Matt Gaetz retira candidatura a procurador-geral dos EUA

PorExpresso das Ilhas, Lusa,22 nov 2024 8:31

O congressista norte-americano Matt Gaetz retirou-se esta quinta-feira do processo de nomeação para o cargo de procurador-geral, para o qual foi indicado pelo Presidente eleito Donald Trump, quando é alvo de suspeitas numa investigação federal sobre tráfico sexual. Como recurso, Trump nomeou Pam Bondi para o cargo.

"Tive excelentes reuniões com os senadores ontem [quarta-feira]. Agradeço o seu 'feedback' atencioso e o incrível apoio de tantos. Embora o ímpeto fosse forte, é claro que a minha confirmação estava injustamente a tornar-se uma distracção para o trabalho crítico da transição Trump/Vance", escreveu Gaetz na rede social X, referindo-se à nova administração do Presidente Eleito e do seu vice-Presidente.

"Não há tempo a perder com uma disputa desnecessariamente prolongada em Washington, pelo que vou retirar o meu nome da consideração para servir como procurador-geral. O Departamento de Justiça de Trump tem de estar a funcionar e pronto no dia 01", adiantou o congressista da Florida.

"Continuo totalmente empenhado em garantir que Donald J. Trump seja o Presidente mais bem-sucedido da história. Ficarei para sempre honrado com o facto de o Presidente Trump me ter nomeado para liderar o Departamento de Justiça e estou certo de que ele salvará a América", conclui Gaetz.

O anúncio do republicano foi feito um dia após se ter reunido com senadores num esforço para ganhar o seu apoio para a sua confirmação para liderar o Departamento de Justiça.

Donald Trump elogiou o congressista numa mensagem na rede social Telegram, em particular os seus recentes esforços no sentido de obter aprovação para ser procurador-geral.

"Ele estava a sair-se muito bem mas, ao mesmo tempo, não queria ser uma distracção para a Administração, pela qual tem muito respeito. Matt tem um futuro maravilhoso e estou ansioso por ver todas as grandes coisas que ele irá fazer!", acrescentou.

A nomeação de Gaetz tornou-se a mais polémica das anunciadas por Trump até à data e a sua confirmação no Senado norte-americano era altamente incerta, apesar da maioria republicana no órgão legislativo.

A decisão do congressista surge na sequência de um escrutínio contínuo sobre uma investigação federal de tráfico sexual que lançou dúvidas sobre a sua capacidade para ser confirmado como o principal responsável federal pela aplicação da lei.

Gaetz foi investigado pelo Departamento de Justiça, embora nunca tenha sido acusado, por um caso de relações sexuais com menores, violação de leis de tráfico humano e consumo de drogas.

O Comité de Ética da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos deveria ter votado a sua decisão na sexta-feira passada, mas a demissão de Gaetz dois dias antes, depois de ter sido nomeado por Trump, atrasou esse escrutínio e pôs efectivamente fim aos inquéritos.

A comissão entrevistou duas mulheres que testemunharam que Gaetz lhes pagou por sexo numa festa na Florida, onde a prostituição é ilegal.

A renúncia de Gaetz surge dois dias após o advogado das mulheres, Joel Leppard, ter dito à NBC News que uma das mulheres também testemunhou que viu Gaetz a ter relações sexuais com uma rapariga menor de idade, embora tenha dito que não acreditava que Gaetz soubesse que ela tinha 17 anos na altura.

Simultaneamente, o congressista enfrentava uma segunda investigação, aberta até à semana passada, na Comissão de Ética da Câmara dos Representantes, que, segundo os meios de comunicação social norte-americanos, contou com o testemunho de pelo menos um menor.

Os republicanos da comissão recusaram-se esta semana a divulgar as suas conclusões, após as objecções dos democratas numa votação dividida, mas o órgão concordou em terminar o processo e deverá reunir-se novamente a 05 de Dezembro para discutir o assunto.

Gaetz negou veementemente qualquer irregularidade e afirmou, no ano passado, que a investigação do Departamento de Justiça sobre alegações de tráfico sexual envolvendo menores de idade tinha terminado sem acusações federais.

Trump nomeia Pam Bondi

Entretanto, Donald Trump nomeou a ex-procuradora-geral da Florida, Pam Bondi, para procuradora-geral dos Estados Unidos, poucas horas depois do anúncio de Gaetz.

Bondi é uma aliada de longa data de Trump e foi uma das suas advogadas durante o seu primeiro julgamento de 'impeachment' [destituição], quando o republicano foi acusado, sem ser condenado, de abusar do seu poder ao tentar condicionar os EUA assistência militar à Ucrânia.

A ex-procuradora-geral da Florida estava entre um grupo de republicanos que compareceram para apoiar Trump no seu julgamento criminal em Nova Iorque, que terminou em Maio com uma condenação por 34 acusações criminais.

Foi presidente do America First Policy Institute, um grupo de reflexão criado por antigos funcionários da administração Trump.

