Terrer: A História de um Pássaro

PorJoão Chantre,19 out 2012 23:00

"O avião é rápido, inquietante, belo, quase irreal".

Dédalo e o seu filho Ícaro, heróis da mitologia grega, já tinham um sonho - ultrapassar as fronteiras do "firmamento" seguindo rumo ao sol. Voar, voar bem alto como um pássaro, foi sempre o grande desafio do Homem.

 

Reza a história que foi o século XX, o século das primeiras tentativas do Homem voar...A inspiração foi sempre imitar o voo das aves, construíam asas e atiravam-se de grandes torres e montanhas imponentes. Também reza a lenda que na ilha das montanhas, mais precisamente na zona de Janela, sempre houve a tendência de voar à noite...O resultado, previsivelmente, era desastroso. E coincidência ou não e por incrível que pareça, o primeiro piloto dos ares proveniente da ilha das montanhas é originário do Lombo Branco...

Ao contrário dos balões, que se sustentavam na atmosfera por causa da menor densidade do gás no seu interior, os aviões precisavam de um meio mecânico de propulsão para fornecer a sustentação necessária para que se elevassem na atmosfera. Existem relatos que indicam que poderá ter sido os irmãos Wright e/ou o brasileiro Santos Dumont, em 1906, na presença de muitas testemunhas, quem primeiro demonstrou a viabilização do voo mais pesado que o ar, embora essa marca na história da aviação seja disputada por vários países. Entre 1907 a 1910, Santos Dumont realizou inúmeros voos com o monoplano Demoiselle. Santos Dumont é considerado o Patrono da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira, onde recebeu a patente de Marechal do Ar. Faleceu em São Paulo, em 1932.

É a partir da Segunda Guerra Mundial que o transporte aéreo internacional se massifica, com a introdução de aviões cada vez maiores e mais velozes.

                                                                               

Os gigantes do Ar

 

Com a ajuda de avançadas tecnologias, homens audaciosos foram capazes de pouco a pouco ver o fruto da sua audácia e capacidade sonhadora. E por isso pode-se concluir que quando o Homem sonhou, não tinha noção do limite do seu sonho. Está provado que o Homem conseguiu vencer e dominar os espaços, colocar nos ares o meio de transporte, segundo dados estatísticos, mais seguro deste planeta. Actualmente, graças à tecnologia, o Homem conseguiu construir os mais sofisticados aviões, cujas grandes referências são provenientes dos dois grandes gigantes mundiais da aviação, a Boeing americana e a Air Bus europeia. As mais recentes inovações recaem sobre os modelos B787 Dreamliner e o gigante A380 da Airbus. O B787 Dreamliner é, neste momento, considerado o avião comercial mais recente e mais económico construído pela Boeing e tem uma capacidade para transpor¬tar entre 200 a 350 passageiros, dependendo do modelo e da configuração do interior da aeronave. Em contrapartida, a A380 é o maior avião da aviação comercial de passageiros da história, capaz de transportar entre 555 e 845 passageiros. Demorou 10 anos a ser construído, custou cerca de 12 bilhões de euros.

                                                                     

O pássaro e o seu Ninho

 

Em Cabo Verde também sem¬pre houve este sonho. Em Março de 1955, um bi-plano com dois motores, o "Havinlland Dragon Rapid", fez o primeiro percurso Praia/Sal/S. Vicente/Praia. Na origem desta grande iniciativa estava a criação do primeiro Aero Club de Cabo Verde. E assim o país lançou-se na mais complexa, luxuosa e cara indústria do mundo, uma preciosidade destes dez "grãozinhos di terra espalhados no meio do Atlântico" com 4 etapas de referência e visibilidade/credibilidade internacional a saber:

1. Em Março de 1955 é inaugurado o primeiro voo Praia/Sal/S. Vicente/Praia.

2. Em 27 de Dezembro de 1958 é criada a TACV - Transportes Aéreos de Cabo Verde

3. Em 1996, dá-se a primeira revolução da aviação civil em Cabo Verde: a introdução na frota da TACV de um jacto, B757-200, com uma capacidade para 185 passageiros, com uma configuração, 20 lugares na classe Conforte (uma espécie de executiva) e 165 na classe Económica.

