Num caso no mínimo curioso, Daniell Koepke começou a fazer transplante de fezes por conta própria, usando o material do namorado.
Só que o namorado da escritora tem depressão, e com o tempo, a norte-americana passou a apresentar sintomas depressivos também.
O transplante de fezes já foi indicado por órgãos de saúde para diferentes finalidades, como tratar bactérias resistentes, explica o zap.aeiou.pt.
Estudos recentes mostraram que a prática vai muito além do que imaginamos, como reverter o envelhecimento cerebral, ajudar pacientes com cancro de pele e aliviar os sintomas de Parkinson.
Os primeiros relatos deste tratamento aparecem em textos de medicina tradicional chinesa do século IV e eram prescritos para tratar a diarreia. O primeiro transplante na era moderna ocorreu em 1958, quando Ben Eiseman, médico do exército norte-americano, tratou com sucesso soldados com diarreia.
Diante desses benefícios, Koepke apostou nesse tipo de transplante para tratar a síndrome do intestino irritável. Nos últimos cinco anos, tinha tomado antibióticos, mas sem resultado.
O transplante fecal acontece a partir de uma mistura entre as fezes de um doador saudável com solução salina, que então é inserida no trato gastrointestinal do receptor.
É possível fazer transplante fecal a partir de vários métodos, como enema, cápsulas orais, colonoscopia ou endoscopia.
No começo do tratamento caseiro, Koepke fez pílulas com as fezes doadas pelo seu irmão. Começou a ganhar peso e conseguiu ir à casa de banho com mais frequência, mas como efeito colateral, desenvolveu acne (algo de que seu irmão sofria também).
Por isso, ela trocou e decidiu começar a fazer pílulas com as fezes do namorado. A acne passou, mas como ele sofria de depressão, com o tempo ela passou a ter sintomas depressivos também.
O caso de Daniell foi relatado num documentário da Netflix chamado Hack Hour Health: the secrets of your gut:
A relação entre intestino e saúde mental pode parecer aleatória, mas na verdade não é: um artigo da Nature Communications diz que as bactérias do intestino podem influenciar a depressão.
Existe uma comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo intestino-cérebro, que desempenha um papel crucial na regulação do humor e comportamento.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1174 de 29 de Maio de 2024.