Saber o que é o professor

PorExpresso das Ilhas,3 mai 2015 0:00

1. Comemorou-se na semana passada, mais precisamente, no dia 23 de Abril p.p., o Dia do professor cabo-verdiano. Escrevo estas linhas uma semana depois desta efeméride, propositadamente, para observar atentamente às celebrações que ocorreram por todo o território. Não gostaria que fossem foguetes de luz que após as chamas apagarem só resta correr atrás para apanhar a cana. É necessária mais reflexão, mais inovação, mais criatividade e mais professor para melhor se justificar a simbólica data. Seja como for: Viva o Dia do professor cabo-verdiano!

Denotativamente, o professor é aquele que ensina; aquele que é versado em qualquer ramo de ciência ou arte: aqui, ensinar significa instruir, leccionar, admoestar, repreender, corrigir, até castigar.

É lugar-comum afirmar-se que a família é a célula básica da sociedade. Esta não poderá sobreviver sem instituição social que é a família, sendo ela anterior ao próprio Estado. É na família que apareceram os primeiros professores: o pai e a mãe. O pai e a mãe são os primeiros professores que houve no mundo. Acontece que a família, enquanto núcleo de continuidade e equilíbrio da sociedade, ressente-se e vê ameaçado o seu tradicional papel no seio dessa mesma sociedade. Mas acredito que a família não está em perigo. Está apenas num processo transformativo de readaptação a um mundo cada vez mais complexo que lhe impõe um novo estilo de vida, que lhe exige novas formas de actividade social, ou seja, um novo modo de participar e socializar e que lhe apresenta novos desafios, presentes e futuros.

                                             

   A profissão do professor é um sacerdócio

2. O professor, enquanto profissão, só entra em acção quando a criança já tem sensibilidade moral e psicológica delineada. Primeiro na Escola Primária e muito mais tarde em Liceu e só depois na Universidade. O professor é, pois, a profissão mais antiga no mundo e é imprescindível a qualquer sociedade. A profissão do professor é um sacerdócio!

Verdade seja dita: os primórdios da história da humanidade mostram-nos, indesmentivelmente, de que o professor foi e é de uma nobreza extraordinária. A sua importância sobreleva todas as épocas, todas as sociedades, circunstâncias e argumentos que se possam esgrimir em favor deste ou aquele perfil do professor.

Temos que ser prudentes para aceitarmos o princípio de que o que hoje se fala deste ou daquele professor não passa de meras opiniões, infundadas, valores transitórios, e infinitamente discutíveis, uma vez que cada geração tem o professor que merece, o professor de que é digna ou que sente necessidade. Daí ser inútil impor este ou aquele cânone como modelo evangelizador.

A influência da acção do professor na vida social, moral, cultural, político, etc. é de relevância maior, pois, como já disse e vale a pena repetir, ele ajuda, guia, educa, forma homens sadios e consequentemente civilizados. O papel do professor deve ser altamente valorizado pela sociedade, pois a sua actividade tem um valor altamente humano e humanizante.

 

Zaratrusta

Nesse 23 de Abril de 2015, a melhor lição deve ser do seu exemplo, de ponderação, respeito e justiça. Foi assim com os professores de toda a época histórica, que deixaram o seu nome indelével no exercício do magistério. Não vou citar nomes nenhuns para não deixar de fora tantos outros. Mas não resisto à tentação de referir a alguns como Zaratrusta, Buda, Confúcio, Jesus Cristo, Maomé, Sócrates, Platão para nos situarmos em Cabo Verde e na época contemporânea: Baltasar Lopes da Silva, Aurélio Gonçalves e mais hodiernamente: Belmiro Ramos, Henrique Oliveira, Ondina Ferreira, Alcy Matos, Amália Mello, Elisabeth Reis, Manuela Silva, Frutuoso Carvalho, Nézi Brito, José Luís Craveiro, Dionísio Pereira, Carla Marques, Daniel Araújo… e tantos outros, anónimos e conhecidos, que deram muito de si para o desenvolvimento desta sociedade, deste pequeno e grande país.

