Amália Lopes, Judite Nascimento e Paulino Fortes são candidatos
Excelência e sustentabilidade
Em 2011, quando ainda se pensava que haveria eleições reitorais, Judite Nascimento perfilava-se como pré-candidata. Antes ainda, “um grupo de professores elaborou espontaneamente uma moção de apoio à minha candidatura, não tendo eu me manifestado.” Essa moção recolheu 200 assinaturas de estudantes, professores e funcionários da Praia e São Vicente, em muito poucos dias, e levou-a a reflectir sobre o seu papel e compromisso para com a comunidade académica a que pertence.
Hoje, continua a sentir esse apoio e essa é uma das razões para a sua candidatura. Além disso, há 18 anos que faz parte da comunidade académica da (agora) Uni-CV e conhece bem os progressos e problemas desta instituição.
“Acompanhei o crescimento da instituição, desde a antiga Escola de Formação de Professores até hoje, tendo vivenciado todos os momentos e etapas do desenvolvimento da mesma”, salienta.
Assim, o desejo de contribuir para a resolução dos problemas que a afectam e aos seus membros move-a também nesta candidatura a um cargo para o qual, acredita, tem perfil e experiência.
Assumindo a sua visão sobre o ensino superior, e o enquadramento que uma universidade pública em Cabo Verde deverá ter, é “uma possível alternativa”, elaborou o seu programa que ainda não revela.
“Penso que os programas deverão ser mostrados depois de apresentados oficialmente”, argumenta, mas avança que este é um programa “construído com metas muito claras” com vista ao “ensino de excelência, a investigação de excelência e a funcionamento de excelência da própria instituição.”
Para tal, acredita que o importante é criar o ambiente apropriado para que o potencial dos alunos “que têm muita vontade de aprender e participar, como dos professores “com formações em diversos países do mundo”.
“Temos aqui todas as condições para que esta instituição possa avançar”, remata.
A nível de desafios, Judite Nascimento acredita que num contexto de crise internacional, o ano de 2014 será difícil também a nível da academia. Assim, uma mudança a nível do sistema de financiamento, de forma a torna-lo sustentável é uma das apostas da sua candidatura.
O sistema de gestão académica é também apontado como um ponto fraco na Uni-CV (como também Paulino Fortes apontou). Nesse sentido, há também propostas, “mas estarão no nosso plano de acção, pelo que não podemos avançar com detalhes”, diz-nos.
Judite Nascimento nasceu em Angola e é doutora em Geografia e Ordenamento dos Espaços urbanos. Era, até há pouco tempo, directora do Centro de Investigação em Desenvolvimento Local e Ordenamento de Território (CIDLOT), tendo pedido suspensão do cargo no âmbito da sua candidatura a reitora da Uni-CV.
Autonomia, Democracia e Qualidade
A candidatura de Amália Lopes é, segundo a mesma, “a expressão de um colectivo, empenhado em levar avante o projecto da Universidade pública de Cabo Verde”.
Neste momento, Amália Lopes e os promotores da sua candidatura estão a construir o seu programa oficial. No entanto, o documento enquadrador do mesmo foi já divulgado. Trata-se de uma declaração inicial, assinada por dez professores, que lança os eixos pelos quais a equipa se pretende reger.
Intitulada “Por uma universidade autónoma, democrática e de qualidade”, encontramos pois, logo no título os valores promovidos por esta candidatura.
A declaração começa por fazer um diagnóstico da situação, sete anos volvidos da extinção das unidades associadas e criação da Uni-CV. Entre os ganhos aponta a aprovação dos Estatutos, a instalação de órgãos de governação científico-pedagógicos, entre outros ganhos também referenciados pelo pré-candidato Paulino Fortes.
A nível de problemas, considera que há, em primeiro lugar, falta de autonomia. “As alterações introduzidas, em 2011, nos Estatutos da Uni-CV colocam a instituição numa situação de quase tutela face à entidade governamental a ponto de os Estatutos poderem ser modificados consoante as conveniências dos seus dirigentes”, acusa.
