Guerra civil na Etiópia sem fim à vista

PorExpresso das Ilhas,15 nov 2021 8:33

Tigrés lançam-se à conquista de várias cidades em Amhara, aliam-se com rebeldes oromos e ameaçam marchar sobre a capital. Primeiro-Ministro etíope decreta estado de emergência e promete defender o país da invasão dos “terroristas”.

O conflito armado iniciado há cerca de um ano entre a Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT) e o Exército federal da Etiópia, comandado pelo Governo de Abiy Ahmed, evoluiu nas últimas semanas para uma nova fase. Depois de vários meses remetida ao Norte do território, sob a forma de cerco, a guerra está a deslocar-se para sul, e a disputar-se em campo aberto.

Os tigrés lançaram-se à conquista de diversas localidades estratégicas na região de Amhara, aliaram-se ao Exército de Libertação Oromo (OLA) – uma facção rebelde da Frente de Libertação Oromo (OLF) que também já anunciou ter tomado territórios ao Estado – e anunciam querer marchar sobre a capital, Adis Abeba.

Entretanto, na semana passada, o primeiro-ministro decretou a entrada em vigor de um estado de emergência com a duração de seis meses, que permite ao Governo convocar os cidadãos maiores de idade para servirem no Exército, mobilizar tropas federais para diferentes zonas e regiões do país e impor recolher obrigatório, entre outras restrições à mobilidade de cidadãos.

Para além disso, o estado de emergência torna dispensável a apresentação de uma ordem judicial para deter pessoas suspeitas de ligações a grupos “terroristas”. Segundo o Governo, a FLPT – o partido que dominou a política etíope entre 1991 e 2018, ano em que Abiy, da etnia oromo, foi eleito primeiro-ministro – cabe nessa categoria.

Abiy Ahmed, vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2019, tem-se desdobrado em discursos cada vez mais agressivos: “vamos enterrar este inimigo com o nosso sangue e ossos, e elevar novamente e bem alto a glória da Etiópia”, disse, citado pela Reuters.

A guerra com os tigrés teve origem na decisão do primeiro-ministro de adiar as eleições legislativas e presidenciais agendadas para o Verão do ano passado, justificada com a pandemia de covid-19. Em protesto, a FLPT organizou as suas próprias eleições em Tigré, no Norte do país, mas o Governo central não as reconheceu.

O braço-de-ferro eleitoral apenas serviu para intensificar as tensões trazidas de 2018. Quando a FLPT atacou bases militares do Exército na região, Abiy enviou tropas, carros e aviões de combate para Tigré. E o conflito regional rapidamente se transformou em guerra civil.

Ao longo dos últimos 12 meses, milhares de pessoas morreram e mais de dois milhões foram forçados a abandonar as suas casas.

Segundo as organizações humanitárias, há neste momento cerca de 400 mil, a maioria em Tigré, enfrentam situações de fome extrema.

Um cenário que conheceu na quarta-feira passada novos dados: de acordo com um relatório divulgado pela alta-comissária para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, elaborado conjuntamente com a Comissão dos Direitos Humanos da Etiópia, podem ter sido cometidos “crimes contra a humanidade” por todas as partes envolvidas no conflito.

O último discurso de Abiy Ahmed, dá a entender que a paz não voltará tão depressa ao país considerado, há uns meses, como um pilar de estabilidade na região do Corno de África: “Este grupo de bandidos não alcançará os seus fins. Eles estão a tentar construir uma grande vala. Esta vala é aquela em que será enterrado o inimigo, e não a Etiópia que não se desmoronará. Vamos afogar o inimigo no nosso sangue.”

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1041 de 10 de Novembro de 2021. 

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Autoria:Expresso das Ilhas,15 nov 2021 8:33

Editado porAndre Amaral  em  15 nov 2021 14:42

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