A crise humanitária no Afeganistão, que começou com a ascensão dos talibans ao poder no mês de Agosto, está a fazer com que grande parte da população não tenha também acesso a alimentos, água, moradia e assistência médica desde, levando desta forma à suspensão de fundos internacionais, ao aumento dos preços, à crise de liquidez e à falta de dinheiro.
As mais afectadas são as mulheres. Desde que tomaram o poder no Afeganistão, os talibans impuseram políticas que violam direitos e criaram grandes barreiras no acesso à saúde e educação de mulheres e raparigas; restringiram a liberdade de movimento, expressão e associação, e privaram muitas mulheres de ter acesso ao rendimento do seu trabalho, segundo o comunicado conjunto da Organização Não-governamental (ONG) dos Direitos Humanos e do Instituto de Direitos Humanos da Universidade Estadual de San José (SJSU).
A investigadora sénior sobre o Afeganistão no Instituto de Direitos Humanos da SJSU, Halima Kazem-Stojanovic, realçou que as mulheres e raparigas afegãs enfrentam o colapso dos seus direitos e sonhos, assim como riscos para a sua sobrevivência básica.
“As mulheres estão presas entre os abusos dos talibans e as acções da comunidade internacional, que levam as mulheres afegãs cada vez mais ao desespero", acrescentou.
Uma dezena de mulheres da província de Ghazni, no sul do Afeganistão, afirmaram à HRW e ao SJSU que não conseguem fazer frente ao aumento dos preços de alimentos básicos, transporte e livros escolares, já que a maioria perdeu sua principal fonte de rendimento depois de os talibans restringirem o acesso das mulheres ao trabalho.
O comunicado referiu que "apenas quem trabalhou na educação primária ou na saúde ainda pode trabalhar, e a maioria não receberam os seus salários devido à crise financeira".
A chegada ao poder dos talibans restringiu o acesso das estudantes afegãs ao ensino médio e superior, bem como a modificação dos currículos para os adaptar às regras islâmicas e dar um maior foco na religião.
Os talibans determinaram regras do que as mulheres devem usar, como devem viajar, a segregação do trabalho por sexo e até que tipos de telefone as mulheres devem ter, denunciou a Organização de Direitos Humanos, salientando que essas regras foram impostas por meio de intimidação e inspecções.
"O futuro parece sombrio... Eu tinha muitos sonhos, queria continuar a estudar e a trabalhar. Estava a pensar em fazer o meu mestrado. No momento, os talibans nem permitem que as raparigas terminem o ensino médio", relatou à HRW uma mulher que trabalhava para o anterior governo afegão.
As mulheres afegãs sublinharam que com o desaparecimento da força de segurança nacional e do Ministério da Mulher, agora vivem mais inseguras, e algumas até experimentam "medo, ansiedade, desesperança, insónia e um profundo sentimento de perda e desamparo".
"As políticas dos talibans rapidamente transformaram muitas mulheres e raparigas em prisioneiras virtuais nas suas casas, privando o país de um dos seus recursos mais preciosos, as habilidades e talentos da metade feminina da população", destacou a Directora para o direito das mulheres, Heather Barr.