Aceitei o desafio da Lifestyle, do Expresso das Ilhas, e decidi falar sobre fotografia, umas das minhas grandes paixões. O meu primeiro contacto com uma máquina fotográfica foi ainda em criança. O meu pai tinha uma Canon FTb, com uma lente de 50mm, e em determinados momentos assumia a câmera, mesmo que fosse apenas para sentir o “poder” de a ter e de a tocar. Talvez tenha sido por isso que, recentemente, o meu pai me tenha oferecido a máquina, que além de ter um tremendo valor sentimental, é uma relíquia na era das máquinas digitais. Portanto, acredito que o interesse tenha começado naquela época, mesmo tendo ficado adormecido por longos e vários anos. Mas, mais uma vez, o destino fez das suas e, a partir de 2014, por motivos profissionais, tive contacto com uma máquina semi-profissional, uma Nikon D3100. Entre aprender a manuseá-la e assimilar algumas técnicas básicas de fotografia, recebi, de presente, uma Canon D600. Lembro-me da euforia e do entusiasmo daquele dia. Completamente radiante, mal dormi e acordei cedo no dia seguinte, tal qual uma criança, para sair para fotografar. Desde então, a câmera tem sido minha fiel companheira, fonte de prazer e válvula de escape… digamos que uma terapia!
Já tive oportunidade de dizer que me considero um jovem irreverente, que observa, com um olhar crítico, Cabo Verde e o mundo que me rodeia, e não há melhor forma de expor o nosso olhar crítico do que através da fotografia. Nas minhas fotografias gosto essencialmente de retratos, ou seja, rostos que mostram heterogeneidade e beleza, considerando a beleza como algo abstrato, passível de várias interpretações. Assim, no retrato de cada rosto procuro contar uma estória de vida diferente e nisso uma das minhas inspirações tem sido Lee Jeffries, fotógrafo amador do Reino Unido, que viajou pelo mundo para fotografar os sem-abrigo, os anjos perdidos nas ruas das grandes cidades. Sinto-me atraído tanto pela beleza do que é velho como pelo caos, e a música está também fortemente presente no meu olhar fotográfico.
No entanto, não me considero um “fotógrafo”, aliás, estou longe de o ser, até pelo respeito que tenho pelos profissionais da área, mas considero-me um colecionador de momentos e vou guardando-os no meu baú de fotografias.
Concluindo, fotografia é, para mim, a radiografia plena da alma ou de um momento. É transformar uma imagem numa poesia sem estrofes, que ecoa pela interpretação silenciosa dos nossos olhares. Fotografia é, também, a música que nos invade subtil ou abruptamente. É arte e arte é vida. Se vida é amor, fotografia é, para mim, amor ao primeiro click, à primeira vista!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 860de 23