Aluna em fase final de doutoramento na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, a trabalhar em parceria com a Universidade do Minho, a designer, de 27 anos, começou o projecto Sarque aos 21 anos e frisou que o processo foi moroso até chegar a resultados palpáveis e para os quais há empresas a olharem com interesse.
"Estou bastante à frente daquilo que há no mercado, porque, de tudo o que encontrei, não existe, por exemplo, quem faça teia, trama, em impressoras 3D. A interacção do tecido com teia, com trama, com fios que deslizem, com estas espessuras, com este nível de flexibilidade", salientou Susana Marques, em declarações à agência Lusa.
Segundo a investigadora, pelo tempo que ainda leva a produzir as peças e os custos implicados, a "introdução no mercado será gradual" e antecipa que em breve a tecnologia seja inicialmente incorporada no mercado de luxo e em desfiles, como "factor de inovação e distinção", mas salientou que as impressoras industriais são algo que pode "melhorar rapidamente".
Formada em Design de Moda, a investigadora aponta para o investimento feito por algumas marcas de renome sem os resultados pretendidos, por resultarem em peças rígidas, uma fase que afirma ter ultrapassado.
Primeiro tentou criar têxteis confortáveis, elásticos, que fossem viáveis para um uso quotidiano e, além disso, pudessem ser postos nas máquinas de lavar roupa.
As amostras dos primeiros anos ainda entravam na categoria dos não tecidos, até que foi aprofundando o estudo das fibras, dos tecidos, das estruturas dos tecidos, testando as diferentes categorias de impressoras e os limites dos equipamentos, até chegar a algo que considerou inovador e ter potencial para a comercialização.
"Em vez de termos fiação, tecelagem, corte, confecção da peça, reduzimos tudo isso a preparar um ficheiro digital e enviar para uma impressora", explicou Susana Marques, convidada para em Novembro falar sobre o seu processo numa das maiores feiras mundiais do ramo, a Formnext, na Alemanha.
A criadora acentuou recorrer à experimentação de diferentes materiais e técnicas e afirmou ter quebrado um limite que lhe permite avançar para a criação de novas estruturas, tirando partido "do que só o método de impressão 3D permite".
A investigadora adiantou ter tecidos "com espessuras iguais aos que se usam no quotidiano, com muitas das mesmas características, com fio de teia e trama, só que concebidos numa impressora 3D".
As vantagens, além de o processo "minimizar a intervenção manual" e "deixar as pessoas livres para tarefas menos exigentes fisicamente e que, por norma, são mais bem remuneradas", são também a sustentabilidade e o combate ao desperdício, por só se utilizar o material necessário.
"Se queremos alcançar a competitividade, acho que Portugal só o consegue através da inovação", vincou a criadora.
Susana Marques antevê que, "como algo novo, haverá alguma resistência" à tecnologia, que prevê começar a ser utilizada em alguns procedimentos e, depois de ultrapassada a estranheza, os moldes começarão a ser substituídos por impressões, até se chegar à produção de peças completas.
O que era visto como uma impossibilidade, é o presente de Susana Marques, a trabalhar em mais soluções para o que considera roupa do futuro.