O corredor aéreo

PorExpresso das Ilhas,23 ago 2015 6:00

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“Saber o que é correcto e não o fazer é falta de coragem” Confúcio.

Um mundo complexo, caro e luxuoso

Um dia viajei ao lado de um dos governantes destas ilhas e rematou: “Diga-me por favor o que entende por aviação civil”: ‘é o que esta a ver, estamos a aproximadamente 16 mil pés de altitude e nada pode falhar cá em cima…por isso a aviação é complexa, caríssima e luxuosa. Morre mais gente no bloco operatório do que no cockpit, por uma simples razão: no bloco operatório o “check list” é menos rigoroso do que no cockpit. Enquanto no primeiro a decisão cabe ao cirurgião, no segundo, as decisões são tomadas pela equipa, a tripulação’.

Mas mesmo assim, ao vermos o fragata, sonhamos um dia ter a nossa aviação: tivemos  coragem de a montar, de fazê-la crescer e jamais podemos dar-nos ao luxo de a dizimar. Um corredor que durou sessenta anos a ser construída (1955-2015).

Três anos mais tarde, no mesmo percurso, sobrevoando o mesmo espaço aéreo, à mesma altitude, entre a ilha do Sal e a cidade da Praia, vinha sentado com um colega do mesmo ramo e por paixão e inerência de profissão durante toda a viagem só se falou da indústria. Paixão e defeito de profissão. A personalidade em referência tem uns anitos a mais do que eu neste mundo maravilhoso e mais responsabilidades pelo que era de bom-tom escutá-lo pacientemente. “Efectivamente pouca gente tem a noção do que é fazer aviação civil. As formações são excessivamente caras. Neste momento tenho um técnico em formação em Miami, 21 dias, custa-nos seis mil contos. As minhas engenheiras têm recebido qualificações de alto nível em várias áreas que custam milhões, estão qualificadas a nível internacional. Investimos rios de dinheiro na qualificação do nosso pessoal, mas são constantemente assediadas por propostas milionárias. Perdemos um técnico há dias e estamos em vias de perder outros”.

 

O mundo por cima das nuvens

Competimos com o mundo e as nossas aeronaves estão autorizadas a sobrevoar os céus deste mundo. Isto tem um nome, chama-se credibilidade. Os nossos pilotos só voam com as qualificações internacionais requeridas e por tipo de aeronave. Nunca param de estudar e quem pensa ao contrário, esta equivocado, porque os desafios são constantes. A nossa frota é composta das melhores aeronaves que existem no mercado/mundo, os ATR e os Boeings (737/757). Os nossos engenheiros e técnicos são altamente qualificados, os desafios são grandes e o profissionalismo e a dedicação são grandes, do tamanho do mundo. Quando um dia esperava os meus três voos semanais num espaço de 12 horas entre Roma, Milão e Verona (um mercado que na altura facturávamos 10 milhões de euros/ano), num dia em que o céu destas ilhas foi assombrado por nuvens negras, as nossas aeronaves resolveram a meio caminho, em Las Palmas, dar um sinal de cansaço e pediram descida de emergência para as Ilhas Canárias. Um em primeiro lugar e outro logo a seguir. Depois de 18 horas de intenso trabalho, os primeiros clientes a chegarem no solo italiano remataram: vivemos momentos de apuros mas pela coragem dos vossos técnicos, sentimo-nos orgulhosos da vossa companhia e da coragem da vossa gente.

Consta nos relatos que depois de 15 horas de intenso trabalho, os nossos técnicos foram resgatados tontos e sem energia. E isso deu-nos forças para continuar o trabalho dos heróis do ar, estendido por mais algumas horas, agora com os clientes, os que acabavam de chegar e os que deveriam partir e partiram. Os clientes, seres humanos que nessas ocasiões merecem toda a nossa atenção, informação, carinho, criatividade e sensibilidade de quem esta no comando, sendo as duas últimas variáveis as mais complexas e apreciadas nas faculdades modernas. São estórias de amor vividas intensamente e apaixonadamente no mundo da aviação e que nos marcam por toda vida. A essa dedicação devemos a bandeira das ilhas e o orgulho da nossa gente.

