"Fomos informados de que a Guarda Costeira tunisina roubou os motores de cinco barcos que tentavam fugir da Tunísia. A Guarda Costeira está a vigiá-los e as embarcações estão à deriva. Na Tunísia, os negros são atacados por terra e mar!", denunciou a organização não-governamental (ONG) que recebe as chamadas de emergência feitas por embarcações que se encontram em perigo em alto mar, nomeadamente nas rotas migratórias do Mediterrâneo.
Segundo um testemunho recolhido pela Alarm Phone, estas pessoas foram obrigadas a deixar o território tunisino depois de terem sido expulsas das casas em que habitavam na Tunísia por terem ficado desempregadas.
"Sem ter onde dormir, sem trabalho e sem dinheiro, a nossa única solução é partir", afirmou a mesma testemunha citada pela ONG internacional.
O Presidente tunisino, Kais Saied - que assumiu plenos poderes em Julho de 2021 -, pediu recentemente às forças de segurança para tomarem medidas urgentes contra os "bandos" de migrantes subsaarianos irregulares, que acusou de fazerem parte de uma conspiração para mudar a demografia e a identidade "árabo-muçulmana" da Tunísia.
As palavras de Saied foram consideradas como um "discurso de ódio" por várias organizações locais e pela comunidade internacional, e desencadearam uma campanha de ataques racistas e detenções.
A situação levou centenas de pessoas -- sobretudo oriundas da Guiné-Conacri, do Mali e da Costa do Marfim -- a reunirem-se em frente das respetivas embaixadas em Tunes para pedir apoio para um regresso voluntário.
O Governo tunisino tentou diminuir a tensão e anunciou que iria facilitar medidas para "o regresso voluntário" aos países de origem, garantindo a isenção do pagamento da multa em que um cidadão estrangeiro incorre durante a permanência irregular no país, além de intensificar a assistência social, sanitária e psicológica.
Segundo o Fórum Tunisino para os Direitos Económicos e Sociais (FTDES), que acompanha de perto o fenómeno migratório, cerca de 21.000 pessoas da África subsaariana vivem na Tunísia - com uma população de cerca de 12 milhões de habitantes -- que, até agora, era um país de trânsito para Europa, a apenas 150 quilómetros de distância.
A Tunísia faz parte da chamada rota migratória do Mediterrâneo central, encarada como uma das mais mortais, que sai igualmente a partir da Argélia e da Líbia em direção à Itália e a Malta.