Escritor diz que não há esperança para a Guiné Equatorial com família de Obiang

PorExpresso das Ilhas, Lusa,30 jul 2022 9:33

Donato Ndongo vive exilado em Espanha há décadas
Donato Ndongo vive exilado em Espanha há décadas

O escritor equato-guineense Donato Ndongo-Bidyogo disse este sábado que "não há esperança" para a Guiné Equatorial enquanto a família do Presidente, Teodoro Obiang, estiver no poder e que décadas de repressão aniquilaram "qualquer mínimo mecanismo" de mudança.

Para o escritor e antigo jornalista, Teodoro Obiang, que está no poder desde 1979, hoje já não tem influência na Guiné Equatorial e "quem manda, e com base no puro capricho", porque "governar, ninguém governa", são a mulher do chefe de Estado e o filho de ambos Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido como 'Teodorin', actual vice-presidente e apontado como sucessor na Presidência do país.

'Teodorin' foi condenado definitivamente em Julho de 2021, em França, a três anos de prisão suspensa, uma multa de 30 milhões de euros e ao confisco dos seus bens em território francês, por ter constituído fraudulentamente um património de luxo em uma parte do chamado caso de "ganhos ilícitos".

"Que futuro vemos nisto? Que as coisas estão cada vez pior e não vão melhorar porque se Teodoro Obiang, que pelo menos tem uma mínima formação, em 43 anos, não soube dirigir o país, imaginemos uma pessoa absolutamente sem nenhuma formação, porque não tem sequer a educação primária, e que toda a vida, desde criança, fez o que lhe deu na gana, sem nenhum tipo de travão, nem de princípios, nem nada à frente do país. Isso não pode dar esperança a ninguém", afirmou Donato Ndongo, escritor e antigo jornalista, que vive exilado em Espanha há décadas.

Questionado se não há esperança para a Guiné Equatorial, respondeu: "Não, não há esperança para Guiné Equatorial enquanto essa família, qualquer membro dessa família esteja à frente [do país]".

"Ninguém governa, há mais de um ano que não se reúne o Conselho de Ministros, não há decisões, não há uma directriz. Não se vê absolutamente nada, só há improvisações", reforçou.

Donato Ndongo não vislumbra também qualquer movimento que possa tirar a família Obiang do poder.

"Como pode haver um movimento se nos reprimiram a todos?", questionou, antes de lembrar a sua própria decisão de sair do país depois de ter sido ameaçado com uma arma por um secretário de Estado quando era o delegado da agência de notícias espanhola EFE em Malabo, a capital da Guiné Equatorial, uma antiga colónia espanhola na África Central que se tornou independente em 1968.

"Impediram que se articule qualquer mínimo mecanismo a nível familiar, a nível cultural, a nível político, a nível económico", acrescentou.

Donato Ndongo foi homenageado esta semana na sede do Instituto Cervantes (de defesa e promoção da língua e culturas hispânicas), em Madrid.

O percurso e a obra do escritor foram o centro de um colóquio, que se seguiu a uma cerimónia de depósito do seu legado simbólico num dos cofres da designada "Caixa das Letras do Instituto Cervantes.

O Instituto Cervantes está instalado no antigo edifício de um banco espanhol e na caixa forte original estão depositados legados de figuras da cultura de países de língua oficial espanhola. Os cofres ficam com a data do depósito e, em alguns casos, também com uma data de abertura, pretendendo funcionar também como uma cápsula do tempo.

Donato Ndongo foi a primeira personalidade da Guiné Equatorial a depositar um legado simbólico num destes cofres, onde deixou primeiras edições dos seus livros e um envelope fechado com "uma carta para a posteridade", cujo conteúdo não revelou.

Num discurso nesta cerimónia, o escritor referiu-se "às terríveis circunstâncias" na Guiné Equatorial onde o povo vive "aniquilado por uma tirania" que não lhe dá "nem liberdade nem prosperidade".

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,30 jul 2022 9:33

Editado porJorge Montezinho  em  31 jul 2022 9:18

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.