Ao Expresso das Ilhas a mãe de Angélica, Susana Mandl, conta que sentiu necessidade de alfabetizar a filha quando ainda estava grávida do segundo filho e pensava nas dificuldades que teria em acompanhar os estudos da mesma, quando o bebé nascesse. Assim, com apenas cinco anos, Susana começou a mostrar as letras à filha.
“Cada dia escrevia uma letra diferente num papel e na sua mão direita escrevia essa mesma letra em maiúscula e na mão esquerda minúscula. Então dizia "Hoje esse é o seu amigo, o seu nome é a letra A e todos a quem encontrares podes apresentá-lo", narra.
Cada pessoa que Angélica encontrava, apresentava o “amigo” que a mãe tinha-lhe, literalmente posto nas mãos. Um exercício que a ajudou a aprender todo o alfabeto.
“Fizemos um dado com as letras mais difíceis como o Z e o W. Jogávamos esse dado e ela tinha de falar palavras com a letra que calhasse. Tudo na brincadeira e sem nenhuma pressão”, recorda a mãe.
Mais tarde, Susana começou a ensinar as sílabas através do método silábico. Quando chegou a letra N, Angélica notou que era igual às outras letras e, automaticamente, fez o mesmo com as restantes letras.
“No segundo ano do jardim já sabia ler e escrever perfeitamente”, diz.
Youtube foi um aliado
Susana Mandl, dentista de profissão, não tinha nenhum conhecimento em pedagogia. Confirme conta, começou a assistir vídeos de como os professores, na maioria brasileiros, alfabetizavam os alunos e adoptou as técnicas.
“Através da internet, apendi vários truques, jogos e brincadeiras que ajudam. E agora que a Angélica já sabe ler e escrever, está a aprender o inglês. Ela aprende não apenas a ler e a escrever, mas a fazer a interpretação de textos, a dar respostas completas, fazer análise de gráficos, matemática, ela faz contas de adição, subtração e agora está a aprender a multiplicação”, explica.
Susana conta que foi muito crítica, principalmente pela mãe (avó de Angélica), como também por vizinhos e amigos que alegavam que o ensino precoce prejudicaria a filha quando fosse para a escola.
“Diziam que quando fosse para a escola ia perder o interesse porque não teria nada de novo para aprender. Mesmo assim, insisti. Felizmente, encontrou uma professora que entendeu o seu caso e dá-lhe matérias diferenciadas”, orgulha-se.
Hoje, segundo Susana, Angélica para, pensa e consegue resolver qualquer questão que estiver ao seu alcance.
Esta mãe, diz ainda que imprime várias actividades e jogos disponíveis na rede social Pinterest, para ajudar a filha. Nesse sentido, apela aos pais a abraçarem esta ideia de alfabetizar seus filhos antes de irem à escola.
“Estamos numa era em que as crianças querem apenas jogos de telemóvel, televisão, mas há muitas brincadeiras e jogos que podemos fazer. Quero cativar as mães e os pais a ensinaram os seus filhos e não esperar que a escola faça esse trabalho, mas também a ficarem em sintonia com as escolas, porque o tempo da escola é muito pouco, super limitado”, apela.
Professora diz ser desafiante
Em 25 anos de profissão, Marlice Brito afirma que nunca antes tinha trabalhado, logo no primeiro ano, com uma criança alfabetizada.
“Alguns alunos, poucos, chegam, às vezes, com algum ou outro conhecimento. Mas, já alfabetizado é a primeira vez desde que sou professora”, relata.
Marlice Brito diz sentir-se orgulhosa de saber que há pais que entendem que as crianças com cinco anos aprendem de forma livre, tranquila e brincando.
“Gostaria que outros pais seguissem esse exemplo, seria a melhor coisa para os professores nessa sociedade de hoje. Quando ensinamos os nossos filhos em casa, traz a todos nós orgulho e satisfação e facilita o nosso trabalho”, frisa.
Trabalhar com uma criança tão pequena já alfabetizada é, conforme a professora, um desafio grande uma vez que tem de trabalhar de forma diferenciada.
“Mas, também é uma satisfação grande porque ajuda-me no meu trabalho com os seus colegas. Ela apoia os seus colegas. Além de que aprendo, com a Angélica, algumas estratégias de como ensinar de formas mais simples” emociona-se.