“Este é um tema que me preocupa muito, porque as redes sociais transformaram a nossa relação com a linguagem de uma maneira muito importante, que afecta a nossa democracia e o nosso comportamento como cidadãos”, afirmou o escritor em entrevista à agência Lusa, a propósito do lançamento em Portugal do romance “Os Informadores”.
Na opinião do autor, “sem se darem conta, os usuários das redes sociais são personagens de uma história mentirosa, de um relato mentiroso que se constrói todos os dias, com os ‘tweets’ e os ‘posts’ de Facebook, que nos tiraram a certeza do que é falso e verdadeiro”.
A este propósito, Juan Gabriel Vásquez recorda como recentemente, em Espanha, um partido de extrema direita, VOX, “chegou ao poder sobre calúnias e mentiras e desinformação”, e com eleitores que afirmam que não vem jornais, mas vêem redes sociais, que é “onde está a verdade”.
“E assim chegam partidos extremistas ao poder”, considera, afirmando que esta é uma consequência da nova narrativa que veio com as redes sociais”.
Essa narrativa a que se refere é a da “divisão entre ‘os que estão comigo e os que estão contra mim’ e ‘os que não estão comigo são os inimigos dentro do país’”.
“Para isso é necessário meter medo às pessoas e irritar as pessoas. A raiva e o medo são as duas emoções que alimentam o populismo. Nunca houve na história humana uma ferramenta mais eficaz para a raiva e o medo do que as redes sociais”, afirma o escritor.
Na opinião de Juan Gabriel Vásquez, esta é a razão por que se assiste nos dias de hoje ao fenómeno de ascensão de movimentos nacionalistas um pouco por todo o mundo.
“Os nacionalismos sempre existiram, a política identitária sempre existiu, mas nunca os movimentos populistas que chegam ao poder foram tão poderosos como agora”.
A este propósito, recorda como, nos anos de 1930, a revolução tecnológica que foi o surgimento da rádio ajudou ao surgimento dos populismos.
“A rádio serviu a Hitler, a rádio serviu a Mussolini, para levar a mensagem de medo e de ódio a muita gente ao mesmo tempo. Encontro um paralelo com o que se passa agora com as redes sociais”, afirmou.
Para o autor, as redes sociais “tinham de ser uma ferramenta de democracia, podiam ser usadas como forma de dar voz a pessoas que nunca se fazem ouvir, mas na realidade deixámos que as dominem as mentiras, o lado mais obscuro da politica, os ressentimentos, os medos, o ódio, e o resultado é o que estamos a assistir”.
Escrevendo sempre a partir de episódios reais, Juan Gabriel Vasquez considera que o romance tem o papel de revelar “as verdades importantes que as redes sociais estão a esconder, sobre o que somos como seres humanos e sobre como funciona a sociedade”.