“Se quiser ter prosperidade por um ano, cultive grãos. Por dez cultive árvores. Mas ter sucesso por 100 anos cultive gente. – Confúcio
A Diplomacia Cabo-verdiana
É sobejamente conhecida o sucesso da diplomacia cabo-verdiana no mundo. Arrancamos o processo cativando o mundo para a nossa causa. Em 1975, como país independente, via cooperação internacional, provamos ao mundo que precisávamos ser ajudados, apelamos aos amigos e eles nos acudiram. Na nossa política de expansão para o mundo, o país implantou as Embaixadas/território nacional além fronteiras em função da importância estratégica da nossa política diplomática, em lugares estratégicos, nas cidades mais caras do mundo, tido como um grande investimento patrimonial e diplomático. Com essas janelas abertas no mundo, as ajudas foram consolidando. Ajudas alimentares para a sobrevivência das nossas gentes, os projectos sectoriais, as portas das universidades do mundo foram abertas aos estudantes cabo-verdianos e fomos recebidos de braços abertos. A diáspora cabo-verdiana sentiu-se amparada, reforçou a ajuda familiar e assim começamos a plantar as árvores de uma floresta densa e a pensar nos grandes desafios do futuro e no homem moderno. Como alunos fomos brilhantes, a matéria foi muito bem assimilada e facilmente provamos aos nossos parceiros que as suas ajudas eram bem recebidas e minuciosamente aplicadas. Esta postura fez o país ganhar credibilidade no mundo.
A Diplomacia Clássica
Cabo Verde foi um excelente aluno na Diplomacia Clássica. Soube contornar as correntes quentes e frias da guerra fria e criou-se praticamente isolado dos seus irmãos dos PALOP e Timor-Leste, mergulhados em guerras internas. Foram quase três décadas de auto-destruição e de tempo perdido. Contudo, fomos crescendo sozinhos mas sempre protegidos pelos pais adoptivos e os bons amigos que conseguimos cativar. Nada nos faltou, deram-nos tudo. Portugal, a potência achadora, sempre esteve do nosso lado e sempre nos entendeu. Este é o reconhecimento que devemos a Lisboa, a cidade mais cantada nas mornas e coladeiras destas ilhas. A nossa primeira porta para o exterior, a porta dos nossos sonhos já que somos ilhéus e precisamos respirar o ar do continente, e continente no Colombo, onde transportamos de volta toda a ajuda orçamental injectada nas ilhas. Um dia quando for quantificado, passaremos a conhecer o preço dos nossos sonhos.
A Diplomacia Criativa e Económica
Em boa hora, o Muro de Berlim desmoronou-se, as correntes frias e quentes misturaram-se, os pássaros gigantes passaram a cruzar os céus deste mundo e encurtaram as distâncias entre os povos. O sistema financeiro americano criou o dinheiro plástico, o turismo explodiu, as portas de Zhurai e Shenhen no Sul da China abriram-se.
Este ano estima-se que 100 milhões de chineses viajarão pelo mundo e gastarão em média sete mil USD por cabeça. É este o mundo moderno, o chamado mundo global, cujos passaportes mais valiosos para uma boa circulação são valências linguísticas, as TIC e o respeito e a compreensão para a cultura alheia. O mundo novo será um mundo mestiço. Afinal somos todos iguais, apenas somos guiados por culturas diferentes.
