Os austríacos deram ao Partido Popular Austríaco (ÖVP) praticamente 35% dos votos nas eleições europeias, uma diferença de mais de dez pontos percentuais em relação à segunda força mais votada. Apesar disso, os sociais-democratas do SPÖ e o partido nacionalista FPÖ votaram a saída do seu líder e chanceler da Áustria, Sebastian Kurz.
Para o analista político austríaco Andreas Maislinger, a vitória do partido de Kurz nas europeias, com um resultado acima do previsto, "não foi uma surpresa".
"Justifica-se com a competência do cabeça de lista, Othmar Karas, e com o forte empenho de Sebastian Kurz", mesmo depois de um escândalo político que abalou o país, e que envolveu o vice-chanceler, líder do partido de extrema-direita, sublinhou em declarações à Lusa.
Heinz-Christian Strache, anunciou a sua demissão do executivo e do partido depois das revelações de ligações comprometedoras com a Rússia, envolvendo a adjudicação de contratos públicos em troca de apoio financeiro ao partido. Depois disso, todos os ministros do FPÖ abandonaram o Governo, sendo substituídos por membros do ÖVP.
"Fosse ou não afastado do governo [através de uma moção de censura], Sebastian Kurz sairia sempre a ganhar e mais reforçado. Este chumbo ao governo surgiu como consequência dos resultados do SPÖ nas eleições e por cooperar com FPÖ [formando uma coligação]", revelou Maislinger, sublinhando que será precisamente o partido social-democrata austríaco a sofrer as consequências.
"Neste momento o SPÖ tem um problema com a sua credibilidade. Era um partido com orgulho e de sucesso, mas o que querem hoje em dia? Alguns dos meus conhecidos e militantes estão incomodados com o partido pois parece estarem a brincar com a liberdade", frisou o politólogo e historiador.
Sebastian Kurz propôs ao Presidente eleições antecipadas e manter-se como chanceler até à votação, que deverá realizar-se em Setembro. Com a moção de censura, a Áustria fica com um Governo de gestão durante os próximos meses.
"Acredito que Kurz será o candidato pelo ÖVP e que conseguirá mais de 40% dos votos. A questão é quem poderá substituir a atual líder do SPÖ, Pamela Rendi-Wagner que já não reúne consenso dentro do partido", considerou Andreas Maislinger.
Sebastian Kurz, de 32 anos, assumiu o poder em finais de 2017 e foi o primeiro chanceler austríaco a ser derrubado por moção de censura.
Nos últimos dias, o FPÖ tinha intensificado os ataques contra Sebastian Kurz e as críticas à forma como o chanceler geriu as consequências do escândalo que ficou conhecido como "Ibizagate".
A queda do Governo austríaco acontece depois de o ÖVP de Sebastian Kurz ter conseguido no domingo a melhor votação alcançada por um partido austríaco em eleições europeias, desde a adesão do país à União Europeia, em 1995.
O partido de Kurz foi a força mais votada na Áustria, com 34,90% dos votos, o que representa a eleição de sete dos 18 eurodeputados que o país conta no Parlamento Europeu (PE), segundos os últimos resultados provisórios conhecidos.
Já o SPÖ alcançou 23,40% dos votos (equivalente a cinco eurodeputados), enquanto o FPÖ obteve 17,20% dos votos, o que representa a eleição de três eurodeputados.
Segundo uma recente sondagem, a maioria dos austríacos era favorável à manutenção de Kurz no cargo de chanceler.