A falta de democraticidade – “os docentes não são chamados a participar de forma activa” - e a falta de transparência –“muitas decisões são tomadas com base em critérios desconhecidos pelos professores” são também algumas das falhas apontadas.
A declaração afirma haver a necessidade urgente de um “projecto alternativo, que resgate os valores iniciais da Universidade”. Para isso é preciso, primeiro colmatar as falhas o que passa, a nível de eixos de acção, por definir dispositivos normativos que garantam a autonomia efectiva e uma política de financiamento que garanta a autonomia financeira e administrativa. O planeamento e gestão estratégica, a avaliação contínua dos recursos humanos e o desenvolvimento da acção social são outros eixos.
Os signatários do documento acabam o texto manifestando o seu apoio à candidatura de Amália Lopes a Reitora, por lhe reconheceram as capacidades, experiência e qualidades necessárias para levar o projecto a bom porto.
Em carta dirigida à comunidade académica, a pré-candidata explica, por sua vez, os motivos que a movem neste empreendimento e que assentam sobretudo no trabalho em equipa, e na assunção de um projecto que defenda os valores enunciados na declaração.
Amália Lopes, natural da ilha do Sal é Doutora em Linguística (Sociolinguística). Em 2012 foi eleita presidente do Conselho Científico para as áreas de Ciências Humanas, Sociais e Artes e Ciências Económicas, Jurídicas e Políticas da Uni-CV.
“(Não) há interferência do governo na Uni-CV”
Há ou não há? As opiniões dividem-se e as respostas nem sempre são lineares.
A comunidade académica ainda não esqueceu o que sucedeu em 2011 quando o Ministério do Ensino Superior decidiu cancelar o processo eleitoral já em andamento, sob o argumento de que ainda não estavam reunidas as condições para as eleições.
Paulino Fortes acabaria por ser nomeado reitor pelo Conselho de Ministros e, apesar de enquanto professor da instituição não lhe “ter caído bem” a suspensão das eleições, aceitou o cargo.
“Conhecendo bem a universidade e as pessoas, eu tinha capacidade de congregar a universidade o que aconteceu num tempo muito curto”, avalia.
Aparte a nomeação do reitor pelo Conselho de Ministros, em 2011, há outros factores condicionantes, principalmente o modelo de financiamento.
“O que, de facto, prejudica mais a autonomia da universidade é termos de gerir a universidade por uma grelha orçamental que é imposta pelo governo e que é igual a outras instituições quando nós temos uma natureza diferente”, diz Paulino Fortes, salientando que no entanto as decisões administrativas são tomadas dentro da Universidade.
“Não há qualquer interferência do governo nas decisões tomadas pelos órgãos, em particular, pelo reitor”, reitera.
Voltando às eleições interrompidas de 2011, esse episódio é evidenciado pelas outras pré-candidatas como exemplo da intervenção do governo.
“A nível de autonomia penso que em certos momentos da nossa história houve na minha opinião excessiva intervenção directa, do ministério sobretudo. Aliás é visível pela intervenção que houve há dois anos, quando decorria normalmente um processo eleitoral que foi abruptamente interrompido pelo Ministério. Acho que isso já diz muita coisa sobre a autonomia da universidade”, argumenta Judite Nascimento.
Amália Lopes é também crítica. “Neste momento, a nossa Universidade é uma universidade intervencionada. O actual reitor, que cessou funções para se poder candidatar, é um reitor nomeado pelo governo. Neste sentido é uma universidade que está intervencionada, que está sob tutela do governo.”
A linguista salvaguarda que um grande passo está a ser no entanto dado com estas eleições. “A eleição do primeiro reitor é um passo importante para início da construção da autonomia efectiva da universidade. Naturalmente que a autonomia não é a mera eleição do reitor, mas é um passo importante para a constituição dessa autonomia”, conclui.