training Coach de Liderança Pessoal Formada em Inteligência Emocional, com MBA em Gestão e Liderança de Pessoas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1138 de 20 de Setembro de 2023.