Através dela, expressamos os nossos sentimentos, a maneira como olhamos e celebramos a vida, as nossas preocupações e alegrias.
Assim, há projectos que retratam na íntegra este modus, arrastando-nos, e quase nos dizendo: partilhem tudo connosco… sobretudo a música e a vida.
Se juntarmos ao que acabo de referir uma considerável capacidade técnica dos músicos bem como a motivação dos mesmos para a tal partilha (estado que só os músicos em estado adulto atingem), onde a música assume o papel principal… e não os músicos, é fácil perceber os patamares de musicalidade que atingimos.
O projecto Afroband – conjunto di Zumbi - será um dos exemplos do que acima foi mencionado, sobretudo quando estamos num país onde, com relativa frequência, vemos a exaltação pessoal a sobrepor-se à música…como se isso algum dia fosse possível!
IdukaSON Jeral - é constituído por músicos de elevada qualidade como Duka e Kako Alves que enriquecem o instrumental do disco. Toda a construção conceptual passa por Kwame Gamal – activista social com provas dadas em inúmeros projectos que tem levado à frente que aborda aqui uma selecção de temas de considerável importância sociocultural, com acentuada vertente pedagógica que vai da educação cívica, à cultura da paz, ao ambiente, saber, africanismo e nossas origens, até ao amor de uma forma global. Fica clara a preocupação e cuidado com o instrumental, as mensagens passadas pelas letras e a qualidade de gravação.
Contudo, o mais importante do disco todo roda à volta do seu personagem principal – o jovem músico, baterista e baixista, líder da banda que na altura da gravação do disco tinha apenas 14 anos – o Zumbi
Definir o amor de Zumbi pela música é difícil, de tão grande que é. Prefiro sublinhar aqui versos de um dos temas que fala de Zumbi: “Se brinquedo é música|Se alegria é som|Se sonho é palco” como canta com uma enorme dose de carinho, a mãe – Talina Ben.
Para além de todos estes ingredientes, resta ainda a enorme satisfação em ver a aproximação de ritmos cabo-verdianos como a Tabanka ou o Funaná, ou de instrumentações como as do Jazz ou do Funky , ao universo infanto-juvenil…e como é preci(o)so!
Ainda…louvor total à edição de autor.
Estrada grande, para o prodígio Zumbi, que um dia se apaixonou de forma genuína pela música.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 869 de 25 de Julho de 2018.