O porta-voz do exército da RDCongo na província de Kivu do Norte (onde se situa Mushaki), o tenente-coronel Guillaume Ndjike Kaiko, confirmou a conquista daquela localidade estratégica, que caiu nas mãos dos rebeldes na sexta-feira.
Assim, o M23, que desde o reacendimento dos seus intensos combates, no ano passado, tomou zonas inteiras e muitas localidades no leste da RDCongo, ocupa agora as três maiores estradas que unem Goma, a populosa capital de Kivu do Norte, ao resto do país.
A única via rodoviária que continua sob o controlo do Governo de Kinshasa é a que liga Goma à província de Kivu do Sul, pouco utilizada devido ao mau estado em que se encontra.
Os rebeldes tomaram Mushaki, a cerca de 40 quilómetros de Goma, após dois dias de intensos combates contra o exército da RDCongo, o que causou a fuga de milhares de civis, noticiou a imprensa local.
O M23 já ocupou durante dez dias a cidade de Goma, em Dezembro de 2012, mas retirou depois de ser alvo de intensa pressão da comunidade internacional.
As novas ofensivas do M23 obrigaram mais de meio milhão de pessoas a abandonar as suas casas, segundo dados da ONU, e desencadearam uma escalada de tensão entre a RDCongo e o Ruanda, devido à alegada cooperação de Kigali com os rebeldes.
O Ruanda sempre negou a acusação, apesar de pelo menos dois relatórios da ONU terem confirmado tal cooperação.
Entretanto, o Ruanda e o M23 acusam o exército da RDCongo de se aliar às rebeldes Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundadas em 2000 por cabecilhas do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados na RDCongo para recuperar o poder político no seu país de origem. As Nações Unidas também confirmaram essa colaboração.
O M23 foi criado em 2012, quando soldados da RDCongo se sublevaram por causa da perda de poder do seu líder, Bosco Ntaganda, processado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra, e devido a alegados incumprimentos do acordo de paz de 23 de Março de 2009, que dá nome ao movimento.
O grupo exigia a renegociação desse acordo assinado pela guerrilha da RDCongo Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP) para a sua integração no exército, para poder usufruir de melhores condições.
O CNDP, sobretudo composto por tutsis (grupo étnico maioritariamente alvo do genocídio ruandês de 1994), constituiu-se em 2006 para, entre outros objectivos, combater as FDLR.
O leste da RDCongo está há mais de duas décadas mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da missão de paz da ONU (Monusco).