O ministro das Finanças britânico, Jeremy Hunt, vai anunciar em 17 de Novembro uma série de medidas em termos de impostos e despesa pública para reduzir a dívida pública e estabilizar a economia.
Inicialmente previsto para ser um "plano fiscal a médio prazo", a intervenção foi convertida numa "declaração de outono", com maior importância em termos de políticas sobre questões como apoios sociais e pensões, serviços públicos e infraestruturas.
Nas últimas semanas, têm circulado na imprensa britânica uma série de potenciais medidas em análise, como o aumento dos impostos sobre mais valias ou o corte em projectos como a linha ferroviária de alta velocidade HS2 para o norte de Inglaterra.
Travers, professor na universidade London School of Economics (LSE), acredita que esta é uma forma de o Governo testar uma eventual resistência dentro do próprio partido às propostas.
"O Governo ainda tem uma maioria [parlamentar] substancial de mais de 70 [deputados], mas é menos fiável do que parece. Nos últimos anos, os deputados têm-se tornado mais dispostos a votar contra a liderança do partido", afirmou Travers num encontro com jornalistas, lembrando que bastam 35 votarem contra para derrotarem uma proposta.
Segundo Travers, "a fragmentação [entre os Conservadores] e o facto de os deputados serem menos fiáveis em fazer o que o partido quer pode ser um problema para o primeiro-ministro se as medidas neste orçamento forem impopulares".
Desde que foi indigitado primeiro-ministro, Rishi Sunak tem beneficiado de uma "lua de mel" com os eleitores, tendo reduzido a desvantagem dos Conservadores para o partido Trabalhista.
Uma sondagem da empresa YouGov no início deste mês mostrou também que os eleitores consideram Rishi Sunak mais competente na área económica do que o líder da oposição, Keir Starmer.
Mesmo assim, referiu o académico, a margem entre os dois partidos é "suficientemente grande para garantir que o Partido Trabalhista ganhe facilmente uma maioria nas próximas eleições legislativas".
De acordo com o Instituto de Estudos Fiscais, o Governo precisa de encontrar cerca de 50.000 milhões de libras [57.000 milhões de euros] para conseguir estabilizar a economia e começar a reduzir a dívida pública.
Segundo o jornal Financial Times, o ministro das Finanças pretende reduzir a despesa pública em 33.000 milhões de libras (37.500 milhões de euros) e aumentar impostos para obter 21.000 milhões de libras (24.000 milhões de euros) em receitas fiscais adicionais.
Estas medidas são uma resposta à instabilidade financeira que resultou do mini-orçamento de 23 de Setembro, quando o então ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, anunciou uma série de cortes fiscais sem justificar como seriam financiados nem o impacto nas contas públicas.
Quando entrou em funções, Hunt cancelou quase todos os cortes ficais prometidos pela primeira-ministra, Liz Truss, e avisou para a necessidade de "algumas decisões muito difíceis" para garantir a sustentabilidade fiscal do país.
A crise económica e política criada pelo mini-orçamento acabou por ditar a demissão de Truss apenas sete semanas depois de ter entrado para o cargo.
O Reino Unido registou em Setembro uma taxa de inflação de 10,1%, a mais alta em 40 anos, e o Banco de Inglaterra antecipou uma recessão prolongada e um aumento do desemprego.