O cantor das mornas, Bana morreu na madrugada do dia 13 de Julho no hospital “Beatriz Ângelo”, em Lisboa vítima de doença prolongada. O funeral do músico realizou-se esta segunda-feira, 15, em Lisboa, Portugal. A igreja esteve cheia com a presença de familiares do cantor, amigos e figuras públicas, entre as quais o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, o ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa, o secretário de estado da Cultura de Portugal, Jorge Barreto Xavier, e a embaixadora de Cabo Verde em Portugal Madalena Neves.
Cerca de uma centena de pessoas assistiu à missa de corpo presente na Igreja da Sagrada Família em Benfica, onde o corpo estava em câmara ardente desde domingo.
Várias autoridades cabo-verdianas estiveram presentes na cerimónia, além do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, como a embaixadora cabo-verdiana em Portugal, Madalena Neves, os ministros cabo-verdianos da Cultura, Mário Lúcio Sousa, e das Comunidades, Fernanda Fernandes.
Depois das celebrações religiosas, dirigidas pelo Bispo de Lisboa, seguiram-se alguns discursos.
O primeiro a falar foi o filho do artista, Admiro Gonçalves, que destacou o lado paterno de Bana, que é desconhecido da maioria dos seus fãs. Admiro afirmou que “Bana foi um pai sempre presente e que à sua maneira sempre soube mostrar afecto”.
O secretário de estado da Cultura de Portugal, na cerimónia em representação do governo português, realçou o papel que o músico teve para a aproximação entre Cabo Verde e Portugal. Na sua intervenção, Jorge Barreto Xavier lembrou ainda que o músico “como os homens das artes e da cultura, continuará estar presente no nosso quotidiano”.
Seguiu-se o ministro da Cultura, Mário Lúcio, que representou o Governo de Cabo Verde. Mário Lúcio destacou a generosidade de Bana. “Cabo Verde é um país afortunado por ter gerado um homem que vai ficar para a eternidade como um dos maiores interpretes do sentimento humano”, disse o ministro, falando do “rei da morna”.
“O legado do Bana jamais desaparecerá”
Por fim o Presidente da República, Jorge Fonseca, salientou a obra do artista referindo que “durante décadas este homem (Bana) fez com que milhares e milhares de pessoas se sentissem gente, gente muito especial, gente de Cabo Verde.” O Chefe de Estado apresentou as suas condolências aos familiares lembrando que o “legado (do Bana) jamais desaparecerá pois habita dentro de todos os cabo-verdianos”.
No final alguns artistas cantaram uma morna de homenagem ao cantor que tanto fez para elevar esse estilo de música. Titina, Aaria Alice, Nancy Vieira, Celina Pereira, Mário Lúcio, Luís Fortes e Jorge Neto deram voz. Armando Tito, Jair Pina foram alguns dos outros artistas presentes.
Boss AC, Bonga, Lura, entre outros, marcaram depois presença no Cemitério do Alto de São João, onde o corpo de Bana foi cremado.
O filho do cantor Ademiro Almeida confirmou que “brevemente, as cinzas (de Bana) serão levadas para Cabo Verde”.
O Governo de Cabo Verde decretou, no sábado, dois dias de luto nacional pela morte de Bana.
Recorde-se que Bana, de verdadeiro nome Adriano Gonçalves, morreu às 23h00 de sexta-feira, 12 de Julho, no hospital “Beatriz Ângelo”, em Lisboa (Portugal), vítima de doença prolongada.
Um percurso singular
Adriano Gonçalves, ou simplesmente Bana nasceu a 11 de Março de 1932, no Mindelo, ilha de São Vicente, em Cabo Verde. Gravou mais de 50 discos, ao longo da sua carreira, iniciada em 1942, com apenas dez, tendo sido apadrinhado por B.Leza, um dos maiores músicos, poetas e compositores de Cabo Verde.
Bana foi um ícone da cultura cabo-verdiana. A relação de Bana com a música começou bem cedo, nas ruas de Mindelo. Deixou de ser Adriano Gonçalves e passou a ser conhecido por Bana no meio mindelense, a calcorrear as “tocatinas” da ilha de São Vicente.
