Aqui nas ilhas perdemos um bocado o hábito e a cultura de uso e aproveitamento de ervas ou plantas para fins medicinais. Poucas pessoas ainda fazem o “ramedi di terra” que por muito tempo aliviou vários males comuns e melhorou a saúde geral das comunidades.
Mas hoje em dia a tendência global é o orgânico, o natural O mundo está a focar-se cada vez mais no retorno à utilização de matérias menos processadas e mais naturais, de preferência handmade e homemade.
Eu pessoalmente defendo que cada um faça o máximo que conseguir em casa, com as suas próprias mãos, garantindo a qualidade e o cuidado. Em Cabo Verde as ervas são muito activas e aromáticas devido ao solo fértil portanto, vamos ver como podemos utilizá-las melhor no nosso dia-a-dia. Podemos encontrá-las fácilmente à venda nos mercados e convém ter algumas em casa, em vasinhos. As mais comuns são hortelã, losna, alecrim, eucalipto, boldo, erva-cidreira, erva-doce, erva-príncipe ou capim limão (xali ou belgate). Uma das formas mais básicas de usá-las é fazer um extracto de ervas ou tintura que poderá ser usada de várias formas.
Tinturas são concentrados de ervas compostos de álcool e ervas ou raízes picadas. Desta forma conseguimos com sucesso conservar os compostos essenciais de plantas, raízes e resinas. Este método assegura uma longa preservação das ervas e dos seus nutrientes, tornando os extractos remédios naturais altamente eficazes. Podemos usá-los misturando gotas no sumo, chá ou água e beber todos os dias ou quando precisarmos, bem como utilizar como loção para fricção, para cosméticos e tratamentos de beleza caseiros, etc.
Para fazer a tintura, escolhemos a erva fresca e secamo-la, ou podemos comprá-la já desidratada. A tintura terá as propriedades da planta de onde foi extraída. Por exemplo, a de gengibre é estimulante, adstringente, anti-inflamatória, termogénica, assim como o gengibre; enquanto que a de camomila ou lavanda são calmantes e relaxantes, com as mesmas propriedades dessas plantas.
Neste processo precisamos de um solvente que poderá ser uma bebida alcoólica de boa qualidade como vodka ou grogue. Seja qual for a bebida alcoólica escolhida, ela deve ter 40% de álcool para impedir o crescimento de fungo do material vegetal no frasco. Também, pode-se usar vinagre de maçã de qualidade ou glicerina - (para uso não comestível) - mas não é um solvente tão eficaz quanto a vodka.
Vamos precisar de:
200 gramas de erva seca para 1 litro de álcool ou vinagre/glicerina.
frasco ou garrafa de vidro gase ou musselina
Sempre num frasco de vidro, (plástico ou metal podem provocar reações químicas com efeitos colaterais imprevisíveis) colocamos a planta escolhida e depois acrescentamos o solvente (se for vinagre, convém aquecê-lo um pouco) cobrindo totalmente as plantas e enchendo ainda mais alguns centímetros para quando o solvente for absorvido. O frasco é fechado com rolha e guardado num local escuro.
Deixamos durante 3-6 semanas e agitamos o frasco diariamente. Após este período filtramos os resíduos do extracto com a gase e o resultado é uma poderosa tintura natural com propriedades medicinais e duração de 3 a 5 anos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 779 de 02 de Novembro de 2016.