"Vi nove corpos à minha frente", incluindo várias crianças, disse à AFP a chefe do bairro Lac Vert, a oeste da capital da província de Kivu do Norte, Dédesi Mitima.
De acordo com relatos de testemunhas, ainda pouco claros ao início da tarde, "bombas" caíram de manhã sobre as cabanas dos deslocados de ambos os lados da estrada que liga Goma a Saké, uma cidade considerada um ponto estratégico a cerca de 20 quilómetros da capital da província.
Apoiados por unidades do exército ruandês, os rebeldes do M23 (Movimento 23 de Março) voltaram a pegar em armas no final de 2021, após vários anos de inatividade, e apoderaram-se de vastas áreas do Kivu Norte, chegando a cercar quase totalmente Goma.
A cidade alberga mais de um milhão de habitantes e quase um milhão de pessoas deslocadas, que têm chegado em vagas sucessivas desde o início da ofensiva rebelde.
A origem dos bombardeamentos de hoje não foi claramente estabelecida, mas o porta-voz do Governo, Patrick Muyaya, acusou "o exército ruandês e os seus apoiantes terroristas do M23", na rede social X, de serem os responsáveis.
"Horror na sua forma mais grave! Uma bomba sobre civis, mortes, crianças! Um novo crime de guerra", acusou.
Segundo testemunhas, as forças governamentais, que se tinham posicionado não muito longe do acampamento, tinham bombardeado os rebeldes nas colinas a oeste desde o início da manhã e, de acordo com um ativista da sociedade civil, "o M23 retaliou atirando bombas indiscriminadamente".
Os combates intensificaram-se no início de fevereiro em torno de Saké e desde então a rebelião conquistou novas localidades no território de Masisi, a noroeste de Goma.
O M23 assumiu esta semana o controle da cidade mineira de Rubaya, de onde é extraído o coltan, mineral estratégico para a indústria eletrónica.
As autoridades da RDCongo acusam o Ruanda de querer assumir o controlo das riquezas do leste deste país que faz fronteira com Angola, algo que Kigali contesta.
No início de abril, a missão da ONU na RDCongo (MONUSCO) descreveu uma situação de segurança "cada vez mais volátil".
A pedido das autoridades de Kinshasa, que a consideram ineficaz, a MONUSCO iniciou a sua retirada "acelerada" do leste da RDC, após 25 anos de presença, começando pela província de Kivu do Sul, onde encerrou oficialmente as suas operações na terça-feira.
Até agora, as iniciativas diplomáticas regionais lançadas para tentar resolver a crise não produziram efeitos.
De visita a França esta semana, o Presidente congolês, Félix Tshisekedi, repetiu que só seria "possível discutir" com o Ruanda quando o seu exército "tivesse deixado" a RDCongo.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, por sua vez, instou o Ruanda a "cessar todo o apoio" ao M23 e a "retirar as suas forças" do país, mencionando também um "compromisso" de Félix Tshisekedi de "pôr fim às ações das FDLR" (Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda), um grupo armado criado por ex-líderes hutus do genocídio tutsi no Ruanda em 1994, e cuja presença durante 30 anos no leste da RDCongo foi denunciada por Kigali.