Artigos de Sara Almeida no nosso arquivo

Cabo Verde mantém posição. Escolaridade é um ponto fraco
O Relatório de Desenvolvimento Humano 2024, divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), alerta para uma desaceleração global sem precedentes e propõe uma abordagem humanizada da Inteligência Artificial como caminho para impulsionar o desenvolvimento e criar novas oportunidades.

Christian Kaunert, especialista em segurança europeia - Migração: “O bom planeamento é necessário para manter as boas intenções a longo prazo”
O cientista político Christian Kaunert esteve recentemente em Cabo Verde, numa conferência organizada pelo Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais (ISCJS). Em entrevista ao Expresso das Ilhas, o especialista em segurança analisa o impacto da migração nos países de origem, trânsito e destino, sublinhando tanto a sua dimensão económica como a sua dimensão humana. Para Kaunert, conter a migração não é solução — é preciso reconhecê-la como inevitável e planear com inteligência para que seja sustentável. Sem isso, diz, as boas intenções colapsam. Além disso, o académico destaca os novos tempos, que exigem alianças estratégicas, especialmente para países pequenos como Cabo Verde, e aponta para uma União Europeia em transformação, mais flexível e aberta à integração de países antes fora do seu horizonte.

Tribunal Constitucional valida candidatura de Francisco Carvalho à liderança do PAICV
O Tribunal Constitucional julgou improcedente o recurso interposto por um militante do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), que visava a nulidade da deliberação que admitiu a candidatura de Francisco Carvalho às eleições para Presidente do Partido. Esta candidatura é, assim, considerada válida pelo órgão e Carvalho mantém-se na corrida à liderança.

Adeus ao pontífice que desceu da cátedra
O Papa Francisco faleceu esta segunda-feira, 21, um dia depois da celebração da Páscoa a que ainda presidiu num último sopro. Fica o legado de um sumo pontífice visionário que abriu as portas da Igreja ao Mundo e a todos, sem excepção, e humanizou o Reino de Deus. O funeral decorre este sábado.

Da chapa ao bloco: um quadro ainda inacabado com gente dentro
O que foi outrora uma paisagem de chapa e papelão em terra batida, sem água nem luz, deu lugar a uma malha urbana desenhada a régua e esquadro, com estradas calcetadas, passeios e já vários edifícios. Depois do desmantelamento do Alto São João, e realojamento dos seus moradores - um processo considerado “um sucesso” – está ainda em curso a “mudança” do Alto Santa Cruz. A paisagem é já bem diferente, mas ainda há um lago de construções informais à espera de solução e que custa a delimitar. O processo é complexo, e ao Programa de Realojamento juntam-se outros para a pretendida habitação digna e erradicação das barracas. Entre sucessos reconhecidos e os problemas que ainda persistem, este é um quadro inacabado com gente dentro.

“O Sal já é um destino de excelência”
Cabo Verde recebeu em 2024 uma fasquia histórica de turistas, 1,2 milhões, cerca de metade dos quais no Sal. Com o número em tendência crescente e a diversificação a ganhar força, este é um momento de muitas oportunidades, mas também vários desafios para a ilha mais turística do arquipélago, que é já um destino conhecido “a nível mundial”. Em entrevista ao Expresso das Ilhas, o presidente da Câmara Municipal do Sal fala dos investimentos em curso, dos novos hotéis e novos tipos de turismo. Fala ainda desafios habitacionais existentes, que tendem a agravar-se, e a que se junta o “novo” fenómeno do alojamento local, bem como da carência de mão-de-obra, que poderá modificar as tabelas salariais. Júlio Lopes sublinha ainda o desafio do desenvolvimento sustentável nas suas três vertentes (ambiental, social e económica) e, optimista quanto ao futuro, deixa, no entanto, um aviso: "É preciso cuidar do Sal, porque, se não, poderá haver impactos negativos para todo o país no futuro."

Filomena Fortes: “O desporto está no meu DNA”
Filomena Fortes nasceu para o desporto. Ela própria o diz. De atleta, professora, treinadora, presidente de uma Federação, presidente do Comité Olímpico cabo-verdiano e membro do Comité Olímpico internacional, entre vários outros postos de relevo como dirigente desportiva, pouco ou nada há que não tenha feito no sector. Contudo, a sua história vai muito além das funções que teve: é também uma maratona de desafios pessoais superados, uma corrida de barreiras ultrapassadas e um passe de peito para novos horizontes. Sendo certo que "não é fácil ser mulher no desporto", é a prova de que, com paixão, o lugar delas é também nos pódios desportivos.

