Cizo Gambôa encontrou a costura em casa tendo tudo começado com a bisavó, passando para a avó e depois para a sua mãe. “Esta área é que me escolheu porque desde muito cedo tive contacto com a costura. A minha mãe era costureira e, antes da minha mãe, a minha avó também foi costureira e a minha bisavó também. É algo que está no meu ADN, pois passou de geração em geração. Desde muito cedo, quando a minha mãe fazia esse trabalho eu, em vez de brincar na rua com os meus colegas, ficava ao pé dela a ver o que ela fazia. Aí começou a surgir essa paixão pela costura”.
Aos 16 anos, Cizo Gambôa passou a se dedicar profissionalmente à costura trabalhando com várias pessoas até que decidiu criar o seu próprio espaço.
“Primeiro fui trabalhar no Atelier Afil’s, na Várzea, depois na Confecções Alves Monteiro, a seguir com o costureiro Pinto e depois disso fui trabalhar com um guineense por três anos onde aprendi a técnica de lidar com a capulana”, conta.
Cizo Gambôa continuou a sua caminhada tendo trabalhado com uma tia que fazia vestidos de damas de casamento. “Acumulei todas estas experiências e criei um estilo próprio de fazer o meu próprio trabalho. Em 2012 comecei a dar os primeiros passos e a caminhar com as minhas próprias pernas”.
Essa caminhada, conforme conta Gambôa, tem valido a pena pois, desde então, tem conquistado cada vez mais clientes. “A minha habilidade em fazer cada vez melhor e a sede de aprender levou-me a experimentar novas técnicas como forma de fazer as coisas com resultado diferente e com melhor qualidade”.
Apesar das dificuldades, que diz ter enfrentado, Cizo Gambôa acredita ter feito uma boa escolha. “Acredito que fiz uma boa escolha e a pandemia talvez tenha surgido para nos ensinar alguma coisa e não para nos inibir de concretizar os nossos sonhos e os nossos objectivos”.
“Estou confiante e à espera do momento oportuno para reactivar o meu negócio, procurar mais colaboradores e criar um espaço maior, algo que sempre tive em mente, mas que a pandemia fez balançar. Tenho que ir com os pés no chão, não dando um passo maior que as minhas pernas”, frisa.
Marca
Depois de alguns anos de luta, Cizo Gambôa é hoje um estilista conhecido e com marca própria. “Criei o meu próprio estilo, inspirei-me naquilo que vejo no quotidiano”.
Para este jovem, o trabalho tem sido desafiador. “Tenho estado a fazer fatos para casamentos e as pessoas procuram-me, talvez por causa da minha habilidade que está agora melhor que nunca”.
“Acredito que em Cabo Verde ainda não existem pessoas especializadas em fatos tendo direccionado a minha atenção para isso, estando, inclusive, no momento, a fazer mais fatos para casamento. As pessoas têm estado a procurar-me para fazer fatos, mas também faço uniformes escolares e para empresas, entre outros. E, como trabalho por encomenda, faço o que os clientes pedem”, explica.
Além de fazer roupas para casamento e outras ocasiões, Cizo Gambôa já vestiu vários artistas, inclusive para a Gala dos Cabo Verde Music Awards (CVMA).
Pandemia
Com a pandemia, Cizo Gambôa teve que se reinventar para poder sobreviver. “Com a pandemia passei a fazer máscaras, nunca imaginava fazer máscaras, e outros trabalhos que fazia antes, nomeadamente bolsas e carteiras, estofos, cortinados e, como estava sozinho no trabalho, tive que fazer aquilo que os clientes pediam para fazer”.
Projectos
Criar um espaço de formação na área de corte e costura, modelagem, desenho, fotografia, é o que o jovem estilista pretende realizar. “Além disso, tenho outros projectos e almejo ir mais longe e apresentar a minha marca nas grandes passarelas fora de Cabo Verde e, quem sabe, ser reconhecido internacionalmente “. Conta que já recebeu convites por duas vezes, mas infelizmente não teve condições para sair já que “quando te preparas para lançar uma nova colecção tens que parar a produção e fazer um conjunto de coisas outras”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1065 de 27 de Abril de 2022.