A Nossa Diplomacia com a Europa
A maioria dos países europeus sempre apoiou Cabo Verde na sua expansão/conquista diplomática. Primeiro por via bilateral e mais recentemente pelas conquistas multilateraais. Seria um grande erro Cabo Verde fechar-se num único modelo. Ou seja, no modelo de acordos multilaterais em detrimento de acordos bilaterais. Não é possível conceber Praia a falar com Lisboa, via voz da União Europeia, em outra língua que não seja a língua de Camões. A fotografia do Grão-Duque de Luxemburgo encontrada na Ilha das Montanhas quando este tinha apenas dez anos, e mostrado ao Monarca aquando da sua última visita à ilha, prova a longa e amorosa Diplomacia que existe entre estas ilhas e um país tão pequeno mas com uma praça financeira expressiva e muito competitivo no mundo financeiro. Nem tão pouco é possível ver a Cidade das Luzes a dialogar com a Praia Maria via a porta da União Europeia sobretudo num momento em que tudo indica chegará um Embaixador franco-luso. Transformar a cooperação bilateral numa cooperação multilateral, via voz da União Europeia, seria uma grande derrota para Cabo Verde.
O paradoxo da diplomacia africana
Temos que reconhecer: esta estrada não foi construída, esta degradada. Perdemos as nossas referências e identidade quando fomos forçados a isolar-se da família PALOP - Timor, não por nossa culpa, mas aconteceu. Hoje queremos reconquistar o tempo perdido mas não é recuperável. Teremos que lançar as sementes para uma nova era da Diplomacia, a Diplomacia Económica. Mas sobretudo no lançamento dessa nova estratégia teremos que saber quem somos nós, o que queremos do continente negro e até onde conseguiremos chegar. Teremos que saber o que queremos da CEDEAO/União Africana. Até agora as relações comerciais e culturais com os países da CEDEAO são praticamente inexistentes e se não existem relações comerciais e culturais, fica mais difícil a nossa penetração.
Não basta ser membro de pleno direito da CEDEAO e usufruirmos apenas do estatuto da livre circulação que até agora não conseguimos equacionar. Devemos, nesse caso, apostar numa Diplomacia Económica ousada e ajustada aos novos tempos. Não conseguimos descolar e quem não descola não consegue atingir a velocidade de cruzeiro. O nosso grande erro é pensar o país em função dos ciclos eleitorais. Já é tempo de sabermos o que queremos da CEDEAO/União Africana e como lançar as bases para a construção dessa nova frente diplomática.
A Frente Diplomática
Tudo muito bem pensado, o Palácio da ASA tem ganhos na Diplomacia clássica, pouca criatividade na Diplomacia Económica e Cultural. A CV Investimentos perdeu-se no seu percurso, burocratizou-se demasiado, perdeu tempo e agora apanhou vento de frente. A transportadora nacional TACV uma das mais importantes frentes da Diplomacia Económica do país foi impedida de desempenhar o seu papel por falta de visão. A trasportadora nacional tem seis Delegações/Embaixadas Económicas nos três continentes deste planeta (França, Holanda, Itália, Portugal, Senegal e USA). Não faz parte de uma mente brilhante pensar que as seis Delegações da companhia nacional existem apenas para emitir bilhetes de passagens. Errado. Tudo foi muito bem pensado para exercer a Diplomacia Económica na verdadeira acepção da palavra. Foi a companhia nacional que durante muitos anos assegurou a promoção das ilhas fora do país, foi a companhia nacional quem tinha o contacto directo e permanente com os operadores turísticos, com toda a comunicação social especializada nos países emissores de turismo, foi a companhia nacional que estreitou os primeiros contactos com os investidores à procura do nosso destino como paraíso de investimentos, foi a companhia nacional quem mais conhecia as necessidades e desejos da diáspora. Uma boa Diplomacia Económica faz-se com uma boa equipa, unindo os esforços e criando sinergias, o qual estamos a desaprender a fazer. Bons Diplomatas conquistam o seu espaço com o seu perfil, a sua ousadia, o seu sentido de oportunidade, cativando as relações humanas, com fortes laços de amizade, paciência, persistência, e que ponham a bandeira do país acima dos interesses individuais. Estamos a perder esta cultura…mas ainda vamos a tempo.
Em suma, precisamos mudar de paradigma, oxigenar Cabo Verde e tornar as ilhas um país verde, amigo da natureza e do bem-estar das pessoas. “Quanto mais se fala, mais se pensa”. It´s time..