Portugal: Líder associativo defende fim do “rótulo” das zonas urbanas sensíveis

PorExpresso das Ilhas, Inforpress,2 nov 2024 11:05

Proposta foi entregue ao governo
Proposta foi entregue ao governo

Presidente da Associação Cultural Moinho da Juventude, Jakilson Pereira, pediu fim do conceito das zonas sensíveis urbanas, que caracteriza alguns bairros da periferia do Porto e Lisboa, que traz “frutos negativos” para a comunidade.

Jakilson Pereira considerou que a morte do cabo-verdiano Odair Moniz, depois de ser baleado por um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP), no bairro da Cova da Moura, Amadora, veio relembrar essa questão das zonas sensíveis urbanas, um conceito que nasceu em 2006, com um dos critérios a ter em conta ser a “composição étnico-social” dos bairros em causa, segundo as autoridades.

“Pedimos fim das zonas urbanas sensíveis, porque este rótulo tem mostrado frutos bastante negativos, por isso, é preciso analisar e criar novas políticas públicas das quais os cidadãos racializados que nascem nestas zonas não só não devem ter outra relação com a polícia, mas também que sintam que o investimento que o Estado está a fazer nessa geração, vale a pena”, disse.

De acordo com Jakilson Pereira, isso foi uma proposta que levou no encontro que o governo português teve na última semana com as associações dos bairros onde ocorreram os desacatos depois da morte do Odair Moniz e depois de uma manifestação a pedir justiça ao cabo-verdiano que levou milhares de pessoas à Avenida da Liberdade.

Para o líder da associação que completou 40 anos esta sexta-feira, num bairro e município onde residem milhares de cabo-verdianos, a morte de Odair foi uma fatalidade e um tipo de “comportamento reprovável de certos agentes”, lembrando que o Moinho da Juventude já anda a alertar há cerca de 10 anos sobre a “infiltragem” nas forças de segurança pela extrema-direita.

Em 2011, quando a polícia agrediu vários moradores da Cova da Moura e invadiram estabelecimentos comerciais no bairro, Jakilson contou que a Associação Moinho da Juventude tentou reunir ambas as partes, sem sucesso, porque “as forças policiais não estavam interessadas, já tinham traçado outras linhas e outras prioridades”.

“Com a morte de Odair, houve uma revolta daquilo que nós chamamos de geração 2000, que é uma geração que, ao contrário da geração 90 ou 80 [século passado], que apesar de ter algum conflito com a polícia e questão do racismo, lidou de forma diferente com algumas ilegitimidades de algumas acções”, explicou.

Jakilson Pereira reflectiu que algumas leis e decretos sobre as zonas urbanas sensíveis permitem que os polícias actuem em determinados bairros de forma violenta, através da criação de um conjunto de excepcionalidade.

“Mas esse rótulo das zonas urbanas sensíveis não só permitiu a violência policial, como também permitiu a desqualificação das escolas à volta do bairro, tornando o sistema de ensino bastante profissionalizante, em que a taxa de retenção é elevada, sem um investimento na escola para um percurso normal, ou mesmo um percurso escolar dual, mas com qualidade”, concluiu.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress,2 nov 2024 11:05

Editado porJorge Montezinho  em  3 nov 2024 15:47

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