Elizabeth Holmes, uma antiga estrela em ascensão de Silicon Valley que prometeu revolucionar as análises clínicas com a sua startup Theranos, foi condenada na segunda-feira por fraude num tribunal norte-americano.
Após mais de três meses de julgamento e 50 horas de deliberação, o júri do tribunal de San Jose considerou-a culpada de três acusações de fraude tecnológica e uma acusação de conspiração para cometer fraude.
O júri não foi capaz de chegar a um consenso sobre três acusações adicionais contra Holmes.
A mulher de 37 anos de idade enfrenta décadas de prisão como resultado da condenação, mas a sentença terá lugar mais tarde no tribunal federal.
Na segunda-feira de manhã, os jurados informaram o Juiz Federal dos EUA Edward Davila de que continuavam divididos em três das acusações. O magistrado pediu-lhes que continuassem a deliberar e que levassem o tempo que fosse necessário, “sem pressas”.
Elizabeth Holmes fundou a Theranos em 2003, com 19 anos, prometendo ferramentas de diagnóstico mais rápidas e mais baratas do que os laboratórios tradicionais. Só havia um problema: a tecnologia nunca funcionou.
Com a ajuda de uma história cuidadosamente elaborada, ela conseguiu, em poucos anos, ganhar a confiança de figuras de destaque e angariar fundos de investidores prestigiados, atraídos pelo perfil desta jovem.
O caso
De acordo com informações divulgadas pelo Business Insider, o departamento de Justiça afirmou que Holmes e Ramesh Balwani, ex-COO da Theranos, planearam cometer fraude contra investidores, médicos e pacientes a partir de falsas alegações sobre a capacidade tecnológica da empresa e ocultando informações sobre as máquinas de teste.
As alegações da promotoria, de forma geral, tiveram esse mesmo tom. Jeffrey Schenk, da procuradoria dos EUA, afirmou que Holmes escolheu “a fraude em vez da falência do negócio. Escolhendo ser desonesta com investidores e pacientes, uma escolha criminal”, afirmou, como mostra a CNBC.
Do lado da defesa, a tese sustentada por Kevin Downey, advogado de Holmes, era a de que ela realmente acreditava que tinha nas mãos uma tecnologia capaz de mudar o mundo e que a fundadora nunca vendeu as próprias ações da empresa, o que mostrava que ela “caiu junto com a empresa”, ainda segundo informações da CNBC.
O veredicto veio após um longo julgamento iniciado no ano passado em um tribunal federal em San José, na Califórnia, presidido pelo juiz Edward Davila. Embora Holmes, 37 anos, tenha sido indiciada pela primeira vez há mais de três anos, o seu julgamento foi adiado pela pandemia e pelo nascimento de seu filho.
O julgamento, que durou três meses antes de ir para o júri, atraiu um interesse significativo como um raro julgamento por fraude criminal de um empresário do Silicon Valley.
Holmes fundou a Theranos em 2003, aos 19 anos, e logo depois abandonou a Universidade de Stanford para se dedicar totalmente ao projecto.
Depois de uma década operando, a Theranos começou a divulgar publicamente sua capacidade de testar doenças como cancro e diabetes com apenas algumas gotas de sangue colhidas por uma picada no dedo e anunciou uma parceria com a Walgreens.
Muitos aceitaram a promessa: a Theranos arrecadou 945 milhões de dólares de indivíduos importantes que investiram na empresa, incluindo o magnata dos media Rupert Murdoch, o fundador da Oracle Larry Ellison, a família Walton do Walmart e a família bilionária da ex-secretária de Educação Betsy DeVos.
Isso avaliou a Theranos em 9 mil milhões de dólares, tornando Holmes, por um tempo, uma bilionária de papel. Mas o dominó começou a cair depois de uma investigação do Wall Street Journal, em 2015, revelar que a empresa estava a usar a tecnologia de que era proprietária apenas para cerca de uma dúzia das centenas de testes que oferecia, e com precisão questionável.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1049 de 5 de Janeiro de 2021.