O cientista, por vezes comparado ao especialista norte-americano Anthony Fauci, antigo conselheiro de saúde pública dos presidentes dos Estados Unidos, apelou aos líderes políticos mundiais para tomarem a medida dos riscos.
"O público em geral e os dirigentes têm de reconhecer que uma nova pandemia vai ocorrer, e provavelmente mais cedo do que pensamos", afirmou numa entrevista no Hospital Queen Mary, na cidade onde trabalha e ensina.
"A razão pela qual estou a fazer uma previsão tão assustadora é que, como podemos ver claramente, as mudanças geopolíticas, económicas e climáticas estão a acontecer muito rapidamente", disse à agência de notícias France-Presse.
Os políticos têm de "ganhar juízo" e resolver as "ameaças existenciais globais", advertiu o investigador, numa nova autobiografia intitulada "My Life in Medicine: A Hong Kong Journey".
Enquanto os líderes mundiais estão preocupados com questões de "interesse nacional ou regional", Yuen disse acreditar que as rápidas alterações climáticas e as doenças infecciosas emergentes devem ser uma prioridade máxima: "É algo tão importante que não o devemos ignorar".
Nascido em Hong Kong no final dos anos 1950, licenciou-se em 1981 e em 2003, ele e a equipa isolaram e identificaram a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), uma doença pulmonar infecciosa causada por um coronavírus.
Este foi um passo essencial para testar, diagnosticar e tratar a doença, que apareceu pela primeira vez no sul da China e em Hong Kong antes de se espalhar por todo o mundo.
O vírus matou quase 300 pessoas na cidade no espaço de dois meses, um número de mortos que só ficou atrás do registado na China continental.
Esta experiência guiou-o durante a pandemia da covid-19, com grande impacto na antiga colónia britânica devido a taxas de vacinação muito baixas, especialmente entre os idosos.
As medidas preventivas foram eficazes para ganhar tempo enquanto se aguardava o desenvolvimento de vacinas "até à intervenção de outros factores que não puderam ser travados ou ultrapassados: medo, ignorância, má comunicação e desinformação", referiu.
Apesar das rigorosas medidas de confinamento e das longas quarentenas, Hong Kong registou cerca de três milhões de casos de infecção por covid-19, cerca de metade da população, e mais de 13.800 mortes.
Yuen, que se tornou conhecido como perito do Governo regional, escreveu mais de 100 estudos sobre o vírus, revistos por pares, continuando a afirmar ser essencial compreender as origens da covid-19 para investigar "de forma aberta e transparente" e retirar lições para a prevenção de futuras pandemias.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu à China para ser mais transparente sobre as origens da pandemia, mas não chegou a conclusões definitivas sobre a origem.
No ano passado, Yuen criou a Aliança de Investigação sobre Pandemias com os homólogos da China e dos Estados Unidos para partilhar informações e investigação sobre futuras ameaças.
"É uma má ideia parar ou impedir estes intercâmbios, porque eles protegem toda a gente", afirmou. "Se não falarmos sobre o assunto (...) e ocorrer outra pandemia, teremos de pagar um preço elevado novamente".