Viktor Ianukovich é alvo de um mandado de captura por “homicídio em massa”, anunciou o actual responsável pelo ministério do Interior ucraniano, adiantando que o Presidente destituído foi visto pela última vez, domingo à noite, na região autónoma da Crimeia.
“Foi aberto um inquérito criminal por homicídio em massa de manifestantes pacíficos contra Ianukovich e vários outros responsáveis”, escreveu na sua página no Facebook Arsen Avakov, indicado pela oposição para chefiar o ministério do Interior até à tomada de posse de um governo interino.
Os últimos números oficiais apontam para 88 mortos, a maioria manifestantes, nos confrontos da última semana em Kiev. Quinta-feira, dia em que era suposto vigorar uma trégua, foi o dia mais sangrento, com dezenas de pessoas baleadas depois de os manifestantes terem investido contra a polícia. Vários vídeos amadores mostram os manifestantes a ser atingidos por disparos, alegadamente de snipers.
Ianukovich foi destituído pelo Parlamento no sábado, horas depois de ter abandonado Kiev. Numa declaração transmitida pela televisão ao final do dia assegurou que não pretendia demitir-se e declarava ilegais as acções do Parlamento, mas não é claro quando e onde foram feitas a gravação.
No sábado, foi noticiado que estaria em Kharkov, cidade no Leste da Ucrânia, e já na manhã de ontem a guarda fronteiriça disse ter recusado autorização para que o avião em que ele viajava descolasse do aeroporto de Donetsk em direcção à Rússia.
Avakov escreveu, no entanto, que o Presidente destituído foi visto pela última vez a sair de uma residência em Balaclava, na península da Crimeia, tendo abandonado o local, na companhia de um assessor, num automóvel que seguiu para local desconhecido. Situada no Sudeste da Ucrânia, a Crimeia é uma região autónoma onde a maioria da população é de etnia russa. Moscovo tem também ali, no porto de Sebastopol, uma das suas mais estratégicas bases navais, onde está fundeada a Frota do Mar Negro.
Resposta russa
De Moscovo chegou o aviso de que uma aproximação da Ucrânia à União Europeia irá ser respondida com o aumento das taxas aduaneiras para os produtos ucranianos. "Dizemos à Ucrânia: é claro que vocês têm o direito a escolher a vossa via", afirmou o ministro da Economia russo, Alexei Oulioukaev, num artigo de opinião no diário alemão Handelsblatt, citado pela AFP.
O responsável fazia referência à possível assinatura de um acordo comercial da Ucrânia com a UE, que já estava prevista para Novembro. Foi a recusa de Ianukovich em avançar que deu início aos protestos contra a sua governação. Caso o compromisso se estabeleça "iremos ver-nos na obrigação de aumentar os direitos aduaneiros das importações", acrescentou Oulioukaev.
O ministro deixou claro que a assinatura de "um [acordo] não é compatível com o outro". Afirmando ser "claro" que a Ucrânia irá enfrentar "uma recessão", Oulioukaev sublinhou que "muitos fundos de investimento vão retirar o seu dinheiro da Ucrânia, e a maior parte imediatamente depois da Rússia".