Março, mês da Mulher - Carmelita Miranda: “O que vier será consequência daquilo que fizermos”
A história de Carmelita Miranda começa no Sal e é lá que hoje a encontramos, mas a sua visão sempre foi além dos 30 quilómetros da ilha que a viu nascer e para onde regressou. Fisioterapeuta e osteopata, uma das poucas de Cabo Verde, inaugurou, no início deste ano, o Centro de Reabilitação Físico-Motora ATLAS, que, mais do que a realização de um sonho, é o culminar de uma jornada feita de persistência, conhecimento e a vontade de devolver ao seu país tudo o que aprendeu.

Março, mês da Mulher - Helena Semedo: olhar para lá do horizonte
Gerada e nascida no Planalto Leste, Santo Antão, Helena Semedo não conhece amarras de género nem as limitações de nenhum horizonte. Economista de formação, foi membro fundador do Movimento para a Democracia (MpD), criado a 14 de Março de 1990, de cujo primeiro governo foi membro: a segunda mulher ministra de Cabo Verde. Do arquipélago e seu horizonte marítimo, partiu para o encravado Níger, onde iniciou a sua carreira na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Um percurso de mais de 20 anos, cerca de metade dos quais como Directora Geral-Adjunta, que lhe deu um olhar amplo sobre o mundo. E tudo o que fez – governação, projectos, liderança e forma de estar -, fê-lo em tom feminino, com a certeza da força diferente e transformadora da mulher.

São Graça, do sonho ao fazer acontecer
Os sonhos de Maria da Ressureição Graça ainda são os mesmos que tinha aos 15 anos, quando, jovenzita em Lisboa, aspirava ter uma empresa e contribuir para o desenvolvimento do seu país de ADN e coração: Cabo Verde. Décadas já se passaram, o mundo deu várias voltas ao Sol e foram mudando caras, regimes e modos de vida, mas o essencial desses desígnios mantém-se. Com um longo e rico percurso pessoal e profissional, é uma das “M’s” da EME Marketing & Eventos que co-fundou em 2002 junto com Maria Martins, empresa que abriu caminho e é hoje uma referência incontornável na área. EME de Maria, mas também de Mulher, a quem sempre tentou dar voz, em várias iniciativas e acções. Uma história de vida que se funde com o empreendedorismo cabo-verdiano no feminino, mostrando que todos os caminhos são possíveis.

“Colocar os Estados Unidos em primeiro lugar não significa que vamos trabalhar sozinhos” - Amanda Roberson
“America First”. O conhecido lema que tem norteado a política dos EUA nas administrações Trump parece mais actual do que nunca. Porém, isso não quer dizer que o país vá trabalhar de forma isolada do resto do mundo. A relação com outras nações continuará a ser fomentada, e a expectativa é que também elas venham a ganhar com a abordagem e se tornem igualmente mais prósperas e seguras. Esta é a ideia transversal e destacada pela porta-voz em Língua Portuguesa, do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, em conversa com o Expresso das Ilhas. A entrevista a Amanda Roberson está inserida numa iniciativa do Departamento de Estado dos Estados Unidos, em divulgar junto aos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), tópicos mensalmente definidos sobre a nova política externa global de Washington. Da Imigração à suspensão da USAID, passando pela República Democrática do Congo, e terminando na África do Sul, estes são alguns dos temas abordados.

Burlas online: Navegando num sítio de embustes
Desde que o mundo é mundo, há burlas, burlões e burlados. Mas, com as novas tecnologias, os contornos são cada vez mais preocupantes. As redes sociais tornaram-se terreno fértil para atingir um grande número de potenciais vítimas e a “desmaterialização” do criminoso torna difícil a sua captura. E quando se pensa que já se conhecem todos os esquemas, logo surge um novo, ou se muda a roupagem de um antigo, não deixando ninguém a salvo. Ainda na semana passada, a Polícia Judiciária alertou para novos esquemas de burla que estão a assumir uma dimensão inusitada. O inspector José Domingos Brito, da Brigada Central de Investigação e Combate ao Cibercrime e ao Terrorismo, explica melhor estes e outros casos, e reforça o apelo aos cuidados a ter. Prevenir é sempre o melhor caminho, e a atenção e literacia dos utilizadores da internet é a pedra angular neste combate.

Vidas do mar: entre a pesca, o turismo e as mudanças climáticas
Em Santiago, há cada vez mais pescadores que utilizam os seus botes para realizar passeios turísticos, um complemento que ajuda a equilibrar as contas da vida e a escassez do peixe. Mingo e Nelito, no Tarrafal, são dois homens do mar que trabalham nesta actividade e nos falam da sua experiência e, claro, da pesca. Incontornavelmente, a conversa passa pelos desafios enfrentados e pelas alterações climáticas que se tornam cada vez mais evidentes e desorientam temperaturas, peixes e correntes marítimas.