4. Em Julho de 2004, dá-se a segunda revolução com a certificação ETOPS da TACV (operações prolongadas em aeronaves de dois motores...), uma das mais prestigiadas qualificações da indústria aeronáutica. Assim, a transportadora Nacional, ganhou qualificação para atravessar o Atlântico com aeronaves próprias. Foi uma janela de opor-tunidades e credibilidade internacional que permitiu ao arquipélago aproximar-se da sua 11ª ilha, a diáspora cabo-verdiana. Um marco importante na história da aviação civil cabo-verdiana. A história repete-se....

5. A terceira revolução que esteve para acontecer e não aconteceu: se em 2004 o sonho de voar continuasse a sua progressão normal, como previsto pelos especialistas do sector, e caso houvesse mais audácia dos decisores, a companhia de bandeira teria encomendado um 787 Dreamliner, nessa altura, mesmo com algum atraso na entrega, eventualmente, o pássaro poderia pisar o solo destas ilhas entre 2013 e 2014. Desta vez, a audácia crioula não funcionou...As consequências da indecisão só ao futuro pertencem...
Em suma, estamos perante o maior desafio destas ilhas: preservar o pássaro mais precioso das nossas ilhas e da região que o homem cabo-verdiano criou há 54 anos... só depende de nós...Cabe ao homem novo a capacidade/incapacidade de melhorar/deteriorar o que foi sonhado, criado e mantido até hoje. Sequestrado durante os últimos quatro anos, resgatado há seis meses, e actualmente no meio do atlântico, numa zona de turbulência muito perigosa, espera-se uma aterragem de emergência a qualquer momen¬to. Existe uma única solução, cabe aos engenheiros, técnicos, pilotos/do ar e de terra salvar o pássaro. Não criemos ilusões...É dever dos mais novos preservar o que herdámos, melhorá-lo, mas nunca deteriorá-lo...a segunda opção é a alienação...desfaz-se enquanto é tempo...

                                                              

A Globalização e o Direito Aéreo

 

A aviação rege-se pelas normas do direito público/privado internacional, tem uma linguagem universal e comunica-se em Inglês. Numa abordagem teórica, ainda que simplificada, pode-se dizer que a aviação abriu as portas da globalização, libertou os céus deste mundo e uniu os povos (as liberdades do ar, 1ª à 6ª liberdades), mas pre-servando a soberania completa e exclusiva dos Estados sobre o espaço aéreo que cobre o res¬pectivo território (Conferência de Paris de 1910). E por isso, jamais o mundo será mundo, sem a aviação. Depende da continuação do sonho do Homem e da dimensão da tecnologia para que seja confirmada quando será possível a volta ao mundo em "80 minutos" (Júlio Verne, em 1873). Assim sendo, voltemos à nossa velha questão: "the thinkers, the makers, the sellers" são todos partes do sistema.

A teoria é a primeira fase do sistema e a não aplicação da mesma acarreta custos finan¬ceiros e riscos elevadíssimos. Na indústria da aviação, as boas práticas começam com a teoria. A prática sem a criatividade e flexibilidade doseada e a prática sem a capacidade de decisão em tempo oportuno é uma pura ilusão e acarreta custos e riscos financeiros capazes de destruir qualquer economia. Não basta acreditar nos "pseudos-práticos", artificialmente/virtualmente fabricados para legitimarem a destruição do pássaro. Salvem o pássaro...Salvar o pássaro significa salvar o ninho do pássaro!!!

Na verdade, acreditamos que, no futuro, um dos requisitos fundamentais dos Gestores será a seriedade/honestidade (empresa/país) e um segundo requisito, também de capital importância, será a influência da Cultura na Gestão. Hoje, vigora-se o princípio da Globalização e navega-se nos mares e céus deste planeta via mundo das novas tecnologias e das línguas. It's time.

 

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Autoria:João Chantre,19 out 2012 23:00

Editado porAlexis Cardoso  em  15 jan 2013 23:15

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