Por um Cabo Verde ‘Verde’ num Mundo em Transformação: uma Agenda de Desen-volvimento Sustentável (IV)

PorJosé Fortes,12 out 2013 0:04

Como observámos nos artigos precedentes, apesar de vários protocolos e tratados internacionais o panorama da emissão de Gases de Estufa não tem variado: aumenta inexoravelmente a concentração do carbono na atmosfera. Os cenários climáticos, tendo em conta as tendências actuais, apontam para o Aquecimento Global do planeta e, como uma consequência, o aumento do nível da superfície do mar, o que anuncia uma crise de dimensão global que ameaça países costeiros e as suas populações. O Painel do IPCC_2013 (Painel Internacional para as Mudanças Climática) reunido em Estocolmo acaba de publicar (23 de Setembro de 2013) as suas conclusões que não deixam dúvidas, sendo peremptório em afirmar que o aquecimento global é inequívoco (1). A actividade humana actual resulta inequivocamente no aumento da pressão sobre os ecossistemas terrestres e aquáticos, ao rejeitar para o meio ambiente substâncias poluentes ou tóxicas. Acumulam-se assim evidências inequívocas de mudanças importantes nesses ecossistemas pondo em riscos a sobrevivência de várias espécies. Este é o panorama do Planeta do início do século XXI, um mundo em plena crise financeira e civilizacional.

 

  Os países mais desenvolvidos têm implementado medidas para mitigar os problemas actuais e futuros. A União Europeia pretende, até 2050, reduzir entre 60% e 80% as emissões de gases estufa, aumentar em 30% a eficiência energética, e aumentar para 60% a percentagem de energias renováveis, face ao consumo energético total da EU, o que corresponde a uma nova agenda energética para o Séc. XXI. Por outro lado, o IPCC_2007 propõe algumas soluções para o combate e a adaptação ao aquecimento global o que não constitui mais do que uma Agenda Verde e de Desenvolvimento Sustentável (2a,2b,2c):

-Melhorar o rendimento dos sistemas de captação, distribuição e consumo de água, incluindo uso agro-pecuário, industrial e doméstico.

-Melhorar as técnicas de manejo da terra, incluindo a pecuária, a agricultura, a silvicultura, protegendo o solo contra a erosão, degradação e poluição.

-Definir planos de contenção da subida do mar como fixação de dunas, reflorestamento costeiro, construção de represas e outras estruturas.

-Modificar hábitos de produção e consumo de bens e serviços e de descarte de resíduos para um modelo sustentável. Aumentar os incentivos financeiros para projetos de crescimento sustentável. Dar educação qualificada à população, incluindo, a educação ambiental, fomentando a formação de lideranças.

-Redesenhar políticas públicas com maior atenção às necessidades reais do país e das populações, prevendo acções integradas numa perspectivas de longo prazo. Incrementar a cooperação internacional, a pesquisa e a divulgação livre do conhecimento. Criar uma política transnacional efectiva sobre o aquecimento. Aproveitar conhecimentos de comunidades indígenas e tradicionais.

-Adaptar os sistemas de transportes a temperaturas mais elevadas Reforçar as infraestruturas de produção e distribuição de energia e de telecomunicações e usar preferencialmente energias renováveis e diversificadas. Reduzir o uso de combustíveis fósseis.

-Reforçar as infraestruturas de produção e distribuição de energia e de telecomunicações e usar preferencialmente energias renováveis e diversificadas. Reduzir o uso de combustíveis fósseis.

-Mitigar os efeitos do provável crescimento de doenças infecciosas e epidemias; melhorar o atendimento médico e as infraestruturas sanitárias urbanas. Organizar planos de assistência social e de defesa civil para situações de desastres ambientais e emergência coletivas.

-Diversificar o turismo.

