Um indiciamento do já assumido candidato às presidenciais de 2024 seria um momento sem precedentes na história norte-americana, por ser o primeiro processo criminal contra um ex-presidente dos Estados Unidos.
As forças policiais estão a preparar-se para protestos e a possibilidade de violência, depois de Trump ter convocado os seus apoiantes para contestarem a possível acusação.
Esta circunstância, se confirmada, também pode ser um teste ao já dividido Partido Republicano, sobre se deve apoiar Trump na sua terceira corrida à Casa Branca.
Trump nega qualquer irregularidade e criticou a investigação do gabinete do procurador do distrito de Manhattan, acusando-a de ser politicamente motivada.
O grande júri está a investigar o envolvimento de Trump no pagamento de 130.000 dólares feito em 2016 à atriz pornográfica Stormy Daniels, para impedi-la de divulgar publicamente um encontro sexual que esta disse ter tido com o republicano anos antes.
O advogado de Trump, Michael Cohen, pagou a Daniels, cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford, através de uma empresa de fachada antes de ser reembolsado por Trump, cuja empresa, a Trump Organization, registou o reembolso como despesas legais.
No início de 2016, Cohen também conseguiu que a ex-modelo da Playboy Karen McDougal recebesse 150.000 da editora do tabloide The National Enquirer, que então reprimiu a sua história, numa prática jornalística duvidosa.
Trump nega ter feito sexo com qualquer uma das mulheres.
A equipa do procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, parece estar a investigar se Trump ou qualquer outra pessoa cometeu crimes no Estado de Nova York ao organizar os pagamentos ou na forma como estes foram contabilizados internamente na Trump Organization.
A política de longa data do Departamento de Justiça proíbe o indiciamento federal de um presidente em exercício, mas Trump, há dois anos fora do cargo, não desfruta mais desse estatuto legal.
De qualquer forma, o caso de Nova Iorque não é uma investigação federal.
O que é um grande júri?
Um grande júri é formado por pessoas da comunidade, semelhante a um júri num julgamento. Mas, ao contrário dos júris que assistem aos julgamentos, os grandes júris não decidem se alguém é culpado ou inocente. Eles apenas decidem se há provas suficientes para alguém ser acusado.
Os procedimentos são fechados ao público, incluindo aos órgãos de comunicação social e não há nenhum juiz presente nem nenhum representante do acusado.
Os procuradores convocam e questionam as testemunhas, e os grandes jurados também podem fazer perguntas.
As testemunhas
Uma das últimas testemunhas convocadas foi Robert Costello, que já foi consultor jurídico de Cohen, a principal testemunha da investigação.
Costello e Cohen desentenderam-se e o primeiro indicou que tem informações que acredita que minariam a credibilidade de Cohen e contradizem as suas actuais declarações incriminatórias sobre Trump.
O magnata republicano também foi convidado a testemunhar, mas o seu advogado referiu que o ex-Presidente não tem planos de participar.
A corrida às presidenciais e os vários problemas legais de Trump
Trump tem dito que as acusações o estão a ajudar na corrida às presidenciais de 2024 e o governador da Florida, Ron DeSantis, também apontado como candidato pelos republicanos, criticou a investigação, considerando-a politicamente motivada e "fundamentalmente errada".
Mas DeSantis também fez o primeiro ataque ao possível rival, referindo que "não sabe o que significa pagar dinheiro a uma estrela pornográfica para garantir o silêncio".
A investigação de Nova Iorque é um dos muitos problemas legais que Trump enfrenta, pois o Departamento de Justiça está a investigar a sua retenção de documentos classificados da sua administração na sua propriedade na Florida, Mar-a-Lago, depois de deixar a Casa Branca, bem como possíveis esforços para obstruir essa investigação.
Investigadores federais também estão a investigar a invasão do Capitólio, ocorrida em 6 de Janeiro de 2021 e os esforços de Trump para anular as eleições de 2020 que alegou, sem provas, que foi fraudulenta.
No fim de semana, Trump previu que será detido esta terça-feira pelo procurador de justiça de Nova Iorque e instou os seus apoiantes a protestarem.
No entanto, publicamente ainda não ocorreu qualquer anúncio sobre o fim do trabalho do grande júri e um porta-voz de Trump referiu que não houve uma notificação do gabinete de Bragg.
Em caso de ocorrer uma detenção, segundo a professora da Escola de Direito de Nova Iorque e ex-advogada de defesa criminal Anna Cominsky, os advogados de Trump deverão fazer um acordo com a procuradoria para evitar que o republicano seja levado algemado pelas autoridades.
"Mas ele não foge do caos, então pode querer utilizar isso a seu favor", alertou ainda.