A Morna foi (e será) desde o seu aparecimento, fonte de inspiração de vários compositores.
Vasco Martins inspira-se neste género musical para compor os temas do seu último trabalho – “Viagens no imaginário da Morna”.
Numa altura em que a Morna prepara a candidatura à classificação como Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, nada poderia ser mais propício, que o aparecer desta obra, que quase celebra tal acontecimento.
Ao longo dos temas propostos, Martins faz presente, o que para ele são as várias influências da Morna, nomeadamente o Fado, ou a Modinha Luso-Brasileira.
Mergulhemos então nos esquiços destas sonoridades e …sigamos viagem, conforme propõe Vasco:
Começamos no “Canto das ilhas”. Seguindo, ao passar por “4 notas na cidade”, ouvimos sonoridades conhecidas. Martins baseia-se no refrão sanvicentino das vendedeiras de peixe: “ oli cavala fresk” que de forma subtilmente mágica, transporta-o para a Morna…ou para a obra sinfónica baseada na Morna…conforme quisermos.
Continuando, um título interessante - “Como uma moeda de prata”. Esta composição é dedicada a António Aurélio Gonçalves, que finaliza fazendo referência à Mazurca, ritmo querido de Nhô Roque. Para além da belíssima estória do título do tema (autoria do escritor), musicalmente é de uma beleza estonteante.
Antes de chegarmos às “ Noites Magicas”, inspirada em “Noite de Mindelo” de B.Leza, ouvimos ao longe a guitarra portuguesa de Ricardo Silva fazendo-nos lembrar “Um deserto ao Sul”.
A viagem acaba com o tema”Airoso”, onde sentimos a presença subtil de um hino. Segundo o autor, é uma homenagem a Eugénio Tavares, que compôs alguns.
Conduzida pela Orquestra Clássica do Centro sob a batuta do Maestro José Eduardo Gomes, a viagem recomenda-se.
Conforme referiu Vasco Martins: “o meu testemunho como compositor à grandeza da Morna, a nível artístico, humano ou espiritual”. Partilha pura!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 762 de 06 de Julho de 2016.