O declínio recente é atribuído a uma deterioração do desempenho em três das quatro categorias do IIAG: "Participação, direitos e inclusão", "Segurança e Estado de Direito" e "Desenvolvimento humano".
Esta trajetória não é totalmente inesperada, pois o progresso vinha a registar um abrandamento na segunda metade da década passada, com destaque para as categorias de "Desenvolvimento humano" e "Bases para as oportunidades económicas".
No mesmo período, registou-se uma deterioração em "Segurança e Estado de direito" e em "Participação, direitos e inclusão", mais acentuadamente nesta última categoria.
Ainda assim, o relatório ressalta que, ao longo da década, o desempenho geral da governação progrediu ligeiramente e que no ano passado 61,2% da população de África vivia num país em que a Governação geral era melhor do que em 2010.
Segundo o estudo, os avanços alcançados ao longo da última década foram maioritariamente impulsionados por melhorias nas oportunidades económicas e no desenvolvimento humano.
Ao mesmo tempo, o continente também tem registado uma situação de segurança cada vez mais instável e uma erosão nos direitos civis.
Ao longo da última década, 20 países, que acolhem 41,9% da população de África, alcançaram progressos em "Desenvolvimento humano" e "Bases para as oportunidades económicas", mas, em simultâneo, caíram em "Segurança e Estado de direito" e em "Participação, direitos e inclusão".
No total das quatro categorias, apenas oito países conseguiram melhorar ao longo da década: Angola, Chade, Costa do Marfim, Etiópia, Madagáscar, Seicheles, Sudão e Togo.
O Índice Ibrahim de Governação Africano (IIAG) mede anualmente a qualidade da governação em 54 países africanos através da compilação de dados estatísticos do ano anterior.
O IIAG 2020 mantém as mesmas quatro categorias, mas passou a incluir novos indicadores sobre o meio ambiente e a igualdade e uma nova secção totalmente dedicada às Vozes dos cidadãos de África.
Uma análise da "perceção da população da governação geral" encontrou em 2019 a pontuação mais baixa da década, tendo o ritmo de deterioração quase duplicado nos últimos cinco anos.
Apesar de este relatório não analisar o impacto em África da pandemia de covid-19, que só chegou ao continente em 2020, os autores antecipam um agravamento dos problemas em termos de "Participação, direitos e inclusão" e um impacto ao nível da evolução económica até agora positiva.
"Os desafios e fragilidades que já se verificavam na governação africana, revelados pelo IIAG de 2020, são exacerbados pela covid-19, que ameaça também o progresso económico. A insatisfação e desconfiança associadas à aplicação da governação são crescentes", comentou Mo Ibrahim, presidente da Fundação que fundou com o mesmo nome e que promove o Índice.
Para o empresário de origem sudanesa, os países africanos terão de demonstrar nos próximos anos "tanto a sua determinação em salvaguardar a democracia como a sua capacidade de seguir um novo modelo de crescimento mais resiliente, mais equitativo, mais sustentável e mais autossuficiente”.