No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é relativo ao ano de 2023, Cabo Verde sobe na pontuação, mas mantém o 135.º lugar.
Apesar de ter tido uma das melhores avaliações de sempre (0,668 numa escala de 0 a 1, tal como em 2017), Cabo Verde ficou aquém da evolução média de outros países, o que explica a estagnação na classificação. Por exemplo, entre 2010 e 2023, o país registou uma evolução média anual de 0,23%, face a uma média de 0,83% na África Subsariana.
Analisando as três dimensões que compõem o IDH — esperança de vida à nascença, educação e rendimento — Cabo Verde destaca-se na longevidade, com uma esperança de vida de 76,1 anos. Este valor é o mais elevado entre os países do seu grupo de desenvolvimento humano médio, superando inclusive a média de países com IDH alto.
Já os dados relativos à educação são os mais preocupantes. Os “anos esperados de escolaridade” situam-se nos 11,4 (pouco acima dos 10,7 na região) e a “média de anos de escolaridade” dos adultos é de apenas 6,1, abaixo da média do grupo (6,8) e também da média da África Subsariana (6,2), no geral.
Por fim, o Rendimento Nacional Bruto per capita ajustado pela paridade do poder de compra é de 8.165 dólares, quase o dobro da média regional (4.352) e superior à média dos países com IDH médio (7.822).
No topo do ranking de 2023 está a Islândia, que sobe dois lugares, seguida da Noruega e da Suíça, ex-aequo. No fundo, na 193.ª posição, surge o Sudão do Sul.
O relatório alerta que os dados agora publicados não são directamente comparáveis aos de anos anteriores, devido à melhoria na recolha e tratamento estatístico. Já o PNUD em Cabo Verde esclareceu que, apesar de o país ter sido inicialmente colocado em 131.º lugar no relatório anterior (2022), a posição correcta — após revisão e actualização de dados — é a 135.ª. Ou seja, Cabo Verde não desceu no ranking em 2023: manteve-se na mesma posição.
Outros Índices
Além do IDH, o Relatório de Desenvolvimento Humano inclui outros indicadores que aprofundam a análise. Um deles é o IDH Ajustado à Desigualdade, que reflecte como o desenvolvimento é distribuído entre a população. Cabo Verde obtém aqui uma pontuação de 0,478, o que corresponde a uma perda de 28,4% no potencial de desenvolvimento humano devido à desigualdade. A disparidade é especialmente acentuada no rendimento (45,4%) e na educação (27,4%). Na saúde, a desigualdade é muito menor (7,6%) e inferior à média mundial.
No que toca ao Índice de Desenvolvimento de Género, que compara o IDH entre homens e mulheres, mostra que as mulheres vivem mais (79,2 anos contra 72,9 anos dos homens) e têm expectativas de escolaridade ligeiramente superiores (11,6 anos contra 11,1), mas continuam com menos anos efectivos de estudo (5,8 contra 6,3) e enfrentam forte desigualdade no rendimento: 5.998 dólares contra 10.259 nos homens. Cabo Verde integra o Grupo 2 neste índice, com uma avaliação de 0,964, o que aponta para uma paridade relativa entre géneros.
Já no Índice de Desigualdade de Género, que inclui aspectos como saúde reprodutiva, participação política, educação e trabalho, Cabo Verde pontua relativamente bem e sobe para a 77.ª posição.
Não há, entretanto, dados disponíveis sobre o país no Índice de Pobreza Multidimensional nem no IDH Ajustado às Pressões Planetárias.
Desaceleração, desigualdade e as oportunidades da IA
A desaceleração global no desenvolvimento humano, a mais baixa desde 1990, é destacada no Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, que também aponta uma crescente desigualdade entre países ricos e pobres. Segundo Achim Steiner, administrador do PNUD, se a tendência se mantiver, os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável de 2030 poderão ser adiados por décadas.
É neste cenário que o relatório 2025, intitulado "Uma Questão de Escolha: Pessoas e Possibilidades na era da Inteligência Artificial", explora como a IA pode impulsionar o desenvolvimento humano e abrir novas oportunidades.
Dados de uma pesquisa global revelam um optimismo generalizado em relação à IA, sobretudo em países com IDH médio e baixo, onde a maioria vê na tecnologia uma oportunidade para aumentar a produtividade e melhorar áreas como a educação e a saúde.
São apresentados resultados de uma pesquisa global que mostra um optimismo generalizado em relação à IA, sobretudo em países com IDH médio e baixo, onde a maioria vê na tecnologia uma oportunidade para aumentar a produtividade e melhorar áreas como a educação e a saúde.
Metade das pessoas acredita que seus empregos poderão ser automatizados, enquanto 60% vêem a IA como criadora de novas oportunidades. Apenas 13% temem que a IA cause perda de empregos.
O estudo traz vários dados sobre o uso e potencialidades da IA, e mostra que as suas possibilidades dependem de vários factores contextuais, como quem, onde, quando e como a utiliza. Apesar das discrepâncias, o uso da IA já é substancial (cerca de 20% dos inquiridos) em todos os níveis do IDH, sendo os estudantes os seus maiores utilizadores: 42% dizem usá-la frequentemente. Pessoas com maior escolaridade são os principais utilizadores, e os homens recorrem mais à tecnologia para fins laborais. Além disso, a confiança na IA tende a crescer com a sua utilização.
Entretanto, em meados de 2023, a maioria do tráfego mensal da web do ChatGPT veio de países de rendimento médio e as respostas do ChatGPT são culturalmente mais próximas das dos humanos em países com IDH muito alto, refere o relatório.
Apesar do uso crescente da IA, com um em cada cinco inquiridos a afirmar que já a utiliza, o PNUD alerta para a urgência de garantir acesso equitativo à tecnologia e infra-estruturas, mas, acima de tudo, em garantir que a IA complemente e aumente as capacidades humanas.
O documento conclui que o verdadeiro potencial da inteligência artificial reside no seu uso como ferramenta para ampliar capacidades humanas, não substituí-las, e o seu impacto será determinado pelas escolhas políticas e sociais. O PNUD propõe, assim, uma estratégia baseada em três pilares: Investir, Informar e Incluir, reconhecendo que o verdadeiro potencial da IA reside no investimento nas pessoas, não apenas nos algoritmos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1223 de 07 de Maio de 2025.