São esses os recursos humanos que temos, e são assediados e procurados em todo o mundo, basta mostrarem disponibilidade: o mundo é deles, eles vêem o mundo de cima para baixa. Só não partem, porque a partida é dolorosa e o Kebra-Kanela, a Laginha e a encantadora praia de Santa Maria não os deixam partir. Contudo, cruzam os céus deste mundo todos os dias.  

 

A nobre profissão do Gestor

Para ser um bom Gestor desta indústria planetária é preciso uma formação académica sólida em Gestão, Economia,  Engenharia Aeronáutica, Engenharia Mecânica e em línguas. Posteriormente deve, no mínimo, durante 10 anos, especializar-se numa das variadíssimas áreas da aviação civil, especialidades que requerem um forte conhecimento teórico e prático. Como valências complementares, todos os recursos humanos desta indústria planetária precisam de uma visão alargada, sensibilidade, rigor, disponibilidade e entrega total. Apesar de estarmos a viver um momento de sequestro/erosão dos quadros, estrategicamente planeado e com grandes falhas na política de recrutamento.         

Felizmente e sobretudo na área técnica temos conseguido um stock mínimo de Recursos Humanos capaz de garantir o padrão, a qualidade e a quantidade requerida pelas normas internacionais.

Ora, há cerca de catorze anos, com excepção de 2003 à 2005, em que a TACV esteve entregue nas mãos de grandes Mestres da indústria, JP & AS & Team, com competência, e integridade moral, o balanço dos restantes anos fica registado por uma vaga de pseudo-gestores, gentes com mente desconfiada, visão daninha, assumindo como autênticos capatazes, e sobretudo pouco humanizados:  valores totalmente incompatíveis com o mundo da aviação civil internacional onde se recomenda mente aberta, valências linguísticas, veia diplomática, visão do mundo, sensibilidade e uma dose bem grande de humanismo.

A filosofia mais nobre desta astúcia tem sido marcada pelo princípio da divisão para reinar. O que é incompatível com as boas práticas da aviação civil internacional, uma indústria que se rege por princípios e normas internacionais.

 

Os aeroportos

A aviação civil comercial acelerou a globalização, facilitou a circulação das pessoas, aproximou culturas diferentes e despoletou uma das indústrias mais rentáveis deste planeta, o Turismo. Os aeroportos fazem parte deste ecossistema e hoje, para além da sua funcionalidade, são considerados autênticas maravilhas do mundo da engenharia, da arquitectura e da chamada arte das mega-infrastruturas nas cidades/países, facilitando a circulação de pessoas, carga e correios e funcionando como autênticos centros de business Internacional onde se vende tudo.

Segundo o “Sky Trax Airports Awards” ,em 2015, o aeroporto de Changi em Singapura é o campeão. Nos grandes aeroportos deste planeta, as receitas não aeronáuticas costumam ultrapassar as receitas aeronáuticas. Nas nossas ilhas, o aeroporto Internacional do Sal, actualmente, o Aeroporto Internacional Amilcar Cabral, o maior aeroporto deste país, com os seus 3.100 metros de pista entrou na história da aviação civil internacional quando foi apontado como o aeroporto de escala no voo inaugural transatlântico Itália, Argentina. Um aeroporto que já funcionou como um grande Hub transatlântico. 

Em suma, quem entra nesta aérea, apaixona-se e estima-a para sempre. Mas quem cai de para quedas e entra como mercenário, invade, inunda e deixa mil pés, as tais pragas daninhas que minam o terreno e que fazem estragos que perduram por décadas. Só esperamos que estes estragos não venham a transformar-se  num autêntico tsunami financeiro. “E uma asa voa”…It´s time…

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Autoria:Expresso das Ilhas,23 ago 2015 6:00

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  27 ago 2015 9:25

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