#ELASnaTech: Privacidade, Quem És Tu? Como a IA Redefine a Nossa Intimidade

PorDarlyn Estrela,12 jul 2025 7:11

Darlyn Estrela - Licenciada em Gestão Comercial e Marketing pela Universidade de Cabo Verde e atualmente mestranda em Transformação Digital
Darlyn Estrela - Licenciada em Gestão Comercial e Marketing pela Universidade de Cabo Verde e atualmente mestranda em Transformação Digital

As ciências sociais sempre se interessaram pelos avanços tecnológicos da comunicação. Afinal, as novas relações sociais trazidas pelas tecnologias emergentes afectam grandemente os nossos hábitos, comportamentos e até a nossa auto-apreciação.

Vivemos numa era em que os algoritmos sabem o que vamos fazer mesmo antes de decidirmos. A IA tornou-se a lente silenciosa através da qual consumimos informação, entramos nas redes sociais e até escolhemos com quem interagir.

Parece exagero? Então pensa: quantas das tuas decisões recentes foram influenciadas por uma notificação, uma sugestão ou uma “coincidência” digital?

Sempre que faço essa pergunta, a resposta vem quase automática:

“Eu? Nada influenciável.”

Será mesmo?

É uma nova forma de proximidade digital — um fenómeno onde a tecnologia se integra tanto na nossa rotina, hábitos e padrões de comportamento, que parece conhecer-nos melhor do que nós mesmos.

Aquilo que vemos, pensamos ou desejamos já não surge apenas da nossa vontade, mas de sugestões moldadas por algoritmos treinados para prever o nosso próximo clique.

A fronteira entre o útil e o invasivo tornou-se quase imperceptível.A promessa de conexão tornou-se, em muitos casos, uma prática de vigilância disfarçada de conveniência. E isso tem consequências reais na saúde mental, nos padrões de consumo e na forma como interagimos socialmente.

Como mestranda em Transformação Digital e profissional da comunicação e marketing, uso IA todos os dias. Ela ajuda-me a personalizar conteúdos, segmentar públicos e prever determinados comportamentos. Mas é também uma ferramenta que nos observa, arquiva e analisa.

A nossa presença online é constantemente filtrada por sistemas que decidem o que devemos ver, consumir ou sentir a qualquer hora e momento. Isso molda a forma como nos relacionamos com o mundo — e connosco.
E embora a IA possa facilitar muitas tarefas, a sua interferência na nossa intimidade emocional e social é uma questão que precisa de debate urgente.

Como disse Edward Snowden; “Privacidade não é sobre ter algo a esconder. É sobre ter algo para proteger. E esse algo é quem você é. É algo em que você acredita. É quem você quer se tornar. Privacidade é o direito de si mesmo. É o que lhe permite compartilhar com o mundo quem você é nos seus próprios termos.”

Em Cabo Verde, ainda estamos a dar os primeiros passos no debate sobre ética digital, o uso consciente de redes sociais e segurança de dados. Mas já é tempo de envolver mais vozes — especialmente femininas — nessa construção.

Não podemos permitir que as mulheres fiquem de fora da criação e da regulação destas tecnologias.

A tecnologia deve servir as pessoas, não manipulá-las. E só com diversidade, educação digital e consciência crítica é que conseguiremos garantir um futuro digital mais justo, seguro e humano.

Ainda que o progresso tecnológico pareça inevitável, o modo como o vivemos e moldamos depende de escolhas conscientes.

Será que queremos continuar a delegar os nossos desejos, preferências e relações a sistemas opacos que operam sem o nosso consentimento informado?

A intimidade já não é apenas emocional ou física — é também algorítmica. E, por isso mesmo, exige vigilância cidadã, ética na programação e, sobretudo, inclusão na participação.

É urgente que mais mulheres estejam presentes — não só como utilizadoras passivas, mas como criadoras de soluções, legisladoras digitais, educadoras e líderes tecnológicas.

Afinal, quem desenha os algoritmos, desenha também os limites da nossa liberdade.

E se é verdade que os dados são o novo petróleo, então a nossa consciência digital é o novo poder. Que saibamos usá-lo com coragem, espírito crítico e propósito coletivo. Porque o futuro digital não se herda — constrói-se. E constrói-se com todos.

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Breve biografia da autora

Darlyn Estrela é licenciada em Gestão Comercial e Marketing pela Universidade de Cabo Verde e atualmente mestranda em Transformação Digital. Reconhecida pela Forbes Under 30 África Lusófona, destaca-se como uma das jovens profissionais mais influentes no ecossistema digital da região.

Com uma trajetória marcada pela inovação e impacto, Darlyn fundou a Destrela.mkt, uma marca especializada em estratégias digitais criativas, com foco no crescimento sustentável de negócios e empreendedores. Tem se dedicado à consultoria, mentoria e capacitação de startups, aliando a prática de mercado com uma forte base acadêmica.

Como embaixadora da governança da internet em Cabo Verde, atua também em prol da inclusão digital e segurança online, promovendo o uso consciente da tecnologia como ferramenta de transformação social e empresarial.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1232 de 9 de Julho de 2025.

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Autoria:Darlyn Estrela,12 jul 2025 7:11

Editado porFretson Rocha  em  12 jul 2025 7:11

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