Quénia: Terrorismo, etnias e tensão política

PorExpresso das Ilhas,15 jul 2014 0:00

O Quénia tem vindo a enfrentar uma série de ataques terroristas, a maior parte dos quais reivindicada pela milícia islâmica somali Al-Shebab. Mas este não é o maior desafio do país. Análises mais aprofundadas apontam para um recrudescimento da tensão política, numa nação que ao longo de meio século de independência tem sido marcada pelos conflitos étnicos. Apontado como um dos países mais atractivos de África, a insegurança e fossos sociais pode expôr a sua vulnerabilidade e pôr em risco a sua economia.

 

Em apenas um par de semanas, diferentes ataques, alguns dos quais em simultâneo, provocaram várias dezenas de mortos na costa do país. No passado fim-de-semana, dois ataques provocaram mais de 20 mortes que se somam à já longa lista.

De acordo com a imprensa internacional, o primeiro ataque ocorreu na região de Tana, quando homens armados entraram numa esquadra de polícia e assassinaram uma dezena de pessoas.  O assalto teria como intenção libertar um companheiro detido por matar outras dezenas de pessoas numa acção similar. O outro ataque aconteceu na região de Lamu e o alvo foi um centro comercial. Pereceram mais de dez pessoas e várias ficaram feridas, de acordo com a Cruz Vermelha. Os rebeldes incendiaram ainda alguns edifícios.

A Al-Shebab, que em 2012 anunciou a sua adesão formal à al-Qaeda, reivindicou os dois ataques que, de acordo com a milícia radical islâmica, são motivados pelo desejo de vingança pelo assassinato de clérigos muçulmanos no país e pela presença de tropas quenianas na Somália.

 

Etnocracia

Apesar das acções, cada vez mais frequentes do grupo islamita, a grande preocupação, escreve o New York Times numa reportagem, nem são os ataques mas continua a ser a governação. O Quénia é uma democracia, mas a política é determinada quase exclusivamente pelas linhas étnicas.

As pessoas votam no representante do seu grupo étnico e as etnias fazem coligações. E todos fazem aproveitamento político dos ataques.

Actualmente, destaca-se uma série de acções do governo com vista a um maior controle, nomeadamente a ameaça de iniciar um programa de vigilância de bairros em todo o país, que os críticos dizem que é equivalente a uma rede de espionagem interna.

Num artigo de opinião, publicado no site da Al Jazeera, o escritor e cartoonista queniano Patrick Gathara acusa o presidente Kenyatta de ter politizado o ataque à cidade costeira de Mpeketoni, onde cerca de seis dezenas de pessoas perderam a vida, perante a inépcia dos serviços de segurança, para por sua vez atacar a oposição. O Al-Shebab reivindicou o ataque, mas o presidente, em discurso à nação preferiu apontar o dedo a “redes de políticas locais” nebulosas, culpando a oposição de promover uma desarmonia étnica que teria motivado a tragédia.

Este aproveitamento político, diz Gathara, tem levado a que medidas inconstitucionais passem em branco, nomeadamente a proibição de os apoiantes de Raila Odinga – ex-primeiro ministro e principal oponente de Kenyatta nas eleições de 4 de Março de 2013 – se envolverem em acções de massas.

Mas as críticas não são apenas dirigidas ao governo. Este queniano considera que tanto o executivo como a oposição têm-se mostrado desinteressados em abordar as causas do fracasso dos últimos 15 meses pós eleitorais. Mais, a elite governante tem constantemente exagerado as diferenças étnicas como uma cobertura para a corrupção. Essa elite “está a criar a animosidade tribal e  medo para contornar a discussão real e significativa sobre as causas da nossa penúria, sobre as verdadeiras razões da nossa insegurança”, escreve.

 

Atractividade

Apesar do clima de instabilidade, casuada pelos problemas sociais e pelos terroristas,  o do NYT destaca que o Quénia continua a ser um país atractivo para os estrangeiros.

Na capital, Nairobi, surgem novas construções, sofisticadas, que estão a ser financiadas por investidores da Europa e do Oriente Médio. Estão a ser construídas novas estradas, pontes, shoppings, e em Junho o país protagonizou a maior estreia africana de Eurobond. “Uns impressionantes 2 biliões”, escreve o jornal americano.

Uma das razões para a confiança do mercado é a economia diversificada do Quénia, com agricultura, turismo, novas descobertas de petróleo e gás, um sector de serviços em expansão, só para frisar alguns sectores.

“Embora os ataques terroristas sejam preocupantes, o histórico desenvolvimento de negócios, e do tamanho da sua classe média, indicam anos de crescimento, dizem os investidores”.

Porém, “há uma grande divergência entre os mercados e como as pessoas se sentem no terreno. Isso preocupa-me”, confessou ao NYT Aly-Khan Satchu, um consultor de investimentos de Nairobi.

 

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Autoria:Expresso das Ilhas,15 jul 2014 0:00

Editado porExpresso das Ilhas  em  31 dez 1969 23:00

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