Balanço do Ano de 2019 - Internacional

PorVicente de Paiva Brandão,1 jan 2020 15:44

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O ano que findou foi recheado de acontecimentos importantes, e representa, em vários aspectos, uma incógnita para os tempos vindouros.

Nos Estados Unidos da América (EUA), o presidente Donald Trump, manteve uma política “musculada” e afirmativa, baseada no potencial económico e militar de Washington.

As tensões com o México, a China, a União Europeia (UE) e, mesmo, no seio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), reflectiram o estilo da liderança norte-americana.

No caso do país latino-americano, o atrito relaciona-se com a pressão migratória, que remonta, sobretudo, aos problemas relacionados com a crise venezuelana.

O êxodo provocado pela falta de produtos essenciais como alimentos básicos, medicamentos, entre outros, conduziu à deslocação de cidadãos oriundos deste país para os Estados vizinhos.

Este constrangimento notou-se, sobremaneira, no Brasil e no México.

No último caso, o problema não se situa apenas em redor dos emigrantes mexicanos, mas no facto de este ser um território de passagem, para quantos almejam uma vida melhor a Norte.

A Administração Trump, mais cautelosa, face aos anos anteriores, tem declarado que a preocupação é, precisamente, com todos aqueles que neste momento trabalham em solo americano. Uma vinda maciça de estrangeiros, poderia colocar em risco, os postos de trabalho, dos que já se encontram legalmente a residir nos EUA, independentemente da sua nacionalidade de origem.

No que respeita à China, e face ao crescimento económico e militar registado por Pequim, a situação é mais complexa.

Trata-se de uma entidade soberana que é simultaneamente uma civilização, como bem observou Tim Marshall, na obra “Prisioneiros da Geografia”.

Os arrufos comerciais representam a face visível de uma rivalidade de maiores proporções.

Na realidade, trata-se de apetências globais que, para além da Ásia, espaço de influência natural da China, estende-se, igualmente a África, onde por exemplo, Cabo Verde, tem representado um ponto de confluência de interesses, na procura de uma visibilidade mais assertiva no Atlântico Sul.

Contudo, os agastamentos não impedem áreas de convergência, como se verifica no caso do combate ao terrorismo e ao tráfico de armas de destruição maciça.

As relações com a União Europeia também não têm sido fáceis.

Washington tem apoiado a saída do Reino Unido, no decurso de uma agenda conservadora, que visa o enfraquecimento do projecto europeu, nomeadamente devido a razões económicas.

A ideia remonta ao pós-II Guerra Mundial. A Europa é a defesa avançada dos Estados Unidos, a leste, mas, por outro lado, isso não se deve traduzir numa força que a afaste da tutela da Casa Branca. Daí, as exigências para um contributo financeiro acrescido, no âmbito da OTAN.

Entretanto, iniciou-se a campanha eleitoral, onde Donald Trump ambiciona a reeleição, em 2020. Pelo meio, existe o espectro de um “impeachment”, isto é a destituição do Presidente, devido às pressões exercidas sobre o líder da Ucrânia, para este investigar os negócios de um filho de um alto quadro do partido democrata. Caso, o processo não avançasse, Kiev, não receberia o prometido apoio militar dos EUA.

Ora, o embaraço decorrente do conhecimento público das conversas, associado a uma hipotética influência da Rússia na eleição de Trump, em 2016, serão, certamente, temas inevitáveis nos debates que se avizinham, cujo desfecho podem ditar quem será o próximo inquilino da Casa Branca.

A Rússia, aparentemente, vive sem sobressaltos de maior. A liderança de Putin encontra-se firme e não se prevê que terceiros tenham a ousadia de se intrometerem na sua área securitária, que inclui a Ucrânia e a Geórgia.

Embora, ambos independentes, mantém litígios territoriais com Moscovo. O primeiro, devido à Crimeia, e o segundo relacionado com a Ossétia do Sul.

Apesar do recurso à força por parte do Kremlin, com o objectivo de conservar o “status quo” nas zonas disputadas, ninguém parece querer ir além de protestos de carácter, meramente, político.

A República Popular da China deparou-se, recentemente, com dificuldades relacionadas com a autonomia político-administrativa de Hong-Kong.

No acordo que estabeleceu a entrega do território à China, por parte do Reino Unido, concretizado em 1997, prevaleceram certos direitos inerentes à tradição jurídica britânica, nomeadamente, o que impedia a extradição de cidadãos para a China continental.

Consequentemente, uma série de protestos iniciados em Junho de 2019, alastraram nos meses seguintes, culminando com um referendo, em Novembro deste ano, que confirmou as expectativas do movimento pró-democracia.

Contudo, a legislação que sustenta as liberdades civis, pode ser revista em 2047.

Acresce que, atendendo ao poder emanado de Pequim, a coesão nacional é incontestável, bem como o estatuto de grande potência.

A prossecução do ideário “Um país, dois sistemas”, baseado, por um lado, na ortodoxia política comunista e, por outro, na convivência com o sistema capitalista, pode continuar a oferecer a estabilidade e a paz social desejadas, a par de um desenvolvimento surpreendente.

Contrariamente, o conflito no Médio Oriente continua sem solução visível.

O Irão não abdica do seu projecto nuclear, constituindo um foco de crispação na zona; Sobretudo, face aos receios de Israel e dos Estados Unidos, quanto à consolidação militar de um Estado apoiante de movimentos terroristas.

Simultaneamente, a polémica que divide israelitas e palestinianos, quanto ao estatuto de Jerusalém e da Faixa de Gaza, constituem entraves de difícil resolução.

O Brasil, liderado por Jair Bolsonaro, apresenta algumas incógnitas em relação ao futuro do país de maior dimensão da América do Sul.

A gestão financeira, a diminuição de assimetrias económico-sociais, a contenção da criminalidade organizada, a liberalização do acesso à posse e porte de armas, e a regulação dos vários interesses antagónicos, susceptíveis de desestabilizar a Amazónia, colocam desafios relevantes a uma presidência marcada, desde o início, pela controvérsia.

A forma como Bolsonaro lidar com estes temas, será decisivo para assegurar o seu futuro político.

A União Europeia depara-se, provavelmente, neste momento, com o seu maior desafio desde a respectiva criação: a saída de um dos membros mais relevantes da organização, isto é, o Reino Unido.

Após vários adiamentos, desde a anunciada desvinculação em 2016, Londres assiste a um impasse político que compreende as consequências dessa iniciativa, tanto para o país como para Bruxelas.

No que concerne ao primeiro, para além da economia e do acordo com a EU, suscita-se, ainda, a problemática em redor do posicionamento da Escócia e da Irlanda do Norte.

Face ao segundo, importa saber como a burocracia europeia irá lidar, ao nível da reorganização, redefinição de objectivos e projecção de poder.

Finalmente, as preocupações ambientais, assumiram, definitivamente, em 2019, um lugar cimeiro na agenda internacional, protagonizadas, em grande parte, pela jovem activista sueca, Greta Thunberg.

Independentemente das polémicas, envolvendo eventuais apoios, ideologicamente menos claros, trata-se de um tema a que ninguém deve ficar indiferente. Afinal, trata-se da sobrevivência do Planeta e de tudo o que isso representa; Nomeadamente, a responsabilidade de todos e de cada indivíduo em prolongar, nas gerações vindouras, um legado único e insubstituível.

* O autor é Académico/Investigador 

doutorado em Relações Internacionais e Ciência Política 

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Autoria:Vicente de Paiva Brandão,1 jan 2020 15:44

Editado porSara Almeida  em  3 jan 2020 7:14

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