O suspeito, um ex-maquinista ferroviário, foi indiciado por homicídio e tentativa de homicídio por motivos de raça, de etnia, de nação e de religião, e ainda por aquisição e posse não autorizada de arma, precisou a mesma fonte citada pela agência noticiosa France-Presse (AFP).
Esta segunda-feira, centenas de pessoas voltaram a concentrar-se em Paris numa marcha em homenagem às vítimas.
A par dos três curdos mortos a tiro no centro de Paris -- Emine Kara, uma responsável pelo movimento das mulheres curdas em França, e dois homens, incluindo o artista e refugiado político Mir Perwer --, o suspeito feriu outras três pessoas, incluindo uma com gravidade.
O ataque de sexta-feira provocou uma forte reacção da comunidade curda, que denunciou um acto "terrorista" e apontou responsabilidades à Turquia.
Em reacção, o embaixador francês na Turquia foi hoje convocado pelo Governo turco, com Ancara a protestar pelo que definiu de "propaganda anti-Turquia" em França após a morte dos três curdos.
"Manifestamos o nosso descontentamento face à propaganda desencadeada pelos círculos do PKK [Partido dos Trabalhadores do Curdistão, a guerrilha curda] contra o nosso país, com o Governo francês e certos políticos a serem utilizados como instrumentos de propaganda", indicou uma fonte diplomática turca citada pela AFP.
Também esta segunda-feira, e após uma homenagem às vítimas de sexta-feira, uma marcha percorreu uma outra rua parisiense onde três militantes do PKK foram mortos em 09 de Janeiro de 2013, um caso ainda não esclarecido.
Os manifestantes ecoaram em curdo "Os nossos mártires não morrem", e em francês "Mulheres, vida, liberdade", exigindo "verdade e justiça".
O motivo racista do crime perpetrado na sexta-feira parece confirmar-se, com o suspeito, definido como "depressivo" e "suicidário", a revelar aos investigadores que sempre sentiu "necessidade de assassinar migrantes, estrangeiros", após ter sido assaltado em 2016, indicou a procuradora de Paris, Laure Beccuau.
Na sexta-feira, deslocou-se inicialmente a Santi-Denis, um bairro popular a norte de Paris, com uma "pistola automática Colt 45 de calibre 11,43", para "cometer mortes contra pessoas estrangeiras", segundo a procuradora.
Mas renunciou "a praticar o acto, devido às poucas pessoas no local e pelo facto de a roupa que usava o impedir de recarregar a arma facilmente", precisou.
De seguida, regressou a casa dos pais, e pouco antes do meio-dia dirigiu-se a um bairro parisiense onde sabia existir um centro cultural curdo, que atacou a tiro.
"Ao indicar pretender 'atingir' todos os migrantes, afirmou ter seleccionado vítimas que não conhecia, precisando que queria atingir os curdos por terem feito prisioneiros durante o seu combate contra o Daesh [acrónimo em árabe do grupo 'jihadista' Estado Islâmico] em vez de os matarem", afirmou o Ministério Público.
O suspeito "tinha a intenção de utilizar todas as munições e de se suicidar com a última bala", mas foi manietado por diversas pessoas num salão de cabeleireiro das proximidades antes de ser detido pela polícia, prosseguiu a mesma fonte.
Os primeiros elementos da investigação não permitiram estabelecer "qualquer relação com uma ideologia extremista".
Já condenado em 2017 por porte de arma proibida e em junho por agressões com armas sobre assaltantes -- factos que referiu durante a detenção --, foi indiciado em Dezembro de 2021 por violências com armas, com premeditação e características racistas.
O detido é ainda suspeito de ter ferido com uma arma branca migrantes num acampamento em Paris em 08 de Dezembro de 2021. Após um ano de prisão preventiva, foi libertado em 12 de Dezembro passado.
O facto de a pista de atentado terrorista não ter sido admitida pelas autoridades suscitou revolta e incompreensão, com manifestações desde sábado em diversas cidades francesas, algumas a degenerarem em tumultos e confrontos com a polícia.