Ainda, hoje, apesar de muitas vicissitudes e de muito o que se tem dito negativamente sobre o professor, este continua a ser um autêntico evangelho vivo. Que calcorrearam cutelos, montes e vales, achadas e fajãs, aldeias, vilas e cidades com o nobre objectivo de ajudar os outros a se libertarem das amarras do analfabetismo e da ignorância que grassavam no nosso país e aqui e agora ganha toda a actualidade a filosofia do intelectual cubano José Martí, de quem tenho muito apreço e admiração, que nos persuade a «ser culto para ser libré».Isto, não obstante às inúmeras reivindicações ainda não satisfeitas que provocam frustrações, desânimos e desmotivações, reflectindo, obviamente, na baixa qualidade do processo ensino-aprendizagem. Pelo seu labor e espírito de sacrifício, o professor deve merecer, humanamente, um pouco de louvor, respeito e consideração por parte de toda a sociedade.

Se é verdade tudo isto que acabo de aflorar, não é menos verdade e aqui há que dar a «César o que é de César e a Deus o que é de Deus» É triste constatar e admitir que há «professores» que não dignificam a classe docente; que pode ser elemento perverso e corrosivo do próprio meio onde se encontra inserido. Digo isto sem arrogância mas também sem pejo nenhum de que existem certos confrades do ofício e, não deixa de ser preocupante, a sua postura social, ou seja, o seu comportamento desregrado e leviano, a sua falta de profissionalismo e negligência na superação profissional e intelectual e constituem verdadeiros atentados à classe docente. O que, a meu ver, tem causado às nossas crianças, adolescentes e juventude transtornos graves e avultados prejuízos no processo da formação da sua personalidade. Uma vez mais sou obrigado a concordar com aqueles que advogam que uns são professores e outros estão professores. Aqui, os sindicatos que dizem representativos da classe docente fecham os olhos ou fingem que não vêem. O professor tem que ser professor para honrar o seu estatuto. O professor faz-se com muito esforço e aperfeiçoamento ininterruptamente. É único profissional que atende, simultaneamente, mais de 30, 40 ou pessoas.

Conviria também que o Ministério da Educação e Desporto apostasse mais e dedicasse mais atenção à formação docente, de uma forma permanente, quer através de reciclagens, seminários, colóquios, mesas redondas, ateliês, etc. Sendo certo que a formação representa custos elevados mas um país que não quer perecer e o seu sentido mantém viril e constante, a fortuna que hoje se gasta com absolutas necessidades formativas é sempre dinheiro investido que dá lucros reais! É dinheiro que cria riqueza autêntica e duradoiro. Contribuindo assim estaremos, de facto, a contribuir e a servir da melhor forma a Nação que nos une e tanto nos orgulha.

 

Processo educativo e formativo

Na era em que vivemos, as novas tecnologias disponibilizam um manancial e gigantescos armazéns de informação, que proporcionam meios ultra – rápidos d na valorização dos seus métodos de ensino e no rendimento das suas aulas, não se substituirão ao papel e à importância do educador. Este, pelo contrário, contará cada vez mais com essas ferramentas como novos e poderosos aliados na valorização dos seus métodos de ensino e no rendimento das suas aulas. As novas tecnologias não se propõem, nem o poderiam fazer, eliminar ou minimizar o papel do professor, que é fundamental como formador e transmissor de conhecimentos. Mais: o professor será sempre o elo de ligação afectiva, um interlocutor privilegiado, imprescindível no processo educativo e formativo do aluno. Com o apoio desses sofisticados meios, poder-se-á, por um lado, melhorar à gestão do pessoal docente não só com o objectivo de garantir uma excelente utilização dos recursos humanos e, por outro, vai na linha da preocupação constante da melhoria do rendimento académico e a qualidade da educação que ainda não satisfazem o standard desejável.

Antes de terminar, quero deixar bem claro a minha percepção e respeito para os que têm opiniões diferentes. Com humildade e sentido de responsabilidade, estarei aberto a qualquer convite sobre esta matéria que muito me fascina e me apaixona.

Termino mesmo, dizendo que há um enorme caminho a percorrer para que a classe docente reconquiste o prestígio, o respeito e a dignidade que merece. Do meu ponto de vista, começa a desabrochar a consciência de si e como aprendi com o incompreendido, injustiçado e mal -tratado Karl Marx «falta a consciência de si e para si». Vou, desde já, avisando: não sou da esquerda nem da direita. Sou liberal.

Se me é permitido, aproveito a ocasião para enviar um forte abraço a todos os colegas de profissão de Santo Antão à Brava e assegurar-lhes que juntos vamos construir o futuro!

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Autoria:Expresso das Ilhas,3 mai 2015 0:00

Editado porRendy Santos  em  30 abr 2015 16:16

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