​Cáries em 85% das crianças de bairros no Seixal onde predomina a comunidade lusófona

PorExpresso das Ilhas, Lusa,5 set 2020 7:34

Cerca de 85% das crianças residentes em seis bairros desfavorecidos do concelho do Seixal, onde predomina a comunidade lusófona imigrante, tinham cáries dentárias e a falta de dentes era frequente nos adultos, segundo identificou um projecto de inclusão social.

Otávio Rodrigues é médico dentista e presidente da Associação Portuguesa Promotora de Saúde e Higiene Oral (APPSHO), estando na génese da associação de Profissionais de Saúde da Diáspora Cabo-Verdiana, que está a dar os primeiros passos.

De origem cabo-verdiana, este médico tem-se empenhado em levar a saúde oral aos bairros mais desfavorecidos e junto dos imigrantes lusófonos, nomeadamente os que são transferidos para Portugal para realizarem tratamentos inexistentes nos seus países de origem.

Desde 2016 que participa no projeto “Bairro sem Cáries”, uma iniciativa do Centro Comunitário de Saúde Oral, que inicialmente contou com o patrocínio da EDP Solidária e a Fundação EDP, e que tem proporcionado o diagnóstico e tratamentos de problemas de saúde oral nesta população desfavorecida.

Através da iniciativa, foram atendidas crianças dos bairros de Santa Marta de Corroios, Cucena, Quinta da Princesa, Jamaica, Arrentela e Vale Chicharro.

Nestes bairros, predomina a comunidade imigrante lusófona e também pessoas de etnia cigana, sendo elevada a taxa de problemas de saúde oral, tanto nas crianças como nos adultos.

Desde que o projeto começou, pelo menos 2.800 crianças beneficiaram de rastreios e tratamentos dentários levados ao bairro por uma unidade móvel de saúde oral, além de explicações sobre a melhor forma de tratar da boca.

Segundo Otávio Rodrigues, nestas populações desfavorecidas a iliteracia é uma das principais barreiras a uma boa saúde oral, pois em muitos casos o cheque dentista (que permite o acesso gratuito a tratamentos preventivos ou curativos) nem sequer é levantado ou fica inviabilizado após passar o prazo de utilização.

A esta questão somam-se outras dificuldades, como a falta de dinheiro para comprar escovas e pastas de dentes, o seu uso indevido e o excessivo consumo de bebidas gaseificadas e de doces, disse.

Os profissionais de saúde envolvidos no projeto – médicos dentistas, higienistas e assistentes – encontraram um “cenário preocupante”, uma vez que cerca de 85% das crianças rastreadas apresentava cáries, quase o dobro dos 45% das crianças portuguesas com cáries identificadas no III Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, em 2017.

Mais tarde, o apoio foi estendido aos adultos e foram frequentes as faltas de dentes identificadas nas consultas, bem como algumas lesões suspeitas de doença oncológica.

Nas crianças e jovens, os tratamentos dentários foram acompanhados de uma melhor integração social, mais aproveitamento escolar e um maior acesso ao emprego, bem como uma melhoria da saúde mental.

As crianças do concelho continuam a contar com o apoio desta equipa de profissionais de saúde oral, sendo agora atendidas no Centro Comunitário de Higiene Oral, da responsabilidade da Associação Portuguesa Promotora da Saúde e Higiene Oral (APPSHO), em parceria com a Direção-Geral da Saúde, a Câmara Municipal do Seixal e a Junta de Freguesia de Amora.

Os problemas de saúde oral têm sido identificados com bastante frequência nos doentes de países africanos que chegam a Portugal para tratamentos médicos, ao abrigo dos acordos existentes entre os países, disse o médico.

Em relação aos doentes cabo-verdianos, os Profissionais de Saúde da Diáspora Cabo-Verdiana pretendem ajudar nas principais dificuldades que sentem quando chegam a Portugal, nomeadamente ao nível da integração, alojamento e tratamentos.

O objetivo é “contribuir para a melhoria do seu estado de saúde”, disse Otávio Rodrigues, salientando que o país de origem também não está esquecido.

Aliás, uma das primeiras medidas deste grupo foi uma angariação de fundos para a aquisição de uma arca ultracongeladora para oferecer a Cabo Verde na sua luta contra a covid-19.

Este material, orçado em 10 mil euros, irá permitir a preservação de amostras biológicas e a continuação de testes.

Otávio Rodrigues disse que o montante total ainda não foi alcançado, mas que seguramente irá ser. A arca será depois entregue ao Instituto Nacional de Saúde de Cabo Verde.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,5 set 2020 7:34

Editado porFretson Rocha  em  7 dez 2020 23:21

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