"Temos assistido a uma das mais significativas deteriorações em matéria de direitos humanos e violações do direito internacional em todo o mundo, desde a Ucrânia à Etiópia, obviamente na China e agora no Irão", disse Hassan em entrevista à Agência Lusa, a propósito da publicação do relatório anual da HRW relativo a 2022.
Porém, acrescentou, "as pessoas têm-se erguido para exigir os seus direitos humanos fundamentais e, em certos casos, vimos a comunidade internacional mobilizar-se para garantir efectivamente a protecção dos direitos humanos e a responsabilização por alguns dos crimes mais flagrantes".
No caso do Irão, Hassan acredita que os protestos de rua desencadeados pela morte de Masha Amini em Setembro de 2022 "estão a evoluir, não estão a diminuir", e estão a ter impacto, referindo sinais de que as autoridades reduziram o controlo sobre o uso do véu pelas mulheres.
"Mas são pequenos passos de progresso. Tem de haver uma mudança significativa no Irão, e isso só vai acontecer através da pressão internacional contínua sobre as autoridades iranianas", vincou, defendendo uma investigação da ONU aos potenciais crimes cometidos na repressão dos manifestantes.
Noutros países, a activista humanitária exortou uma maior mobilização da comunidade internacional, como no Myanmar, Etiópia e Afeganistão.
No Afeganistão, a directora da HRW lamenta a restrição dos direitos das mulheres pelos talibãs, cujo impacto é vasto e põe nomeadamente em risco a vida de grávidas devido à falta de acesso a parteiras ou enfermeiras.
"Cabe à comunidade internacional usar tudo o que estiver ao seu alcance, incluindo a assistência financeira, mas também pressão política e diálogo com os talibãs, para os fazer recuar", sustentou.
No Myanmar, controlado por uma junta militar desde o golpe em 2021, a perseguição aos manifestantes pró-democracia tem-se estendido das cidades às zonas rurais, com bombardeamentos diários, disse Hassan à Lusa.
"Até à data, a junta conseguiu essencialmente escapar impune. O que precisamos de ver é a ASEAN [Associação das Nações do Sudoeste Asiático], que se comprometeu a desempenhar um papel chave neste contexto, a dar um passo em frente e a responsabilizar a junta militar. Mas o que temos visto é que eles estão a marcar passo. Temos de assegurar de que existe mais acção por parte da comunidade internacional", argumentou.
O conflito na Etiópia, acrescentou a activista, é "uma das situações mais graves do continente", onde a "paz frágil (...) não vai durar se não houver responsabilização pelos crimes contra a humanidade que a Human Rights Watch documentou que foram cometidos durante a guerra em Tigray".
"O governo etíope traçou um roteiro sobre como organizar um cerco para matar pessoas à fome. Se não houver uma mensagem de que não se pode escapar impune, então isto é potencialmente replicável em todo o mundo", avisou.