Aos 13 anos abandona os estudos, apenas com a 3ª classe. Já nesta altura, o interesse pela música era maior do que pelos livros. Foi na companhia dos mais velhos, Lela Maninha, Marcelo, Tchuf e Djindja de nha Amélia, Pirra e Abílio Duarte, que o Rei da Morna começou a dar os seus primeiros passos, ainda que tímidos, no mundo da interpretação musical.
Mais tarde encontrou na música um novo sentido para a sua vida, que permitiu superar a morte dos pais. Depois começou a cantar ao lado dos principais músicos cabo-verdianos, atraindo a atenção de B.Léza, considerado um dos maiores poetas e compositores cabo-verdianos de todos os tempos.
Em 1952, com 20 anos, Bana ingressou nas Forças Armadas para cumprir o serviço militar obrigatório. A tropa deu-lhe a possibilidade de interpretar de vez em quando algumas mornas na Rádio Clube do Mindelo, cantando para um público mais alargado. Por esta altura Bana já não cantava só para os seus amigos, mas sim para um público fiel à sua voz.
A primeira vez que Portugal entrou no horizonte de Bana foi em S. Vicente, pelas mãos de dois respeitados políticos portugueses. Em 1959, numa digressão por São Vicente, vários elementos da Tuna Académica de Coimbra “descobrem” Bana e insistem em dar a conhecer a Portugal aquele homem de voz timbrada e firme. Entre esses elementos da Tuna coimbrã encontravam-se Manuel Alegre e Fernando Assis Pacheco.
No entanto, Bana só chegaria a Portugal dez anos depois, em 1969, mas antes de ir para Portugal, Bana passou pelo Senegal, Holanda, França e por muitos palcos do mundo, onde foi gravando discos uns atrás dos outros, a solo ou com os “Voz de Cabo Verde”.
A “estreia” em Portugal, que aconteceu na inauguração da Casa de Cabo Verde em Lisboa, dá-se pela insistência de vários elementos da Tuna Académica de Coimbra, que tentava levá-lo à então Metrópole em 1959. Entre eles figuravam Manuel Alegre e Fernando Assis Pacheco.
Bana deixa um legado extra-carreira, pois foi graças ao “Rei da Morna” que muitas das actuais “estrelas” da música cabo-verdiana começaram a brilhar. Foi Bana quem ajudou, por exemplo, Celina Pereira, Paulino Vieira, Tito Paris, Leonel Almeida, Titina, Zizi Vaz, entre muitos outros.
Homenagens em vida
O Rei da Morna foi alvo de inúmeras homenagens ao longo da carreira e uma das mais comoventes aconteceu em Junho de 1992, quando viu encher a sala da Aula Magna, em Lisboa, para celebrar 50 anos de carreira na presença de todas as gerações.
Bana foi agraciado com a Medalha de 1.ª Classe da Ordem do Dragoeiro, pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca no dia 12 de Junho de 2012, numa homenagem realizada no Hotel Tivoli, em Lisboa.
Em 2012 foi distinguido com o Prémio Carreira, pelo Cabo Verde Music Awards, sucedendo a Cesária Évora, a “Rainha da Morna”.
Fontes: (Sapo.cv, Publico.pt e Lusa.pt)
Mindelo rendeu homenagem ao Rei da Morna
A cidade do Mindelo rendeu na noite de segunda-feira homenagem ao ‘Rei da Morna’. Milhares pessoas responderam à chamada de Tito Paris, que organizou uma cerimónia que começou com um concerto, na rua de Lisboa, e prosseguiu, horas mais tarde, com uma serenata pelas ruas da cidade.
Homenagem ao Rei da Morna na Praia
Alguns Músicos da ilha de Santiago prestaram esta segunda-feira a última homenagem a Bana, com uma passeata que começou na Rua Pedonal e seguiu para a Praça Alexandre Albuquerque. Na Praia a iniciativa
partiu do músico Helder Gonçalves.