Quarenta mochilas, oito livros de língua portuguesa e quatro livros de matemática do primeiro ano. Foram estes os materiais distribuídos pela Fundação Cabo-verdiana de Acção Social Escolar à escola de Achada Grande
Frente, até agora. No entanto, de acordo com o gestor da escola, o processo tem algumas irregularidades.
A 18 de Setembro de 2011, a FICASE e a Imprensa Nacional de Cabo Verde (INCV) assinaram um protocolo, com o objectivo de melhorar as condições de educação dos alunos do Ensino Básico do bairro de Achada Grande Frente. No documento, lê-se que a INCV disponibilizaria à FICASE o montante de quatrocentos mil escudos, para apoiar alunos carenciados da escola, através da aquisição de kits escolares.
No passado dia 7 de Novembro, uma equipa da FICASE ter-se-á dirigido à referida escola, distribuindo apenas quarenta mochilas e doze livros para o primeiro ano. De acordo com o gestor da escola, os materiais terão custado apenas dezoito mil, oitocentos e oitenta e quatro escudos.
João Gomes explica que a equipa visitou apenas oito das dez turmas da manhã da escola, e que durante a tarde não apareceu. Além disso, só foram distribuídos livros do primeiro ano, e a escola tem alunos do primeiro ao sexto ano de escolaridade.
Gomes denuncia o facto de, ao contrário dos anos anteriores, a FICASE não se ter regido pelas listas enviadas pelas escolas no final do ano lectivo anterior, que indicam quais os alunos carenciados, do primeiro ao sexto ano, que necessitam dos kits escolares. "Este ano, esqueceram-se das listas e tentaram reduzir os custos, porque não é assim que costumam fazer a distribuição", conta.
A distribuição, acrescenta Gomes, terá sido feita de forma aleatória e que nem sequer foi entregue à escola um guia de entrega que comprove que a escola recebeu os materiais. Por outro lado, "os kits distribuídos representam um valor bastante irrisório, em comparação com o valor que receberam com o protocolo assinado com a INCV".
Indignado, João Gomes conta que dirigiu-se à FICASE e conversou com a responsável pela distribuição de kits escolares, que alegou que desconhecia a existência do protocolo assinado com a INCV. Ainda assim, terá prometido que na semana seguinte iria ser feita a distribuição dos kits que faltavam. "Isto foi desde o dia 7 de Novembro. Já estamos no final do mês, e ainda nada", afirma Gomes.
O gestor diz estar preocupado, na medida em que a escola, que tem alunos com muita carência em termos de materiais escolares, já estava a contar com o apoio da INCV.
"Acho uma falta de seriedade, por parte da FICASE, receberem aquela quantia e não a terem disponibilizado para a aquisição de kits para os alunos de Achada Grande, que sentem falta deles", refere.
O Expresso das Ilhas tentou obter esclarecimentos sobre o caso junto da responsável pela distribuição de kits escolares, que não se mostrou disponível para prestar declarações.
FICASE tem ludibriado a opinião pública
João Gomes chama a atenção para o facto de várias escolas do concelho da Praia não terem recebido ainda os kits escolares, a um mês das férias de natal. O gestor da escola de Achada Grande Frente denuncia os atrasos, já que as aulas tiverem início a 14 de Setembro.
"Muitos pais já se endividaram para arranjar os materiais, e muitos alunos continuam a assistir às aulas sem os materiais necessários", enuncia. Gomes refere que, frequentemente, a FICASE explica os atrasos com o facto de os fornecedores não entregarem os materiais a tempo.
Daí que o gestor pergunta: quem foi o vencedor do concurso para fornecimento dos materiais e quais as sanções que lhe são aplicadas por não entregar os materiais atempadamente? "O objectivo do programa, que era minimizar os custos dos pais com maiores dificuldades financeiras na aquisição de materiais escolares, não está a ser cumprido. Se calhar não faz sentido distribuir os kits", defende Gomes.
O gestor mostra-se ainda mais revoltado pelo facto de a FICASE divulgar spots publicitários, com crianças a agradecer os kits, quando a maioria das escolas ainda não recebeu nada. De facto, o Expresso das Ilhas contactou algumas escolas que confirmaram a informação.
"Na Praia, fizeram a distribuição dos kits mais na televisão que no terreno", afirma, acrescentando que "a FICASE tem estado a ludibriar a opinião pública e as próprias empresas que patrocinam os kits escolares, através de spots publicitários e outdoors, que mostram que já foi feita a distribuição dos materiais. A FICASE está a vender uma imagem que não corresponde à verdade. As crianças e as escolas continuam com dificuldades".
Apesar de tudo, João Gomes realça o agradecimento da escola que dirige à INCV pelo apoio, e solicita que qualquer apoio a alunos carenciados seja agora entregue à direcção da escola, que compromete-se a apresentar os justificativos de todos os gastos.
De referir que o Expresso das Ilhas tentou obter esclarecimentos junto da FICASE, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.