Fabrice Fries esteve em Lisboa na conferência de primavera da Aliança Europeia das Agências de Notícias (EANA, na sigla inglesa), à qual o CEO da Agence France-Presse (AFP) também preside, que decorreu no final da semana.
Questionado sobre qual o papel da IA para as agências noticiosas, o presidente executivo diz que a tecnologia é vista, "principalmente, como uma ferramenta de produtividade".
Ou seja, "que aumenta a produtividade do nosso jornalismo", salienta o gestor.
"Na AFP não produzimos conteúdos com IA. Acho que é o mesmo com a maioria dos membros da EANA", mas "isso pode mudar", adverte, destacando que a alucinação do 'Large Language Models' (LLM) [grandes modelos de linguagem] faz com que a informação não seja confiável.
A alucinação do LLM acontece quando a informação dada pelo sistema de IA, embora pareça coerente, apresenta dados incorrectos, errados ou tendenciosos.
Contudo, "são muitas as oportunidades que a IA abre, podemos gerar novas receitas, encontrar novos clientes", mas também é "uma preocupação nomeadamente para os clientes de media se eles forem desintermediados pela IA", especialmente se o motor de busca se tornar um mecanismo de resposta e deixar de direccionar o tráfego.
Em suma, diz, "é ao mesmo tempo uma ferramenta que pode ajudar os "fact-checkers' a verificar de uma forma melhor, mas também - e temo que a preocupação seja maior do que a oportunidade que existe - pode democratizar a desinformação porque qualquer pessoa agora com uma ferramenta de IA pode produzir 'deep fakes'".
'Deep fakes' são vídeos manipulados com recurso a inteligência artificial, sendo um dos grandes motivos de preocupações por parte de governos, organismos internacionais e cidadãos.
Actualmente, "vemos no mercado muitas 'deep fakes' e a maior preocupação, para mim, é esta desconfiança geral em relação ao jornalismo", porque as pessoas deixam de saber em quem podem confiar.
"E essa é a maior preocupação que tenho", lamenta.
Isto porque antes do advento da inteligência artificial já existia falta de confiança, agora acresce a "preocupação com as ferramentas de IA e o que elas podem produzir" e o seu impacto, refere.
Questionado sobre qual é o papel das agências noticiosas neste processo, Fabrice Fries explica que "as agências de notícias têm a missão de expor os factos de forma imparcial".
Portanto, "é uma missão muito moderna e útil (...) e difícil" e "nem sempre conseguimos", prossegue.
Mas, "somos extremamente úteis precisamente porque hoje a desinformação é massiva, porque há uma polarização do debate em cada país" e "estamos aqui para produzir jornalismo honesto, informação factual", adianta o CEO da AFP.
"Se nos mantivermos nesta missão e apresentarmos resultados correctamente, penso mais uma vez que continuaremos a ser muito úteis para a sociedade e para a democracia, no seu conjunto", remata.