Visitei a Brava nos dias 8 e 9 de Março e vivi um sentimento de angústia pelo estado atual da ilha, mas ao mesmo tempo um sentimento de que estaremos em Cabo Verde perante um caso único onde um conjunto de ingredientes podem ser usados de forma estratégica para, em pouco tempo, mudar a situação atual de descrença e de fatalidade perante a pobreza. Esses ingredientes são a própria pequenez da Ilha (a mais pequena de Cabo Verde), a suas gentes (cerca de 7.000 habitantes), a sua importante diáspora e os seus patrimónios natural e cultural.
Brava está à mercê de uma armadilha que constrange o seu desenvolvimento. A ilha tem 6.895 habitantes, uma incidência da pobreza de 43% (superior à média nacional) e elevada taxa de desemprego. Isto significa que o mercado é muito pequeno e de muito baixo rendimento, o que torna a viabilidade de qualquer investimento privado muito problemático.
Não havendo investimentos e empreendimentos privados, o emprego fica dependente da administração pública e das obras do Estado. Sem emprego, não há geração de rendimentos capazes de criar ciclos virtuosos de consumo e de produção. É evidente que no caso da Brava, como de outras ilhas, a remessa dos emigrantes acaba por compensar, em parte, o défice de recursos gerados na ilha, mas não será daí que virá a sustentabilidade da Ilha.
A acompanhar os efeitos económicos e sociais e, como causa e consequência, a descrença quando se instala, torna a armadilha muito mais difícil de ultrapassar.
A saída da armadilha passa por criar mercado na Brava. O mercado aumentará, em quantidade e em rendimento, através do turismo proveniente de visitantes de outros países, do turismo interno e do turismo proveniente da importante diáspora bravense essencialmente concentrada nos EUA.
Brava tem um património único: Eugénio Tavares! Eugénio Tavares é um património a partir do qual poderá ser desenvolvido um conceito com alto valor económico para a ilha, através do Turismo Cultural.
O desafio é criar um conceito de ilha tendo como ponto central o seu património maior, Eugénio Tavares; promover e internacionalizar essa marca de turismo cultural; estruturar e ordenar Nova Sintra em função desse património, através de requalificação urbana, reabilitação de habitaçoes e espaços públicos; infra-estruturas culturais como museus, galerias de arte, monumentos, casas de música; pontos de venda de comércio e de artesanato; circuitos e roteiros turísticos organizados; gastronomia, animação e eventos culturais devidamente enquadrados no conceito; jovens formados, com domínio de línguas, para guias turísticos e prestação de serviços diversos na hotelaria, restauração, animação.
O motivo central para conhecer, visitar e regressar à Brava estará fortemente ligado ao conceito de Ilha-Cultura, a Ilha de Eugénio Tavares. Esta é uma motivação válida para estrangeiros, para nacionais residentes noutras ilhas e para os nossos emigrantes. É dar uma centralidade à Ilha, centralidade essa que, a partir de Nova Sintra, integrará as diversas localidades com atrativos turísticos naturais que abundam pela Ilha. Brava deverá ser espaço para viver, respirar e apreciar a Cultura em contacto com a natureza, outra vertente a cuidar e valorizar.
O aumento do mercado, vindo de fora para dentro, aumentará o consumo e o dinheiro a circular na ilha que, por sua vez, viabilizará investimentos e empreendimentos em diversos domínios como hotelaria, restauração, comércio, transportes, animação, serviços culturais especializados e aumentará rendimento na agricultura e na pesca. O princípio é simples: ninguém investe ou produz se não existir muitos com capacidade de comprar. Esse ciclo de diversas actividades e sectores a se alimentarem uns aos outros, é que gera emprego.
É evidente que esses efeitos não ser produzirão todos de uma vez e com a mesma velocidade e intensidade. Por isso, é que é necessário existir uma estratégia, traçar um caminho, partilhá-lo, transformá-lo numa missão e percorrê-lo com convicção. O contrário, não levará a bom porto e conduzirá à ineficiência na afectação e aplicação de recursos.
O ciclo vicioso da pobreza de uma ilha pequena e com pouca população, de baixo rendimento, tem que ser quebrado pela via da procura e pelo desempenho de uma função externa que faça a Ilha ligar-se ao resto do País e ao Mundo, e neste caso, com a sua importante diáspora. A política e o sistema de transportes é apenas uma parcela de uma equação mais complexa que terá que conduzir à criação e ao desenvolvimento de uma economia na Ilha.