O objectivo deste trabalho consiste em desenvolver uma reflexão global sobre a problemática do desenvolvimento de Cabo Verde na perspectiva de um mundo em mudanças climáticas e em transição ecológica, tecnológica e energética. Tenho defendido a necessidade de uma governação ecológica para Cabo Verde, nos valores da social-democracia moderna: não se trata de um governo de hippies, mas sim de uma governação com uma agenda de desenvolvimento sustentável, integrando soluções mais amigas do ambiente no seu todo (incluindo o social, o económico e o político), e que tenha em conta as vulnerabilidades e os condicionalismos do país. Uma governação de rosto humano e de justiça social, que valorize a justa repartição das riquezas (regionais e nacionais), que defenda a resolução dos conflitos através do diálogo e da concertação e não através de buldozers ou da força bruta. Cabo Verde é um país que se confrontou desde a sua formação com problemas climáticos e de sustentabilidade: foi sempre um arquipélago assolado por secas cíclicas, fomes e emigração. Hoje, país independente, está à procura do seu modelo de desenvolvimento, num mundo globalizado e em transformação, onde para além da problemática das Mudanças Climáticas acresce uma crise de civilização, que decorre da Mundialização, e que conjuga à escala planetária várias ameaças: competição geostratégica, (política, económica e financeira), expeculação e crimes financeiros, corrupção, migrações descontroladas, terrorismo fundamentalista etc. Não podendo Cabo Verde, pela sua dimensão e importância, participar activamente na solução dos problemas globais do planeta, pode contribuir a nível nacional com soluções tendentes a mitigar os feitos negativos dessas mudanças no país. 

 

Aquecimento Global Eventos Extremos e Conforto Urbano

O aquecimento global reflecte-se no aumento da temperatura ambiente global. Sendo Cabo Verde um país quente, a questão do conforto térmico deve ser posta em cima da mesa, no sentido de melhorar o isolamento térmico das novas habitações. Convém realçar que as casas tradicionais cabo-verdianas eram construídas com materiais locais (pedras, barro, pozolana) e eram por isso mais económicas, pois utilizavam a matéria-prima local, e amigas do ambiente. O betão tem um poder calórico maior que a pedra. Por outro lado uma casa coberta de telhas é mais confortável do que uma coberta com uma simples placa de betão, e que estará exposta à natureza e ao sol, constituindo assim num poderoso re-emissor de calor. O urbanismo moderno em geral preocupa-se muito pouco com o conforto térmico das cidades: torres altas, casas apinhadas, cidades com muito betão e alcatrão são propícias ao fenómeno de Ilha de Calor (3), ao aprisionar o calor, o que reforçará o efeito do Aquecimento Global. As áreas urbanas apresentam características particulares devido à especificidade dos materiais utilizados nas construções urbanas que alteram do albedo solar (reflexão da radiação solar pelo solo) absorvem e emitem para o espaço muito mais radiação solar que o ambiente: asfalto, ruas alcatroadas, concreto, solos desprovidos de vegetação, impermeabilização da superfície do solo. Para além disso, estes materiais têm propriedades térmicas (absorção de calor, sua condução, sua emissão) diferentes dos materiais naturais, tais como a pedra, de tal modo que, em geral, incrementam a temperatura do solo de vários graus em climas quentes e no Verão (3,4,5,6). As ilhas de calor agravam as ondas de calor (canículas) com consequências sobre o aumento da mortalidade de idosos e doentes que apresentem redução na sua capacidade de termorregulação corpórea e de percepção da necessidade corpórea de hidratação (idosos e pacientes com doenças mentais ou de mobilidade). No quadro da nova política de Transição Energética (ver mais a frente), a França lançou um vasto programa de renovação térmica no sentido de isolar termicamente as casas aumentando o seu conforto interno e traduzindo numa poupança futura da factura energética.

 

*(Professor no Grupo de Meteorologia, Climatologia e Oceanografia Física Centro de Estudo do Ambiente e do Mar-Universidade de Aveiro).

 

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Autoria:José Fortes,12 out 2013 0:04

Editado porRendy Santos  em  14 out 2013 9:11

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