Maria Corina Machado, de 57 anos, é há vários anos uma das principais vozes da oposição venezuelana. Fundadora da organização Súmate, dedicada à defesa da transparência eleitoral, foi também deputada e candidata presidencial. Ao longo da última década, tornou-se o símbolo da resistência civil ao regime de Maduro, enfrentando perseguições, proibições políticas e ameaças à sua segurança. Em 2024, foi desqualificada pela Controladoria-Geral da Venezuela para exercer cargos públicos durante 15 anos, impedindo-a de concorrer nas presidenciais desse ano, recorda o jornal Financial Times. Mesmo assim, liderou a coligação de partidos oposicionistas e apoiou Edmundo González Urrutia, candidato que acabou igualmente alvo de represálias por parte das autoridades.
O anúncio do Nobel foi recebido como um gesto de reconhecimento internacional da luta democrática na Venezuela. A agência Associated Press destacou que Machado “se tornou a principal figura unificadora de uma oposição fragmentada”, conseguindo mobilizar diferentes forças políticas e civis em torno da exigência de eleições livres e de um governo representativo. O jornal norueguês VG salientou, por seu lado, que o Comité Norueguês quis chamar a atenção para “a coragem e a perseverança de uma mulher que continuou a lutar pelos direitos do seu povo, mesmo sob condições extremamente adversas”.
De acordo com a Reuters, a decisão do Comité surge num contexto global marcado por tensões geopolíticas e pela expectativa de que o prémio pudesse distinguir figuras ligadas a outros conflitos internacionais. No entanto, a escolha de Machado “traz o foco para a crise prolongada na Venezuela e para os milhões de cidadãos que vivem sob um regime autoritário e enfrentam graves dificuldades económicas e sociais”. A mesma agência recorda que o prémio, no valor de 11 milhões de coroas suecas (cerca de um milhão de dólares), será entregue oficialmente em Oslo a 10 de Dezembro, data do aniversário da morte de Alfred Nobel.
Nos últimos anos, Machado tem vivido em situação de semi-clandestinidade, após ter sido alvo de ameaças e intimidações. Em Agosto de 2024, publicou uma carta no jornal The Wall Street Journal na qual afirmava temer pela sua vida e pela dos seus colaboradores, mas assegurava que não abandonaria o país. O Financial Times refere que, apesar das dificuldades, ela manteve uma rede de apoio político e social dentro e fora da Venezuela, continuando a ser uma referência moral para grande parte da oposição.
A escolha de Maria Corina Machado insere-se numa linha de distinções recentes do Nobel da Paz que têm procurado reconhecer a defesa da liberdade e da democracia em contextos autoritários. Em 2024, o Parlamento Europeu já lhe havia atribuído, juntamente com Edmundo González Urrutia, o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, distinção recordada pelo jornal The Guardian como um dos mais importantes prémios europeus de direitos humanos. Para muitos analistas, a decisão do Comité Norueguês poderá aumentar a pressão internacional sobre o governo de Nicolás Maduro e reforçar o apoio diplomático à oposição venezuelana.
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