Cabo-verdianos na América no fio da incerteza
O medo não precisa de algemas. O discurso agressivo e as medidas migratórias já tomadas pelo presidente americano Donald Trump têm gerado pânico nas comunidades cabo-verdianas, que vivem momentos de incerteza. Perante o clima actual, conhecer regras, direitos e procedimentos é a melhor defesa contra uma eventual deportação, pelo que é fundamental haver informação correcta, rápida e certeira. É isso que os emigrantes defendem, ao mesmo tempo que apelam ao reforço da união, a “palavra-chave” em tempos difíceis. Além disso, há a preocupação de que aqueles que possam vir a ser repatriados de lá sejam recebidos com dignidade aqui, em Cabo Verde.

“A IA ou o Big Data não podem pôr em causa os direitos das pessoas”
A Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) completa, este ano, uma década de existência. Num momento em que, com os avanços tecnológicos, a protecção de dados em Cabo Verde e no mundo é cada vez mais complexa e premente, a instituição liderada por Faustino Varela Monteiro tem feito o “papel delicado” de equilibrar o desenvolvimento tecnológico com a salvaguarda dos direitos fundamentais dos cidadãos. O presidente da CNPD faz um balanço do trabalho realizado, aponta as principais conquistas e expõe as fragilidades, desde a dificuldade em reter quadros técnicos na Comissão, à necessidade de afinar a legislação. Estes e outros aspectos, entre a visão geral e os casos concretos, fazem a revista de “uma instituição dinâmica que tende, naturalmente, a consolidar-se”.

Decisão da inconstitucionalidade não é consensual
O Tribunal Constitucional decidiu que a inclusão da dotação da Comissão Nacional de Eleições (CNE) no orçamento privativo da Assembleia Nacional é inconstitucional, por violar o princípio de independência do órgão, previsto no Código Eleitoral e na Constituição da República. Contudo, a decisão não foi unânime entre os membros do tribunal. O Juiz Conselheiro Aristides Lima, no seu voto dissidente, argumenta porque essa norma, por si só, não é uma violação desse princípio.

“2025 vai ser o ano de todas as ansiedades”
Com uma larga experiência no poder local (foi presidente da Câmara Municipal dos Mosteiros), legislativo (deputado da Nação e vice-presidente da Assembleia Nacional) e executivo (ministro do Trabalho e Solidariedade e ministro da Administração Interna), além de dirigente do PAICV, onde exerceu o cargo de secretário-geral, Júlio Correia é conhecedor das dinâmicas políticas do país. Nesta entrevista sobre as perspectivas para 2025, o antigo político analisa os sinais e reflecte sobre os cenários políticos, sociais e económicos de Cabo Verde e critica o domínio de agendas partidárias de curto prazo sobre os interesses nacionais. Num mundo em transformação, marcado pela emergência de uma nova Ordem, que impõe consensos, abordam-se assim os desafios de um ano onde as tensões eleitorais prometem, pelo contrário, intensificar o dissenso.

2024: Retrospectiva de um ano “quente”
O ano de 2024, o ano mais quente desde que há registos, foi marcado não só pelas temperaturas extremas, como por um cenário com várias frentes de guerra e uma escalada de tensão ao nível mundial. Na Ucrânia, a guerra contra a Rússia intensificou-se e no Médio Oriente, o conflito entre Israel e o Hamas atingiu níveis alarmantes, com graves consequências humanitárias e críticas internacionais. Em ambos os conflitos, há um rastilho que se estende a outras nações e faz periclitar a frágil “estabilidade” mundial. O futuro é uma incógnita, mas a herança para 2025 é pesada.

“Continuamos a esperar resultados diferentes, mas com os mesmos actores e as mesmas políticas”
Um mundo em ebulição, e um ano que se revela complicado para todos. Por cá, continuamos “a viver como se os problemas globais fossem algo distante” e a esperar resultados diferentes com os mesmos actores e práticas. A observação é de Manuel Brito-Semedo que escolhe a palavra incerteza para perspectivar 2025, numa entrevista em que também se passa em revista 2024.

Há muita gente a viver numa redoma, numa espécie de condomínio fechado
Num momento em que, segundo a Afrosondagem, a confiança dos cabo-verdianos nas instituições, incluindo nos líderes religiosos, está em queda, Dom Ildo Fortes reflecte sobre os desafios da Igreja e da sociedade contemporânea. Não sentindo essa quebra na sua vida pastoral, o Bispo do Mindelo contextualiza-a numa sociedade marcada pelo individualismo e pelo declínio geral das instituições. A conversa abordou ainda as relações humanas num mundo cada vez mais virtual, mundo esse a que a Igreja não está alheia e onde procura um lugar “ao serviço do evangelho”. Olhando esta sociedade algo alienada, onde a pobreza envergonhada de muitos convive com a riqueza de alguns, e onde cada um está cada vez mais centrado em si mesmo, o Bispo lembra que o amor e a solidariedade são o caminho para a felicidade humana. Nesta altura do ano, também não podia faltar a tradicional mensagem natalícia, em que Dom Ildo exorta à reflexão, num mundo em guerra fragmentada, e a que este “seja um Natal do ser, e não do ter”.
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