Quem tem medo da Baleia Azul?

PorExpresso das Ilhas,8 mai 2017 8:00

 

À conta de uma gripe “bedju” passei os últimos dois dias muito “colada” aos dispositivos móveis – telemóvel e livros. Por força das circunstâncias, acabei por ler muito sobre a mais recente paranóia online, que dá pelo simpático nome de “Baleia Azul”. Se um bom título fizesse sempre a obra, estaríamos descansados, pois que Baleia Azul é um nome que inspira coisas boas. “Só que não” – como me diz tantas vezes a minha filha.

Baleia Azul é o nome de um jogo (custa-me até designá-lo assim, desvirtuando tudo o que a palavra “jogo” encerra) que no último nível – 50, instiga e coage o jogador ao suicídio.

Isso, leu bem, ao suicídio. E não é ficção! No mundo, contam-se centenas de mortes de adolescentes e jovens por suicídio, que aparentemente estão ligadas ao Baleia Azul.

O jogo consiste em 50 desafios diários, propostos ao jogador por um “curador” e que inclui automutilação, culminando no desafio final em que é exigido ao jogador que tire a sua própria vida. Todo o jogo é envolvido em secretismo e os jogadores encontram-se sob ameaça (o “curador” exige provas fotográficas do cumprimento dos desafios e ameaça o jogador no caso deste querer desistir, alegando possuir informação sobre os seus familiares, etc).

Ora, com toda a propriedade, podemos dizer que a realidade é muito pior do que a ficção. Isto é real. Isto é horror puro. Confesso que quando comecei a ler, pensei imediatamente na minha filha, apesar de o perfil dos jogadores do Baleia Azul serem na sua maioria adolescentes e jovens com tendências suicidárias ou depressivas e a minha filha ter só 10 anos, não possuir este perfil e melhor (ufa!) não usar redes sociais.

É inevitável ter um filho a entrar na pré-adolescência e não pensar imediatamente nos riscos que corre (atravessar a estrada é um grande risco!).

A ameaça que este jogo comporta levanta uma série de preocupações a que devemos atender antes de qualquer outra coisa. Como estamos a educar os nossos filhos? Que rede de suporte somos para os nossos filhos? Qual o espaço que o “mundo virtual” ocupa na vida deles? Quem são os nossos filhos? Esta deve ser uma preocupação central – conhecê-los e fazê-los saber que estamos disponíveis para eles, para o melhor e para o pior.

Que lhes damos colo, apesar de terem tatuado na pele uma baleia com um x-acto, a mando de um “curador”, e que, apesar disso, continuamos a amá-los incondicionalmente.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 805 de 3 de Maio de 2017.

 

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Autoria:Expresso das Ilhas,8 mai 2017 8:00

Editado porDulcina Mendes  em  5 mai 2017 18:12

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