A frase é citada por Eduardo Galeano que a descobriu num muro de Quito (capital do Equador).
As frases soltas, as frases feitas têm sempre um matiz de premonição, de vagamente inquietante, que nos obriga a pensar duas vezes apesar de as desvalorizarmos imediatamente, após estes dez segundos de misticismo em que nos enredam.
Não sou tipicamente aglutinadora de frases feitas, não encho caderninhos com elas e não “saco” de uma sempre que quero brilhar em ocasiões sociais, mas reconheço que algumas dão jeito.
Esta não só dá jeito como é brutalmente inquietante, sobretudo se estivermos no domínio da Educação. Neste contexto, a palavra “Educação”, refere-se aos sistemas formal (escola) e informal (família), como baluartes do desenvolvimento individual e social.
Pensar a Escola a partir desta frase é afrontar de uma certa perspectiva todo o sistema em que a mesma está montada – um currículo fechado emanado do Ministério da Educação, reproduzido por um professor que tem de o cumprir escrupulosamente, e que supostamente deverá fornecer todas as respostas (em função do que é estipulado pelo currículo). Tudo o que for marginal a este não “deve” ser valorizado pela escola.
A frase/título contradiz todo este esquema, providenciando o pensamento em que assentam os novos paradigmas de ciência – baseados na instabilidade, na imprevisibilidade e na ausência de certezas – como o paradigma sistémico, a título de exemplo. Se a ciência é a base de fornecimento de matéria para os currículos de todo o mundo… porque será que a escola continua a funcionar como um papagaio reprodutor de conhecimento sem capacidade para integrar experiências marginais mas altamente compensadoras para as crianças e para os professores, quando estes estão abertos a estas.
Será que é mais importante uma criança conhecer de ”cor e salteado” toda a constituição do aparelho digestivo, estudado a “seco”, decorado, ou será mais aliciante fazer uma experiência ou um trabalho de projecto sobre a lagartixa que trouxe no bolso para escola e que fez um enorme sucesso junto dos colegas.
Pegue-se na lagartixa, investigue-se a lagartixa, esprema-se a lagartixa (salvo seja) e instiguem-se novas perguntas para novas respostas – nenhuma resposta é definitiva.
No amor como na educação, tudo é um jogo de roleta russa.
Nenhum professor e nenhuma escola poderá alguma vez almejar dar todas as respostas... se as perguntas estão sempre a mudar.
Fecho com outra frase emblemática (a única que cito muitas vezes) do Mestre João dos Santos – brilhante pedopsiquiatra português,
“Se não sabe porque é que pergunta?”
Para reflectirmos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 757 de 31 de Maio de 2016.