"Durante muito tempo, o Departamento de Justiça (DOJ, em inglês) partidário foi usado como arma contra mim e contra outros republicanos - não mais", frisou Trump, numa publicação nas redes sociais.

"Pam irá redireccionar o DOJ para o propósito pretendido de combater o crime e tornar a América segura novamente", acrescentou.

O filho de Trump, Donald Trump Jr. tinha dito à Fox Business no domingo que a equipa de transição tinha reforços em mente para os seus controversos nomeados, caso não fossem confirmados.

A rápida selecção de Bondi ocorreu cerca de seis horas depois da retirada de Gaetz.

Na semana passada, Trump nomeou os advogados pessoais Todd Blanche, Emil Bove e D. John Sauer para cargos de topo no departamento.

Outro possível candidato a procurador-geral, Matt Whitaker, foi anunciado na quarta-feira como o embaixador dos EUA na NATO.

Caso a sua nomeação seja confirmada no Senado (câmara alta do Congresso), Bondi tornar-se-á instantaneamente num dos membros mais observados da administração de Trump, dada a ameaça de o republicano avançar com a retribuição contra adversários e a preocupação entre os democratas de que tentará submeter o DOJ à sua vontade.

Um parecer recente do Supremo Tribunal não só conferiu uma ampla imunidade aos antigos presidentes, como também afirmou a autoridade exclusiva de um presidente sobre as funções de investigação do Departamento de Justiça.

Outras escolhas de Trump acusadas de má conduta sexual

A polémica, no entanto, não termina em Matt Gaetz, porque o presidente eleito Donald Trump escolheu várias outras figuras para o seu gabinete e cargos importantes que já foram acusadas de má conduta sexual.

O próprio Trump há muito que é acusado de abusar ou maltratar mulheres e uma vez foi apanhado a gabar-se de agarrar mulheres pelos órgãos genitais.

Foi considerado responsável por um júri da cidade de Nova Iorque por abuso sexual e difamação e acabou condenado a pagar à mulher, a escritora E. Jean Carroll, 83 milhões de dólares por danos.

No seu conjunto, há um número impactante de incidentes em que potenciais funcionários governamentais de alto nível na segunda administração de Trump enfrentam acusações de abuso sexual, noticiou na quinta-feira a agência Associated Press (AP).

Trump e todos os seus escolhidos para o governo negaram as acusações contra eles, com alguns destes a argumentarem que os casos têm motivação política.

Pete Hegseth, nomeado para secretário da Defesa, foi acusado por uma mulher, que contou em 2017 à polícia que foi abusada sexualmente depois de este lhe ter pegado no telefone, bloqueado a porta de um quarto de hotel na Califórnia e se ter recusado a deixá-la sair, de acordo com um relatório de investigação detalhado divulgado esta semana.

Hegseth disse à polícia na altura que o encontro foi consensual e negou qualquer irregularidade, de acordo com o mesmo relatório.

Já uma mulher que foi ama de Robert F. Kennedy Jr., nomeado secretário da Saúde e Serviços Humanos, e da sua segunda mulher, contou à revista Vanity Fair que ele a apalpou no final da década de 1990, quando ela tinha 23 anos.

Kennedy não negou a acusação, dizendo num podcast: "Tive uma juventude muito, muito indisciplinada". O antigo candidato presidencial enviou uma mensagem de texto à mulher a pedir desculpas depois de a história ter sido publicada.

Uma acção judicial interposta no mês passado alega que Linda McMahon, nomeada para secretária de Educação, permitiu conscientemente a exploração sexual de crianças por um funcionário da World Wrestling Entertainment já na década de 1980. A política nega as acusações.

A acção foi interposta em Outubro em Maryland, onde uma recente alteração à lei eliminou o estatuto de limitações do estado para alegações de abuso sexual infantil, abrindo as portas para as vítimas processarem, independentemente da idade ou de quanto tempo já passou.

Também Elon Musk, a escolha de Trump para liderar o novo departamento de eficiência governamental, foi acusado de má conduta sexual por uma comissária de bordo contratada pela SpaceX que trabalhou no seu jacto privado em 2016. O CEO da Tesla e da SpaceX negou a acusação.

Um relatório de 2022 do Business Insider dizia que a SpaceX pagou à mulher 250 mil dólares de indemnização em 2018 em troca de ela concordar em não apresentar uma acção judicial sobre a sua reclamação.

Matt Gaetz, que se retirou como escolha de Trump para procurador-geral, esteve envolvido numa investigação de tráfico sexual pelo Departamento de Justiça.

Esteve também sob escrutínio da comissão de ética da Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso) sobre alegações que incluíam má conduta sexual, até que renunciou à sua posição no Congresso esta semana.

Gaetz negou veementemente qualquer irregularidade e disse no ano passado que a investigação do Departamento de Justiça sobre alegações de tráfico sexual envolvendo raparigas menores de idade terminou sem acusações federais contra ele.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,22 nov 2024 8:31

Editado porAndre Amaral  em  23 nov 2024 9:20

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